12.9.05

De olho no referendo: porque voto NULO

Não sou o tipo de pessoa que votaria nulo em uma eleição: se é para exercer um dever cívico, que o seja de forma decente. E, antes que alguém venha com a balela dos comerciais da Justiça Eleitoral: sim, porque podemos abrir mão do direito mas votar é uma atitude que temos que fazer sob pena de perder salário, no caso do funcionalismo público, passaporte e novos documentos, sem falar nos transtornos para justificar o voto e outras anomalias do nosso sistema eleitoral brasileiro (das quais voltarei a escrever em outras oportunidades, senão esse texto perde completamente o rumo).
Mas o fato é que, pela primeira vez em 14 anos de experiências de voto democrático que esse cidadão já passou em nosso país - e que começaram justamente em uma experiência semelhante, a do plebiscito sobre sistema de governo em 1993 - eu penso seriamente em anular meu voto nesse referendo, se é que isso vai valer alguma coisa na formulação dessa lei.
Para explicar do que se trata: não está aparecendo muito, mas em outubro, provavelmente no último domingo do mês, os habitantes da Terra Brasilis habilitados a exercer o dever do voto serão chamados a escolher se querem ou não manter o comércio de armas e munição em nosso país. Simples e fácil: ao aparecer a pergunta na tela da urna eletrônica, digite 1 se você se entitula da "turma do bem" e deseja que nenhum cidadão tenha direito a porte de arma se não for segurança especializado ou policial; se você, no entanto, faz parte do grupo que acha que contra bandido o problema se resolve na bala mesmo não sabendo o que diferencia um calibre 38 de um 45, digite 2 e diga não ao Estatuto.
Pois bem, vamos aos argumentos.
Particularmente eu não acho que resolve-se o problema da violência simplesmente tirando as armas da frente da população - ao menos três quartos das armas no Brasil são ilegais, o que significa que o impacto será pouco ou nenhum se não houver boa vontade das pessoas em entregar suas armas; isso me parece um extremo do politicamente correto, que não faz meu estilo desde que os americanos começaram com cartilhas e processos a granel.
No entanto, não é difícil ver que os argumentos da Frente do Não são igualmente toscos e sem substância: armas não são "kit anti-estupro", nem o Brasil vai virar uma ditadura se não houver o direito ao porte (tanto é que passamos 20 anos sob regime militar e posse de armas, e nem por isso todos se armaram para o reestabelecimento da democracia); sem falar que é nojento estar do lado de gente como Bolsonaro e Fleury, o dos 111 do Carandiru.
Se de um lado eu só vejo o insosso politicamente correto e do outro a nojeira dos argumentos fáceis e mentirosos, voto nulo - ao menos vou em paz com minha consciência; mas se você deseja saber mais sobre esse assunto, visite os sites abaixo:
http://www.referendosim.com.br - site da Frente por um Brasil sem Armas.
http://www.votonao.com.br - site da Frente Parlamentar pela Legítima Defesa.

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