Quando a Independência ocorreu, foi assim:
o senhor distinto que estava em viagem se indignava,
o regente rasgava as cartas enquanto se arrumava,
e o caboclo, distante, a tudo observava.
Mas não concordava. Nem discordava. E cuidava da vida.
Quando a República foi proclamada,
com a procissão pelas ruas anunciando o novo dia,
e o novo Presidente saudando o imperador que ia,
o ex-escravo, por perto, em tudo assentia.
Mas não concordava. Nem discordava. E cuidava da vida.
Quando Getúlio ameaçou invadir o Catete,
e proclamou o Estado Novo pela Rádio Nacional
o trabalhador ouvia o discurso, embebido pela cal,
e a dona de casa esperava pela novela.
Mas não concordava. Nem discordava. E cuidava da vida.
Quando os militares anunciaram novos tempos,
baixaram o Ato, sentaram o cacete em nome da Revolução.
Mas o cara do povo, pacato e nobre cidadão,
se embasbacava com os 10% de crescimento, o milagre.
Mas não concordava. Nem discordava. E cuidava da vida.
Veio a Nova República, desforra, a "Constituição cidadã".
Direitos fundamentais, revolução, uma elite satisfeita,
para desespero de muitos, gente considerada direita.
Mas o homem do povo, esse, como o "nove", não sabe de nada.
Não concorda. Nem discorda. Só cuida da vida.
Depois, passeatas pelas ruas, redes sociais, lugares de fala.
Muita gente dizendo o que acha, palavras gritadas ao vento.
Mas o povo - velho e novo - não tem tempo para lamento.
Como lá no passado, e hoje, só consegue pensar no agora.
Não concorda. Nem discorda. Cuida da vida.
Isso porque o povo, esse que a tudo assiste,
só quer que os contratos continuem sendo fechados.
só quer que os contratos continuem sendo fechados.
E farão de tudo para que seja assim, sempre.
Mesmo que seja necessário eleger um "mito" qualquer.
Apenas para poderem continuar cuidando da própria vida.
Mesmo que seja necessário eleger um "mito" qualquer.
Apenas para poderem continuar cuidando da própria vida.
fps, 05/01/2019
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