28.8.09

Era para ser sobre TV, mas a Lei Geral das Religiões foi mais rápida e ...

Esse que vos escreve ia falar somente sobre um dos assuntos que mais me agradam, a saber, a televisão e o mundo dos reality shows que sempre acaba nos levando a pensar um pouco mais em como funciona a natureza humana nos tempos de hoje (lembrando que esse blog se chama TrashEtc! também porque, entre outras coisas, é um bom espaço para se escrever o que vem à telha).

No entanto, é preciso que se fale de um assunto mais controvertido antes disso: foi aprovada, em tempo recorde para o Congresso Nacional, a Lei Geral das Religiões, que disciplina assuntos de ordem jurídica na vida das Igrejas evangélicas e que é uma resposta ao Estatuto Jurídico da Igreja Católica, que foi negociado diretamente com a Santa Sé e que daria determinados privilégios à esta Igreja em relação à outras denominações no país.

No contexto jurídico, o Estatuto parece apenas regulamentar e reforçar os direitos de culto previstos na Constituição, e na sua origem ela garantia mecanismos para manter a salvo os direitos da Igreja Católica (e, agora, das demais Igrejas) sob sua doutrina, costumes, lugares de culto e outras características que lhe são peculiares; "copiá-lo" para a realidade das demais denominações pode ser extremamente útil, já que, em determinados casos, o direito à crença garante também que a denominação não faça o que é de sua vontade.

Um exemplo do que foi dito acima é a aplicação às Igrejas evangélicas da Lei da Homofobia: mesmo que a homofobia seja tratada como crime semelhante ao racismo e outros tipos de discriminação, com essa Lei em tese as Igrejas poderão dizer que não devem aceitar pastores gays ou qualquer outro tipo de comportamento que não seja de acordo com o que pregam; trata-se de uma virtude dessa "cópia", já que liberdade de crença, para os evangélicos, é como liberdade de expressão para os demais meios da sociedade.

Outro ponto que pode ser controvertido é a possibilidade de se permitir o visto permamente ou temporário para missionários, que facilitaria o trabalho de denominações internacionais no Brasil; no entanto deveria preocupar aos pastores a extinção de vínculo trabalhista com as instituições religiosas (que, se forem comandadas por gente séria, deverão tratar de forma digna seus sacerdotes para evitar que o ministério se torne um problema para eles).

Para aqueles, no entanto, que desejarem discutir e visualizar detalhes do Projeto que está nas mãos do Presidente Lula, cliquem aqui e vejam o conteúdo do mesmo.


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Era para este que vos escreve NÃO falar sobre TV, mas a vontade falou mais alto porque tem a ver também com a sociedade e com as formas de participação na Internet e fora dela:

Enquanto na semana passada boa parte da mídia especializada em fofocas endeusava os participantes eliminados de "A Fazenda" em toda sua programação (um deles, inclusive, tem uma linda estória de vida para contar) uma silenciosa revolução se armava na Internet, forjada por blogs que vivem o dia-a-dia dos shows de realidade e que julgam não a estória de vida, mas o desempenho dos participantes no universo restrito que se forma naquela pequena biosfera.

Na semana seguinte, mesmo comportamento: da mesma forma que a mídia não conseguiu engolir até hoje as reeleições de Lula, a esfinge que a mídia quer devorar mas só o povo brasileiro decifra, boa parte dela se debruçou para tentar entender porque um bad boy como Dado Dolabela venceu "A Fazenda", e criticando bastante o resultado do programa.

Nenhum desses twitteiros, e blogueiros, e pseudopersonalidades, no entanto, ficou com tenossinovite nos dedos de tanto clicar ou mandar SMS ou telefonar para o número oficial do programa, e nem sabia que a tal Porteira de Voz era um dos números de telefone que poderia ser usado para devolver à obscuridade o polêmico ator um pouco mais pobre do que ele saiu do confinamento; como esperam então esses indivíduos que o reality show terminasse do jeito que eles queriam, com a "vitória do bonzinho" ou do "exemplo de superação", tão em moda na TV brasileira?

Por mágica?

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Esses mesmos cidadãos que criticaram o resultado do programa deveriam se lembrar de que participação política, em qualquer lugar, deveria ser ativa, o que nos leva a falar sobre a participação política em nosso país, os #forasarney e os movimentos que servem para quase nada a não ser ocupar tempo e papel dos jornais, porque, de fato, não muda nada porque não é ATITUDE de verdade, é, pura e simplesmente, reclamação.

E, falemos a verdade: quem não entendeu a reeleição de Lula, com mensalão e tudo, não vai mesmo compreender os 83% de votos que levaram Dado à vitória no programa ...

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