22.9.22

Mulheres, jovens, baixa renda: quem (e o que) está derrotando Bolsonaro, o "tiozão do churrasco"

Este que vos escreve ia redigir a explicação do texto anterior, a parábola sobre o Brasil de 2022 - mas os institutos de pesquisa foram mais rápido do que eu, como detalha a Folha, via UOL:

"A nova pesquisa do Datafolha captou uma variação favorável à candidatura de Lula (PT) nos segmentos da população em que o atual presidente apresenta alguns de seus piores índices negativos nesta corrida.

Na última semana, Lula registrou ganhos entre os mais jovens, entre as mulheres e entre os eleitores de baixa renda. Em todos esses grupos, a rejeição a Bolsonaro parece consolidada, chegando a beirar a casa dos 60%"

Mulheres, jovens, eleitores de baixa renda. São esses os grupos que mais tem ódio ao "machista, racista, fascista, chauvinista porco e insensível" que hoje governa o nosso país - e são eles que, assim como Trump, vão ter um alívio imenso em ver Bolsonaro longe do comando da nação.

...

Se você estranhou as aspas acima, saiba que elas tem um bom motivo: Bolsonaro governou o Brasil de 2019 a 2022 tendo foco em um segmento específico da sociedade, o direitista que se diz liberal na economia e conservador nos costumes. Foi para ele, o cidadão que inveja os Estados Unidos (e seus poucos impostos) e suspira por governantes que sejam efetivos contra criminosos e militantes de todo tipo (na base do chumbo, de preferência), que Bolsonaro governou. 

Foi ele, o "minion" padrão, que garantiu os 30% de apoio ao governante mais tosco que esse país já teve na História. Era esse cara que, tal e qual os homens da parábola, degustavam o churrasco no ponto de bala e a cerveja gelada, esquecendo-se das mulheres que iam para um almoço, das crianças que não tomavam refrigerante - e, porque não, dos empregados destratados pelo tiozão que operava a churrasqueira, seja através de insultos ou de outros tipos de sandices que fazia.

...

Poucas são as pessoas que apreciam carnes mal passadas, marca registrada de um bom churrasco (na opinião dos homens). Sempre ouvimos que a carne boa para consumo é a bem passada, "sola de sapato", de tal forma que um péssimo churrasqueiro pode ser simplesmente ignorado, desde que não profira impropérios à mesa e que traga algo de diferente  para o almoço.

Como um suco, para as crianças, um franguinho grelhado - ou uma divina caponata.

...

Meu palpite é que Lula será eleito, provavelmente no primeiro turno, e vai retomar a prática usual da Nova República de lotear cargos e multiplicar ministérios, para agradar segmentos sociais e dividir o poder entre os grupos políticos. Fazenda e Planejamento vão voltar, Trabalho idem, e a Cultura terá novamente o "destaque" (leia-se: grana) que sempre almejou.

Com o tempo o orçamento secreto será transformado em algo mais do controle do Executivo, e as pautas voltarão a ser ditadas por Brasília, em detrimento do Brasil. Educação voltará a ser tratada como algo essencial, na mais tenra idade, e passaremos a gastar os tubos com projetos mirabolantes, a fim de reforçar nosso papel de "anão orgulhoso" da diplomacia internacional.

Até que... o marido vai ver a conta da fatura. Dinheiro desperdiçado, gastos inúteis, e muita gente que vai embolsar a grana da picanha e entregar coxão duro passado na maquininha.

...

A diferença, talvez, estará na existência de uma direita. Bolsonaro vai se aposentar, mas o bolsonarismo não vai morrer - não enquanto existir a tendência inexorável do político brasileiro a agir de forma corrupta, e da mídia em explorar os escândalos à exaustão.

Será que aprenderemos, um dia? Não saberia dizer - mas de uma coisa este escriba tem certeza: quem não sabe o que está em jogo vai continuar se deliciando com uma caponata "ma-ra-vi-lho-sa", enquanto come e bebe cerveja de quinta, néctar de quarta e carne de segunda.

Nenhum comentário: