30.11.13

Poesia



eu tenho ódio.

ódio de ter medo,
ódio das minhas falhas,
ódio.

ódio de estar errado,
e persistir no erro,
ódio.

ódio das minhas mágoas,
de magoar alguém.
ódio de não ser digno
de se querer bem.
ódio de ter medo.

medo de ter ódio.

ou simplesmente ódio de mim mesmo.

de tudo o que não quero ser,
e de tudo o que eu não sou.




ódio.

fps, 04/12/2010, 22:37

27.11.13

Para pensar

"Com que idade um homem se deve casar? ''Não quando ainda é jovem, nunca quando já é velho''."
Diógenes

O Lulu e a mania atual de reduzir tudo à lógica

Lulu, o programa do momento para a mulherada que quer dar nota aos homens, virou uma loucura. 

Todo mundo querendo qualificar os machos de plantão, e justificando-se com a "tradicional opressão" que as mulheres sempre receberam da sociedade. Esse que vos fala, inclusive, discutiu asperamente com uma feminista recentemente a respeito do dito cujo, só para depois perceber que tinha feito uma tremenda bobagem, dessas que, espero, não farei de novo tão cedo.

E tudo porque é uma imensa brincadeira. Que só quando levada a sério mostrará sua verdadeira face.

A da sandice, disfarçada de lógica.

...

Estava me perguntando recentemente se daria nota a alguém. Aliás, brincava dizendo que tal pessoa "merece nove e meio, porque dez, de fato, só a minha mulher".

Mas, particularmente, nunca consegui qualificar as pessoas dessa maneira. Nunca, porque o conteúdo para mim sempre falou mais alto, e porque o contexto geral sempre foi mais importante.

Porque, não sei.  Talvez porque eu seja um romântico incorrigível, ou discreto demais.

Ou, talvez, porque era do tempo em que "nerd" era motivo de chacota, e não de orgulho. E, se tivesse festa de formatura, moça nenhuma aceitaria um convite meu para o baile.

Disso eu tenho certeza.

...

Nossa tendência a escolher o errado, seja entre homens ou mulheres, nos leva a fazer bobagens. Uma delas é tratar o sexo oposto como se ele fosse cheio de comparações; outra, pior ainda, é imaginar que por conta de alguns um gênero inteiro possa ser qualificado como tal.

É reduzir à lógica sentimentos, é fazer de tudo um discurso chato e cansativo contra o oprimido. É procurar oprimidos onde eles não existem, é achar que tudo deve ser qualificado de forma precisa e quantitativa.

E não pela qualidade. E não pela emoção.

...

Tenho medo de que num futuro próximo as pessoas queiram transformar tudo em números, ou em escolhas diretas; que as mulheres queiram se pintar de oprimidas eternas para aprontar das suas, e que os homens percam totalmente o respeito por si mesmos, já que pelas mulheres já perderam faz tempo.

Tenho medo do nivelar por baixo, medo do fim da mulher virtuosa, e do homem que tinha orgulho de ser homem, e não escória humana.

Tenho medo de tudo isso estar se tornando verdade, diante dos meus olhos.

E, de um dia, ouvir de fato o que hoje é só obra de ficção, como num pesadelo: 


21.11.13

Mini-conto: Consciência Negra

Professor, revoltado, em aula póstuma sobre o 20 de novembro:

- As pessoas falam que não existe racismo no Brasil. MENTIRA!!
 
"Existe até hoje uma idéia de que somos uma democracia racial, que o negro tem as mesmas chances do branco, que todos somos iguais ... "
 
"... isso é um ABSURDO, uma MENTIRA!, que os detentores do poder fazem para que nós deixemos o sistema como está, pronto para que as elites continuem dominando, como sempre fizeram. SEMPRE!"
 
- Para se ter uma ideia, ontem foi o Dia da Consciência Negra, e alguém se lembrou? NÃO, NÃO MESMO!!! NEM UMA PALAVRA NA MÍDIA!!!
 
E, como que retomando fôlego, e a calma:
 
- Nada foi dito, nem mesmo um programa falando de Zumbi ...
 
Nesse ínterim, levanta a mão um aluno, meio que indignado:
 
- Mas quem disse que não? Claro que teve sim, professor!
 
O olhar do mestre, entre faiscante e curioso, parece perguntar antes dele:
 
- Tem?
 
- Teve, sim. Eu vi ontem, inclusive.
 
- Pois diga, então, (triscando os dentes) que filme foi esse ...
 
...
 
- E por isso é que eu estou aqui, diretora ...  e eu lá tinha a obrigação de saber que "The Walking Dead" não tinha nada a ver com o que o professor estava falando? Eu, hein ... 'tá loco ...
 
 
fps, 22/11/2012, 20:02

20.11.13

Que dia é hoje, mesmo?

Como ainda é 20 de novembro, lá vai: eu sou do tempo em que 19 de novembro era comemorado em sala de aula, cantando o Hino à Bandeira enquanto ouvíamos falar em "verde das matas, amarelo do sol, azul e branco do céu de anil". 

E guardei isso, ainda que fosse mentira (ao menos o verde-amarelo das cores imperiais). 

...

Hoje é Dia da Consciência Negra, meus amigos e eu foram ver o mar, o sol, a rua, o bar, e ninguém sabe quem é Zumbi ou Dandara. 

E uma grande oportunidade para discutir a discriminação racial em sala de aula foi perdida.

Mais uma vez.

...

Nada contra a data, mas feriado cívico, no Brasil, é sete de setembro. O resto é o resto.

14.11.13

Prosa, republicada



Panorâmica das conversas ao telefone
- Pronto.
- Oooooooiiiiii-mor-zin ....
Você já sabe - vai demorar ...
- Oi, querida. Tudo bem?
- Ai-querido-você-não-sabe-o-que-me-aconteceu-hoje ...
Xi ... vai demorar mesmo ...
- Ótimo que seja assim, meu anjo - fala então o que é que ...
- Ai-querido-foi-a-Mariane. A-gente-tava-no-serviço-fazendo-mais-um-relatório-daqueles-malucos-que-a-chefe-SEMPRE-pede-quando-tem-problema-de-checagem-de-conta. Ai-ela-pediu-aquele-relatório-e-a-coitada-errou-TUDO !!! Você-nem-imagina:ela-com-cara-de-trouxa-e-a-gente-tendo-que-correr-para-ver-o-que-é-que-tava-errado-e-o-que-que-não-batia ... e-a-chefe-lá-SEMPRE-com-aquela-cara-amarrada ...
E assim segue pela próxima meia hora, com pausas para um "sim, querida", ou um "não, querida", e quando você, num lapso pequeno de tempo, boceja ...
- O que foi isso?
- Ah??? Nada, não, amor, é que ...
- EU SABIA!!! Você-não-estava-ouvindo-nada-do-que-eu-estava-falando-seu ... seu ... seu ... SEU INSENSÍVEL !!! BUAAAAAAA ....
E toca mais meia hora de "não, querida, não é isso, você se enganou" - e é nessas horas que você mostra que sabia alguma coisa do que ela falava mesmo, que a tal da Mariane era mesmo uma banana, que ela toca o serviço nas costas, que - sim !!! - você ama muito ela e coisa e tal e coisa e lousa e maripousa (como diria o antigo cronista), até que ela, finalmente, se acalma.
Dá uns quinze minutos e estamos perto do final dessa estória:
- Ah, querido, vou-desligar-agora ... mas-tô-cum-tanta-saudade-docê ...
- Ummm ... lindinha, vem cá cum seu nenezão ... (pausa para reflexão: porque todo homem age como bebê nessas horas? nunca entendi essa ...)
- Tá-bom-morê. Beijinhu ...
Ela desliga, do lado de lá.
E você, do lado de cá, suspira - e não sabe se é de alívio ou se é mesmo por causa de uma grande saudade ....

fábio peres da silva
28/08/02, 16:51

6.11.13

Poesia

 
 
o quadrado de hoje
já foi o círculo de ontem
e a roda, do passado.
 
a quadratura do triângulo do vértice cateto não faz a mínima diferença.
 
escravos de jó
jogavam caxangá
e a gente nem tinha idéia
do sentido dessas palavras.
 
ciranda, cirandinha,
vamos todos dar as mãos
 
e rodar .. rodar ... rodar ... rodar ... rodar ...
 
 
fps, 23/08, 00:25