31.1.09

Poesia

O vazio

Pediram que eu escrevesse sobre o vazio.

Mas escrever o que ?
Nao há nada no vazio.
Há,
sim,
a luz dos detalhes,
de cantos que mostram,
outros que se escondem,
a luz, ou sua falta,
e o que mais aparece
para nos mostrar
o profundo vazio
que existe na falta de algo.
Mas, se pudermos pensar,
e até refletir,
sobre o estúpido tema,
nao ha nada no vazio.

Apenas vazio,
vazio que dói,
angustia, atormenta,
vazio que cai,
cai sobre as pessoas,
vazio que teme,
afugenta, deprime,
vazio, enfim.
Não há nada no vazio.


E, se pudesse,
não haveria nada mesmo,
pois, já que não posso descrever o nada,
torna-se inútil falar no vazio
que existe em cada um de nós.

A não ser, é claro,
pelo que fazemos agora.


FPS, 12/01/96, 13:12

25.1.09

Poesia

Pelo meio das ruas eu ando,
e sinto os fogos, e a luz,
ardente, em meio a chamas,
e imagens, que me corróem;

são flashes, que estouram
em minha frente,
enquanto corro, sem direção,

e grito para irmos embora,
para longe, ou menos perto,
com um pouco de medo
e alguma hesitação.

Gaza, no entanto, não é aqui.

Ainda bem.



FPS, 25/01/09, 15:00

17.1.09

Os sete sapatos sujos

Primeiro sapato:
a ideia que os culpados são sempre os outros e nós somos sempre vítimas.

Segundo sapato:
a ideia de que o sucesso não nasce do trabalho

Terceiro sapato:
O preconceito de quem critica é um inimigo

Quarto sapato:
a ideia que mudar as palavras muda a realidade

Quinto sapato:
A vergonha de ser pobre e o culto das aparências

Sexto Sapato:
A passividade perante a injustiça

Sétimo sapato:
A ideia de que para sermos modernos temos que imitar os outros.



3.1.09

Poesia

O soldado

Compulsão e choro e estafa cansaço e sono.
Dureza da vida que pulsa com um novo dono.
Algo que nos traz fogo brando, de tal desamor.
Cauteriza a faca e afunda num ser ditador.

As ordens que me são mandadas eu faço eu cumpro.
Aquilo que me pedem digo procuro executo.
O que não sei peço que expliquem a mim com certeza.
Não valeu a tal longa espera por uma grandeza.

Me falta coragem e sobra cansaço no corpo.
Não tenho vivência de dor como a que agora eu sinto.
Não posso dizer que me iludo com tudo o que vejo.
Não posso porque já não vejo e p´ra mim é qu´eu minto.

Eu minto para minha vida achando que o belo
Se esconde por trás das pessoas que vejo e me calo.
Se esconde por trás dos bons sentimentos que carrego.
Se acalma e só então é que eu me sinto, me viro e então falo.

Eu quero sentir essa brisa perto do meu rosto.
Eu quero viver a emoção de ser melhor querido.
Eu quero sentir a bondade na vida que espero.
Eu quero com toda certeza ter mais de um amigo.

Eu seco espero a hora e o dia que vem
Onde eu certamente possa ser mais que um joão-ninguém.
Eu vejo na vida essa vida que espera e flutua
De um homem que desce, que corre, que ama, que sua.

Eu quero estar vivo para ver o tempo passar.
E só nessa hora verei coração sossegar.

Pois é na certeza de ter esse grande caminho
Que eu me levanto e posso então andar sozinho.

Final da história sentindo coração pulsar
O mundo está salvo - e eu posso então descansar.

Feliz é o homem que agora então pode me ouvir
E ver as verdades que a vida me fez bem sentir.

Espero o dia que chega, e o dia que vai
Para acabar com o sofrimento que em mim sempre cai.

Pois esta é a grande virtude no final da guerra:
poder assim, firme, encontrar ...




... a tal paz, bem sincera.

18/10/1996