18.1.15

Poesia, revisitada ...



O sonho e o sofrer (II)

Princesa,
quisera eu poder ver-te.

Quisera todo o tempo ...

Quisera que o tempo parasse, para estar bem junto a ti.

Dá-me de teus carinhos,
para que eu possa viver o tempo que jamais vivi.

Dá-me dos teus destinos,
dá-me a vida que eu não tive.

Eu, caminheiro errante, desde os tempos que nasci,
vivo para ver os teus olhos.

Ando tão só, neste mundo ... no mundo que escolhi ...

Dá-me mais do teu sorriso,
para que eu seja feliz.

Dá-me a felicidade.

Dá-me ... ou deixe que a dê.



Princesa,
a felicidade existe.

Sei que em teus caminhos
encontraste tristezas,
dificuldades,
desilusões,
choro e dor.

Mas, princesa,
a felicidade está em todos os caminhos
por onde passamos.

Procure a felicidade, princesa,
e a encontrará,
pois, em todo canto que andares,
haverá motivos para estar feliz.


E quem me dera ver-te feliz sempre e sempre,
minha doce princesa.

Sempre ... feliz.





fps, 12/01/2015

17.1.15

Brasil 1, Indonésia 0 (ou: reflexões esparsas sobre pena de morte e tráfico de drogas)

Estranho ver a reação da "brava gente brasileira" com a execução de Marco Archer, ocorrida hoje na Indonésia

Gente que defende pena de morte no Brasil para todo e qualquer crime hediondo (e mesmo os não-hediondos, como a nossa decantada corrupção) se divide entre os que apontam a Indonésia como exemplo e os que não sabem o que dizer quando veem um compatriota seu sendo enviado à morte "por tão pouco".

O mundo civilizado é contra a pena de morte, e não é por menos: não há como reverter tal punição, e nenhum pagamento em pecúnia traz de volta a vida de alguém. Nosso país, nesse contexto, age muito bem, ao endossar os tratados internacionais que regem o assunto, e que condenam essa forma de sentença.

...

(Aliás, para os desavisados: tratado internacional aprovado pelo Congresso equivale à botar o texto na Constituição, o que significa que dificilmente a pena de morte entra no nosso ordenamento jurídico).

...

Dito isso, está todo mundo cumprindo seu papel: o presidente indonésio não foi eleito para ser o queridinho do mundo, mas para satisfazer um país que acha que "traficante bom é traficante morto". O governo brasileiro, por sua vez, age corretamente, ao defender seus cidadãos e endossar a imagem de país defensor dos Direitos Humanos lá fora - embora, aqui dentro, a sociedade insista em repetir o mantra dos "direitos humanos são para humanos direitos".

Claro ... até a hora em que um dos seus aparece na linha de tiro do carrasco.

...

Marco Archer tinha cara e jeito do "bom carioca", pelos depoimentos colhidos na imprensa. Suponho que achasse que sua esperteza o salvaria, como várias vezes acontece a quem comete o mesmo delito várias vezes com sucesso. 

Cometeu, entretanto, um erro crucial: foi cometer seus crimes em um país que por vários motivos, inclusive históricos (a Indonésia sofreu muito com o tráfico na Guerra do Ópio) trata com extrema dureza o traficante de drogas - a tal ponto que é preferível ser terrorista que agir como "mula"

Moído pela prisão, tornou-se um morto vivo, que espantava aqueles que o conheceram anteriormente. Poderia ter sido solto - mas esbarrou em um governo que não quis ceder; e que, na sua intransigência, foi muito mais indigno, diante do mundo civilizado, que o governo brasileiro.

...

Quando comparo o tratamento dado a Marco Archer ao que o Brasil prestou a gente como Cesare Battisti e Ronald Biggs, confesso que sinto um pouco de orgulho de nosso ordenamento. Mesmo tendo cometido crimes graves em seus países de origem, preferimos ser clementes, atender aos apelos humanistas e evitar que fossem condenados de forma injusta, seja por ter fixado uma vida aqui, ou porque havia medo do tratamento a ser dispensado lá fora.

Criminosos como eles não eram dignos, diante da sociedade, de toda essa proteção. Mas a receberam.

Mostrando que aqui, apesar de nossa "brava gente brasileiros", há uma esperança de que sejamos civilizados de fato. 

Assim como somos de direito.

...

Aos navegantes: algumas vezes escrevo textos opinativos com links para diferentes matérias, sobre assuntos do momento, com dados que coleto aqui e ali. Esse é um deles.

"Enjoy it!". Sem moderação.

16.1.15

Prosa


Quando dois olhares se cruzam


Nunca deixarei de esquecer o sentido dos olhares que se cruzam por entre os cantos de nossas vidas, pois eles dizem muito a nós mesmos, e a nossos sofridos corações.

Quando dois olhares se cruzam, a vida corre da melhor maneira possível, sejam eles olhares firmes, felizes, sofridos ou agoniados, bem-dispostos ou cansados, mas olhares enfim.

Quando dois olhares se cruzam, a vida parece parar, o tempo também pára, e dá vontade apenas de contemplar o olhar do outro, magnífico olhar que traduz um sentimento forte, limpo e translúcido como água correndo de uma nascente, ou fogo ardendo na lareira dos corações de quem se olha desse jeito.

Quando dois olhares se cruzam, parece que o mundo não existe mais, pois foi tragado pelo simples fato de que alguém olha para nós, e nos vê, e sente nosso interior pulsando, firme e forte, diante da presença desse olhar.

Talvez dois olhares cruzando-se não signifiquem nada. 

Para mim, significam tudo.

Porque, quando dois olhares se cruzam, existe um sentimento forte unindo esses olhares, e essas vidas.

Um sentimento de felicidade, amor, carinho e paz.

Um sentimento que passa acima dos corações humanos para entrar dentro das almas e espíritos daqueles que se olham.

Um sentimento de força e afeto, que une dois olhares em um só.

Quando dois olhares se cruzam, os sentimentos são infinitos.

E é por causa desses olhares - e do poder que eles tem em nossas vidas - que eu ainda confio, e muito, nesse doce sentimento que é chamado por muitos de amor, mas que somente pode se exprimir de verdade, não quando duas bocas se falam, ou quando dois corpos se unem, mas quando dois olhares se cruzam, se unem e se fundem para formar apenas um.



fps, novembro de 95

15.1.15

Quem sou eu?



Quem sou eu?

Eu sou aquele seu colega de trabalho, que está do teu lado, mas que você não conhece. 

Talvez você tenha ouvido falar do meu nome, só de relance, ou tenha visto minha foto na parede, naquele comunicado da firma ou na lista de recados. Você pode ter me visto de longe - e nem me reconhecido, ou parado para me cumprimentar (e isso porque, ora, você não me conhecia, claro!).

Pode ser que você já tenha falado comigo. Pelo telefone, ou pessoalmente, para que eu lhe resolvesse "alguma coisa". Ou para "me resolver alguma coisa", não sei - afinal, quem é prestador de serviços também pode precisar de "uma ajuda".

Para alguma coisa.

...

"Uma ajuda". "Alguma coisa". "Alguém". Sempre no indefinido. 

Não temos nome, até que alguém nos diga "bom dia". 

"Boa tarde". "Boa noite".

"Olá, tudo bem?"

E, no entanto, não paramos para pensar ... "quem é esse cara que eu cumprimentei, mesmo?".

...

De tudo o que poderia falar de mim, apenas repito a primeira sentença que me veio à mente quando criei o meu Twitter (antigo, mas não tanto quanto a vontade de escrever, que tenho desde sempre). 

"Eu ... eu ... eu sou eu".

Simples e objetivo - como, aliás, deveria ser a essência dos nossos atos (embora, muitas vezes, necessitemos ser analíticos para entender o mundo).

Quanto ao mais, deixo a vocês este blog. 

Uma parte de mim, para você que aqui chegou.



fps, 15/01, 20:35

P. S.: Dez anos, bem, é tempo demais!!!! Parabéns, querida, por tudo!

14.1.15

Prosa


Apresentando o filósofo

                Conheci o filósofo volta de uma viagem que fiz ao interior do Nordeste (ou será do Norte ? Faz tanto tempo que nem sei ...). Era um senhor, já avançado em dias, cabelos grisalhos combinando com o sol da tarde que fulgia pelos campos ressecados pela seca, boca corroída pela falta de cuidados, barba grossa e grande combinando com a túnica que usava (branca de início, gasta pelo tempo). De mente já muito usada, jurava ser ele o homem que nascera “há dez mil anos atrás”, como diria o saudoso Raul, e que fazia dele um homem santo, consultado por uns, odiado por outros e ignorado pela grande maioria das pessoas. Mas não é disso que quero falar agora.

                O fato é que o velho era um sábio. Um sábio de muitas palavras, de poucos costumes, de pele morena, curtida no sol, mas que sempre sabia encontrar um jeito sábio de encantar aqueles que se sentavam para ouvir suas palavras. Um homem de muita fé, fé que ele cultivava de um jeito todo particular, preocupado mais com outros do que consigo, e que preferia a dureza das ruas ao conforto de uma casa que dizia ele ter nos sertões do Brasil. Um homem de fibra, descomunal, mais forte do que muitos, que ele atribuia a uma vida de “poucos confortos, comida de gente, um pouco de vinho e muito, mas muito prazer”, como ele mesmo dizia.

                Quem seria ele ? Um santo ? Um louco ? Um sábio ? Ou apenas mais um velho querendo conforto e que só necessita falar de si mesmo, e passar o que aprendeu a outros, para que possam preservar os costumes de sua terra e de sua gente, e aprender com tudo isso um pouco mais de si mesmos ?

                Não sei, não sei. Só sei de uma coisa: esse homem me ensinou muito mais coisas do que muitas pessoas cultas que vi nessa vida, arrotando arrogância e dizendo palavras complicadas. Suas frases eram simples; seu jeito, era singelo; sua linguagem, dotada de extrema força e compreensão, era um apelo a que as pessoas o ouvissem, sempre mais e mais. E, no futuro, escreverei um pouco do que ele me ensinou, do seu jeito, a seu modo, e que ficou gravado no meu coração.
               
 fps.

13.1.15

Poesia: Desespero da Arlequina



arlequina disfarçada
procura por vingança.

já nem tem mais esperança.

é amor despedaçado,
desesperado, desconfiado.

traiçoeiro, sem afeto.

traição de um amor
que nunca existiu de fato.

o coringa fugiu, 
ficou a dor.

e um monte de filmes para menininha.

fps, 04/03/2014, 19:30

8.1.15

Ainda sobre o atentado ...

7.1.15

Para pensar, sobre o atentado ao Charlie Hebdo



Se vocês querem saber, eu tenho pena, mesmo, é do coitado do muçulmano que resolveu pegar a malinha, sair de sua terra e, tal e qual muitos migrantes brasileiros, "fazer a Europa", fazendo o trabalho que muito europeu não está a fim de fazer porque é o que sobrou para quem "topa tudo".

Ou quase.

...

Tenho pena da mulher que vê o véu como uma forma de se resguardar, para seu Deus e para seu homem (sim, SEU homem, pois ela não se sente "qualquer uma" para se expor por aí feito carne) - e que não precisa, nem quer, ser libertada por quem não acredita no Cristo mas quer se casar na Igreja, ou pelos que acham que ela se sente infeliz daquele jeito.

Ou, ainda, pelos que confundem o animismo primitivo com as origens do "verdadeiro" Islã. 

...

Ou, ainda, bandido com "ayatollah".

...

Tenho pena dos filhos deles, nascidos em solo francês, ou alemão, mas que não se sentem daquela pátria - porque não são tidos como verdadeiros "citoyens", cidadãos. Porque sua família, seu mundo, sua fé, sua cor, seus traços, não tem valor algum.

E porque, assim, são presas fáceis para fanáticos. De toda espécie.

...

Tenho pena. 

Muita pena. Muita, muita pena mesmo.

...

Porque, tal e qual os excluídos, eles não tem culpa da escória religiosa matar, em nome de um Deus.

Do qual, infelizmente, não sabem nada.

Nada mesmo.


fps, 07/01/2014, 23:00