12.10.23

Pitacos diversos sobre a visão que falta no conflito árabe-israelense: a religiosa

NOTA: esse texto reflete a opinião de alguém que é cristão praticante, mas tenta escrever de uma posição relativamente equidistante dos fatos apresentados. Se escandalizar alguém, principalmente os "mais fracos", radicais de todos os tipos, lamento - e fico à disposição. 

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Marcelo Guterman, no Papo de Boteco, descreve historicamente os fatos do conflito entre Israel e a Palestina desde quando começou a sair do papel a ideia de um lar para os judeus do mundo. É uma visão bem completa, historicamente apuradíssima, mas na qual falta um detalhe, sempre desprezado: a História do povo judeu não começou em 1948, embora se diga que o povo palestino nasceu ali.

Sem se falar nos escritos que falam ao coração de judeus, cristãos e muçulmanos não se pode entender um estado constante de guerra - que, a rigor, poderia ser resolvida como nos pactos coloniais de outrora. 

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Os britânicos, ao autorizarem a criação do Estado de Israel num lugar no qual já vivia gente, e a ONU, ao endossar tal fato, não pensavam na Torah, Bíblia ou Alcorão. Queriam fazer política, e fizeram, dando a terra dos palestinos para um "intruso" e provocando a ira dos vizinhos - que já previam o impacto da existência de um país pequeno, porém de amigos bastante poderosos, em sua vizinhança.

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Israel é um país recente, mas de alicerces muito antigos. Não poderia ser criado no Piauí - aliás, graças a Deus não foi feito, imagine se tivéssemos um vizinho riquíssimo num espaço cedido pelo Brasil. 

Não, não poderia ser criado em outro lugar senão na terra de seus antepassados, a Canaã de onde jorrariam leite e mel, e para a qual o povo judeu quer voltar desde os tempos em que Jacó foi "de mala e cuia" para o Egito, a convite do filho governador do Egito, José (o mesmo que fora vendido pelos irmãos, num plano tortuoso arquitetado pelo Deus único, que os protegeu naquela hora).

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YHVH. 

Deus dos judeus, cristãos e muçulmanos (embora os dois primeiros grupos discordem disso).

O Deus de Abraão, Isaque e Jacó foi o mentor do povo escolhido durante todo o Antigo Testamento. Guiou-os para o Egito, retirou-os de lá, usando Moisés, que lhes deu leis e organização - e providenciou em Josué um general de ferro, que conduziu o Israel bíblico na conquista da Terra Prometida.

Depois, os Juízes, nos tempos de federação tribal, e os Reis, centralizando o pode - primeiro com Saul, depois Davi, o maior de todos, e Salomão, o do apogeu. 

Divisão, nos reinos de Israel e Judá, com governantes que andavam ou se desviavam do coração de Deus. Ao final, cativeiro, nas mãos de assírios (que dizimaram o Norte) e babilônios. 

Aqueles que voltaram, por ordens de Ciro, o da Assíria, vem "com a faca nos dentes" - e sob o comando de sacerdotes e ministros, como Esdras e Neemias, iniciam a fama de um povo nacionalista e zeloso de si mesmo, orgulhoso de um Deus que residia junto com eles, no seu santo Templo.

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Templo... ah, o Templo...

O Primeiro, que Salomão construiu, representava o apogeu do Reino. O Segundo, a reconstrução do país, que Roma fez questão de destruir para arrasar com a moral do povo.

E o Terceiro? Difícil... lá está uma mesquita, local de culto de uma outra gente - que adotou o ser sagrado dos judeus e cristãos, sob as regras de outro profeta, chamado de Deus (mas em árabe).

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Allah. 

Deus, para os árabes - que adotaram um sistema religioso, social, econômico e político com o ser divino emprestado de judeus e cristãos. Estes não tem Messias, mas tem Profeta, o único caminho dentre todos, incluindo alguém muito sábio, um certo... Jesus.

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Jesus. 

Filho de Deus, Filho do Homem, Deus Filho. Descendente de Davi, motivo da salvação dos cristãos - que virá para julgar os vivos e os mortos, depois de arrebatar para si a sua Igreja, dos salvos nELE. 

Profeta para os muçulmanos, transtorno para muitos judeus (principalmente os ateus e agnósticos), Jesus Cristo é a incógnita que faz com que os Estados Unidos dos dispensacionalistas invistam um valor absurdo para que Israel se arme, mantendo a guerra de sobrevivência - e torcendo para que os judeus crerão em Cristo como seu Salvador, antecipando a volta dELE.

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O samba do crioulo doido (ou do afrodescendente preto, como desejarem) que este escriba fez acima não faz sentido algum para explicar a questão Israel vs Palestina, se você observá-lo do ponto de vista de alguém que crê na lógica dos acordos diplomáticos para resolver questões internacionais. 

O fato, porém, é que acordos não lidam com as crenças e valores mais íntimas dos indivíduos - de tal forma que israelenses e palestinos teriam tudo para fechar acordos rapidamente, SE:

  • os descendentes do povo judeu (ao menos a parte mais religiosa) não cressem que seu Deus lhes deu a terra por herança, e que deveriam arrasar todos os que se opuserem a este objetivo;
  • os cristãos (ao menos a parte mais poderosa deles) não acreditassem que aquela terra deveria ser uma panela de pressão para judeus, a fim de ter a certeza da volta de seu Messias;
  • os que ficaram na Palestina após a destruição do Segundo Templo, e seus descendentes, não se conformassem com a perda de terras que foram suas por quase dois milênios, dando ouvidos a todo e qualquer grupo radical que pregue a aniquilação dos que chamam de invasores.
Grande Israel, Jihad (no conceito mais radical), dispensacionalismo. Seria muito mais fácil resolver esse conflito na Palestina, não fosse por esses aspectos - tão complexos e tão distintos quanto o ser humano.

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P. S.: faltou a opinião desse escriba sobre a questão - que se resume em dois textos da Bíblia cristã. 

O primeiro, referente aos cristãos que querem "dar uma forcinha" para que seu Messias, o Cristo, volte antes da data, foi muito bem descrito por Lucas em seu Evangelho, quando diz:

"Sendo Jesus interrogado pelos fariseus sobre quando viria o reino de Deus, respondeu-lhes: O reino de Deus não vem com aparência exterior; nem dirão: Ei-lo aqui! ou: Eí-lo ali! pois o reino de Deus está dentro de vós.   

Então disse aos discípulos: Dias virão em que desejareis ver um dos dias do Filho do homem, e não o vereis. Dir-vos-ão: Ei-lo ali! ou: Ei-lo aqui! não vades, nem os sigais; pois, assim como o relâmpago, fuzilando em uma extremidade do céu, ilumina até a outra extremidade, assim será também o Filho do homem no seu dia."

Lucas, capítulo 17, versículos 20 a 24 

O segundo é mais antigo, e merece uma explicação prévia: lembra quando falamos, lá em cima, que o povo judeu saiu do Egito de volta para Canaã, liderados por Moisés no deserto, e, depois, por Josué? Pois bem, a ordem era clara - matar todos à espada, sem deixar ninguém, nem mesmo um bebezinho, para que não sobrassem inimigos que viessem depois requerer a terra, e atacar o povo.

Embora fossem efetivos nas conquistas, nem Josué, nem seus sucessores foram capazes de fazer a "limpeza étnica completa" exigida naquele momento - e a resposta de Deus veio, conforme consta no capítulo 2 do livro dos Juízes, versículos de 1 a 3:

"O Anjo do Senhor foi de Gilgal a Boquim e disse aos israelitas: Eu tirei vocês da terra do Egito e os trouxe à terra que havia prometido aos seus pais. 

Eu disse: “Nunca quebrarei a aliança que fiz com vocês. Não façam nenhum acordo com os moradores desta terra. Pelo contrário, derrubem os altares deles.” 

Mas vocês não fizeram o que eu disse. Em vez disso, vejam o que fizeram! 

Agora eu digo que não tirarei este povo do caminho de vocês. Eles serão seus inimigos, e os deuses deles vão ser tentações para vocês."

Tivessem lido seus escritos sagrados, e os israelenses fariam a paz com os palestinos. Afinal de contas, foram condenados a isso - pelo mesmo Deus que lhes deu a Terra Prometida, cultuado por todos ali.

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