1.11.20

Quem escreve as matérias da "Veja São Paulo"? Com vocês, o "Baixo Auguster", ex-"Vila Madalener" e "Perdizer"...

Esnobes da Faria Lima, alternativos da Santa Cecília, hipócritas de Moema - e, agora, preconceituosos da Mooca; nada escapa ao olhar crítico da turma da "Vejinha", e de seus colunistas, sempre dispostos a apontar os erros de certas regiões da cidade, e de seus habitantes. 

Isso me leva a perguntar: quem são esses arautos do certo e errado de São Paulo, a turma que acha que pode fazer os perfis mais escabrosos dos cidadãos da maior cidade do Hemisfério Sul?

Como não se pode deslocar os autores de seus impropérios de seu habitat natural, resolvi criar uma estranha figura, aquele cara descolado que se acha a cara de São Paulo - mas que não consegue ver nada além de Perdizes, Vila Madalena e de sua atual residência, no Baixo Augusta, aquele lugar mítico que faz fronteira com Higienópolis, delineado pela Praça Roosevelt, Parque Augusta e com fim na Paulista.

Sem mais delongas, apresento... o típico colunista de Veja São Paulo, que, por hora, chamarei de "Baixo Auguster" - mas que, num passado remoto, já foi "Vila Madalener" e "Perdizer".

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Nosso candidato a colunista mora numa região da cidade que já foi o melhor canto da cidade para se encontrar uma dama... da noite, é claro. A zona do baixo meretrício da Rua Augusta se tornou "in" quando alguém com bastante influência virou para outro alguém e disse: "ei, que tal a gente fazer nossa festinha de aniversário num lugar bem tosco, bem lixo mesmo, tipo um puteiro das antigas, sabe?".

Daí para lotar a região daqueles lugares que os "queridinhos" da imprensa gostam, como restaurantes de quitutes veganos e comida multiétnica, e supermercados orgânicos com um monte de coisas para "pets", sem falar em barzinhos de todo tipo, para todo público (exceto os clientes das prostitutas, que fugiram de um lugar no qual poderiam encontrar, sei lá, seus filhos e netos). 

A gentrificação do Baixo Augusta se tornou questão de tempo - atraindo a especulação do mercado imobiliário, que encheu a região de "studios" de 20, 25 m², invadidos por um tipo de pessoa que já morou em outras áreas "pseudo-cult" da cidade, mas que escolheu ser "Baixo Auguster" por evocar uma certa efervescência, um quê de Paris com Nova York, Amsterdam e todos os clichês de uma "cidade perfeita", na opinião da turma que tem um mantra constante: "mais amor por favor".

Até aí, nada de mais. O problema é achar que há apenas um modelo possível para o paulistano: o das áreas intelectualmente chiques da cidade, como Baixo Augusta, Vila Madalena e Perdizes.

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Quando o "Baixo Auguster" recebe voz, como nas matérias da "Vejinha", resolve mostrar seu lado mais cruel: só presta quem é contestador, progressista e "superpop" - como ele, e seus "amigues". 

Dá-lhe, portanto, críticas pesadas contra os tradicionalistas de Moema (como se famílias gostassem de boates na porta de casa), ou pancadas fortes no estilo machista-chauvinista-mauricinho dos "farialimers" (tá, o Vale do Silício e Wall Street são cafonas, assim como todo lugar onde dinheiro rola solto - seja por causa do mercado financeiro ou da cultura, como o Baixo Augusta d@s "amigxs"). 

Quando chegam a bairros tradicionais, como a Mooca, é a festa - "racistas", "xenófobos", "preconceituosos"... insultos não faltam. Nega o colunista, entretanto, o óbvio: todo bairro, em São Paulo, se desenvolve de forma homogênea - principalmente o daqueles que tem orgulho de se chamar, antes de paulistanos, mooquenses (e NÃO "mooquensers", como a "Vejinha" entitulou).

Talvez só a Santa Cecília, vizinha dos "Baixo Augusters", tenha sido poupada - quem sabe porque o sonho de muitos habitantes das áreas "hipsters" da cidade é ser "Cecílier", com direito à samambaia na janela e dois gatos no apê de taco.

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Quem leu essa matéria até aqui pode achar que esse humilde escriba está com inveja. Pelo contrário: textos como os da "Vejinha" são verdadeiras aulas de como escrever, contando histórias e estórias fascinantes, do povo e das pessoas que fazem a cidade ser como ela é.

Não dá para negar, contudo, que os colunistas carregaram nas tintas ao elaborar essas matérias - e que, mesmo sendo para vender revista, exageraram demais, ao mostrar um mundo feio de toda área da cidade que não seja ocupada por progressistas-arrumadinhos-do-tipo-mais-amor-por-favor.

Para esse pessoal, só podemos dizer o óbvio: "galera, menos, bem menos, a gente é estereotipado - mas vocês também o são"... e muito...

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