27.3.07

A origem do símbolo '@' utilizado na Internet (EXTRAÍDO)

@ Você sabe qual é a origem do símbolo arroba ?
Na idade média os livros eram escritos pelos copistas à mão. Precursores da taquigrafia, os copistas simplificavam o trabalho substituindo letras, palavras e nomes próprios, por símbolos, sinais e abreviaturas.
Não era por economia de esforço nem para o trabalho ser mais rápido (tempo era o que não faltava naquele tempo).
O motivo era de ordem econômica: tinta e papel eram valiosíssimos.
Foi assim que surgiu o til (~), para substituir uma letra ( um "m" ou um "n") que nasalizava vogal anterior.
Um til é um enezinho sobre a letra, pode olhar.
O nome espanhol Francisco, que também era grafado "Phrancisco", ficou com a abreviatura "Phco." e "Pco".
Daí foi fácil Francisco ganhar em espanhol o apelido Paco.
Os santos, ao serem citados pelos copistas, eram identificados por um feito significativo em suas vidas. Assim, o nome de São José aparecia seguido de "Jesus Christi Pater Putativus", ou seja, o pai putativo (suposto) de Jesus Cristo. Mais tarde os copistas passaram a adotar a abreviatura "JHS PP" e depois "PP".
A pronúncia dessas letras em seqüência explica porque José em espanhol tem o apelido de Pepe.
Já para substituir a palavra latina et (e), os copistas criaram um símbolo que é o resultado do entrelaçamento dessas duas letras : &. Esse sinal é popularmente conhecido como "e comercial" e em inglês, tem o nome de ampersand, que vem do and (e em inglês) + per se (do latim por si) + and.
Com o mesmo recurso do entrelaçamento de suas letras, os copistas criaram o símbolo @ para substituir a preposição latina ad, que tinha, entre outros, o sentido de "casa de".
Veio a imprensa, foram-se os copistas, mas os símbolos @ e & continuaram a ser usados nos livros de contabilidade. O @ aparecia entre o número de unidades da mercadoria e o preço - por exemplo : o registro contábil 10@£3 significava "10 unidades ao preço de 3 libras cada uma".
Nessa época o símbolo @ já ficou conhecido como, em inglês como at (a ou em).
No século XIX, nos portos da Catalunha (nordeste da Espanha), o comércio e a indústria procuravam imitar práticas comerciais e contábeis dos ingleses.
Como os espanhóis desconheciam o sentido que os ingleses atribuíam ao símbolo @ (a ou em), acharam que o símbolo seria uma unidade de peso.
Para o entendimento contribuíram duas coincidências :
1 - a unidade de peso comum para os espanhóis na época era a arroba, cujo "a" inicial lembra a forma do símbolo;
2 - os carregamentos desembarcados vinham freqüentemente em fardos de uma arroba. Dessa forma, os espanhóis interpretavam aquele mesmo registro de"10@£3"assim : "dez arrobas custando 3 libras cada uma".
Então o símbolo @ passou a ser usado pelos espanhóis para significar arroba.
Arroba veio do árabe ar-ruba, que significa "a quarta parte": arroba ( 15kg em números redondos) correspondia a ¼ de outra medida de origem árabe (quintar), o quintal ( 58,75 kg ).
As máquinas de escrever, na sua forma definitiva, começaram a ser comercializadas em 1874, nos Estados Unidos (Mark Twain foi o primeiro autor a apresentar seus originais datilografados). O teclado tinha o símbolo "@", que sobreviveu nos teclados dos computadores.
Em 1972, ao desenvolver o primeiro programa de correio eletrônico (e-mail), Roy Tomlinson aproveitou o sentido "@" (at), disponível no teclado, e utilizou-o entre o nome do usuário e o nome do provedor. Assim, " Fulano@Provedor X" ficou significando "Fulano no provedor X".
Em diversos idiomas, o símbolo "@" ficou com o nome de alguma coisa parecida com sua forma, em italiano chiocciola (caracol), em sueco snabel (tromba de elefante), em holandês, apestaart (rabo de macaco); em outros idiomas, tem o nome de um doce em forma circular : shtrudel, em Israel; strudel, na Áustria; pretzel, em vários paises europeus.
(Retirado do livro: A Casa da Mãe Joana, de Reinaldo Pimenta).

21.3.07

Porque não valorizamos os verdadeiros heróis (ou porque é mais fácil ligar para o paredão do BBB que ajudar o UNICEF)?

Corre internet afora um arquivo pps comparando os "heróis" do BBB aos valorosos heróis de entidades conhecidas como o Repórteres sem Fronteiras e outras ONG´s de destaque, dando o devido reconhecimento a essas pessoas e entidades que tanto ajudam a melhorar esse mundo.

Entretanto faço um apelo às pessoas que elaboram esse tipo de pps: deixem a santa ingenuidade de lado e entendam de uma vez por todas que é muito mais fácil ligar a TV para assistir a final de uma Copa do Mundo ou de um SuperBowl que pedir a uma pessoa para olhar as mazelas humanas e fazer alguma coisa, até porque poucos são capazes de encarar as tragédias com a devida seriedade.

Falando francamente: a grande maioria dos indivíduos que liga para o paredão do BBB já viu ou ouviu muita coisa ruim em sua vida, e quer um pouco de pão e circo antes de acordar no dia seguinte e seguir para sua labuta diária - e é para essa gente comum que são feitos os programas de TV, com toda a magia perversa da qual eles fazem parte.

Logo, quando tem gente que pergunta porque é mais fácil ligar para o BBB que para o Criança Esperança (mas que não liga para o 0800 em época de campanha), é fácil responder; simplesmente gastamos no que nos diverte e faz sonhar, só isso.

Afinal de contas ninguém dorme apenas pensando na miséria humana, a não ser que seja sádico ou aspirante à Madre Teresa de Calcutá ...

5.3.07

Em breve: carros movidos a catavento que não andam nada ...

Deixe-me ver se entendi: quer dizer então que a Independent está alertando contra os riscos do etanol, falando sobre os dejetos industriais que não conseguem ser aproveitados facilmente (o nosso conhecido vinhoto)? Ou seja, nem o álcool etílico serve como combustível ecológico na opinião dos papas do capitalismo mundial?
 
Parece-me que o risco de um cartel da cana, aliado às pressões do Greenpeace e similiares, estão queimando as oportunidades para combustíveis menos poluentes e que sejam ao menos viáveis para substituir o velho e bom petróleo, que pode ser poluente mas ao menos é eficiente na hora de se transformar em energia desde que inventaram o motor a combustão.
 
Estranho como nessas horas alguém inventa de falar na energia solar ou na eólica, as únicas formas de se obter energia 100% renovável e 100% limpa; aliás, é engraçado que ninguém tenha citado isso ainda - talvez porque é extremamente caro e totalmente inviável gerar energia do Sol ou do vento para mover um carro, que ainda por cima terá a velocidade máxima de uns 40 km/h, impraticável no contexto da indústria automobilística (que é uma das que mais poluem, principalmente nos EUA).
 
Alguém ainda vai falar no assunto - até porque ecologista digno de nome tem sempre um carro elétrico, que, aliás, não usa, porque prefere o SUV(*) ultrapoluente que ele tira da garagem só para ir ao supermercado da esquina ...
 

 
SUV: de space-utility vehicle, é o jipe 4*4 que consome um litro de diesel a cada 3 km, convertendo-se no maior vilão urbano da poluição dos tempos atuais - e o preferido dos ecochatos que não saem para a floresta nem que o golfinho tenha coqueluche ...
 
 
 

Ele também vota?

Eleitor-fantasma

Em campanha para se reeleger à Câmara Municipal de Bauru, em 1992, o então vereador Edson Santos visitou uma residência na periferia da cidade paulista e pediu voto a um por um dos familiares. Na hora de deixar o local, parou na porta de um dos cômodos, que estava na penumbra, e acenou para o vulto que enxergou lá dentro:
-Boa noite!
Inconformado com o silêncio, Santos repetiu o cumprimento. Como de novo ficou sem resposta, o vereador, meio sem jeito, indagou ao dono da casa:
-É seu filho?
-Não, é só o boneco de Fofão-, respondeu o homem.
(Contraponto, Folha de São Paulo, 05/03/2007)

2.3.07

Poesia

liberdade
 
o livre pensar
é um martírio
 
o livre arbítrio
é pesado
 
o livre falar
é um perigo
 
o livre sonhar
é amargo
 
o livre amar
é sentido
 
mas livre é olhar
sem pecado
 
o livre viver
de um amigo
 
e livre querer
ser querido.
 
 
pensando bem, vou desfazer esse poema todo; é muita liberdade para um poema só ...

Leia - se tiver coragem

Que dor dói mais?
Maria Inês Nassif, em "O Valor" de 02/03/2007


João Hélio Fernandes tinha apenas seis anos de vida quando, no último dia 7, não conseguiu se livrar do cinto de segurança que o prendia ao banco de trás do carro antes que os assaltantes que renderam sua mãe arrancassem o veículo e o arrastassem por 15 minutos, 7 quilômetros, 14 ruas e 4 bairros. Ali terminava uma curta vida e iniciava, certamente, uma dor sem tamanho para a mãe, Rosa Maria Fernandes. E não deve existir dor pior do que a perda de um filho.

Delma Domingos de Carvalho, quase da idade de Rosa Maria Fernandes, oito filhos, chora também um filho morto que ainda não morreu. A. começou a construir a sua sepultura lá pela favela de Nhocuné, em São Paulo, com três anos a mais do que João Hélio. Continua lá, abrindo o buraco, pá por pá, até que a droga o jogue na sepultura. Foi internado pela primeira vez na Febem aos nove anos, outra aos 11 e a última aos 16. Depois "de maior", já amargou dezoito meses de presídio. Tem grandes chances de engrossar as estatísticas de morte entre jovens, principal indicador de violência. Não tem muito jeito. Lá no morro, se A. quiser voltar para a "farinha" encontra-a na esquina. As mães da favela não reclamam falta de escolas, mas se perguntam o que fazer com os filhos quando estão no trabalho e eles fora do ambiente escolar. Uma tranca os filhos em casa. A outra reza. Aquele pequeno exército de sandálias havaianas, no entanto, pode ser A. - ou um dos outros sete filhos de Delma que escaparam desse destino. Basta andar na rua.

Dona Delma é considerada a filósofa da favela. Enche cadernos e cadernos com pensamentos e poemas, a maior parte deles na tentativa de entender a diferença entre as pessoas - inclusive entre os próprios filhos -, o mundo em que vive e saber como ser feliz apertando-se com os filhos num pequeno barraco e vivendo da caridade alheia. Fez até o segundo ano primário, mas escreve com pouquíssimos erros. E é através das palavras que tenta construir ideais de felicidade que, sem dúvida, estão muito longe de seu alcance.

Dona Delma fez parte de um programa que arregimentava mães de internos para trabalhar na Febem. Esteve lá. Rezou pela primeira internação de A.. Achou que se o filho ficasse longe das ruas de Nhocuné teria mais chances de recuperar a infância perdida. No caderno, é perceptível o processo de reconhecimento que faz da instituição. Primeiro, a primeira impressão de que todos - funcionários, as mães faxineiras e a instituição - estavam no mesmo lado. Mas as desconfianças chegavam na forma de sombras. "O peso da noite tira o sossego. Pelos vitrôs entra a brisa, que não faz diferença nenhuma no clima tenso dali. A noite faz com que os corredores se tornem tumbas, mas com seres vivos andando como zumbis (...). Adolescentes infratores seguem seus condutores. Ouvem as ordens, obedecem ou se rebelam." O clima que impregna vem em outra parte: "Hoje na Febem/ Garotos enraivados/ Agentes irados/ O clima estava pesado/ E eu com meu balde e minha vassoura/ Me sentindo uma invasora". O balde e a vassoura lhe permitiram, aos poucos, ver que o clima era sólido como uma pedra. "Hoje meu coração está apertado. Porque na Febem, tive um fato revelado. Um adolescente machucado, pedindo pra ao ir banheiro ser acompanhado. O condutor demorou meia hora, que eu mesma, sem acreditar, marquei no relógio. O adolescente, sem escolha, teve que esperar. Então que eu percebi onde eu fui parar. No meio de desumanos, descendentes de Hitler. Sentem prazer em judiar, maltratar e prejudicar os garotos que, sem escolha, são instrumentos do bel prazer tenebroso no campo de concentração dos condutores da Febem."

Periferia fabrica bandidos e vítimas

É a mãe também que tenta entender, em seu sofrimento, a individualidade do filho. É a mesma mãe que tem medo da violência que toma conta do mundo à sua volta. É a mãe que, num poema quase ingênuo, conta que extraterrestres chegaram ao planeta mas resolvem ir embora. "É assim que vocês vivem uns com os outros? Iguais mas tão diferentes. O que houve com a sua gente?" Numa rima pobre, em outro poema, a outra dúvida - quem sabe foram os marcianos que a incutiram em Delma: "Brasil varonil/ quem foi que te feriu?"

E é a mãe que dói que está à espera do filho, que vai sair da Febem: "Te espero aqui na porta. Hoje ou quando tiver que ser. Não tenha pressa. Só quero o bem pra você (....). Acredito em você. Faça o seu lado do bem vencer".

O caderno de Delma é uma lição. Essa é apenas uma tentativa de dividi-la nesse momento em que, justamente, o país compartilha o sofrimento pela vida de um menino de seis anos e tenta medir a dor de uma mãe que perdeu um filho - e não deve ter padrão métrico que dê conta disso. Mas Delma, também, que pode enterrar o seu filho a qualquer momento, tem direito à mesma fita métrica. Nesse momento em que o tema sobre a redução da maioridade penal tem tudo para se tornar hegemônico, talvez se possa inverter o debate e ver como o país, principalmente nas suas periferias, constrói fábricas de menores infratores ou candidatos a celas de presídios. Ou, pior ainda, vítimas de bandidos e policiais que, de tão banalizados nas periferias, sequer comovem ou remetem a qualquer debate.

Ensina Delma, em outro poema: "Somos reféns dos astros, no palco da vida. A peça todos conhecemos: Polícia e Bandido, Dinheiro ou a Vida". Ou a recomendação justa, num texto intitulado "Não julgues": "A situação já é dolorosa, não coloque ninguém à prova. Nem diminua quem já está sofrendo. Não se sinta um poderoso, por sua profissão ser um pouco melhor que a dos outros. Pense que todos somos irmãos: ao invés do chicote, estenda a mão, ao invés da língua, use o coração."

Termino com um texto que Delma fez ao filho A., chamado "Desajustado": "Está aprendendo na vida, na base de muita porrada. Apronta, escapa! Faz a vida certa, faz a vida errada. Traz no corpo cicatrizes dos seus vários deslizes. Mas teima em ser feliz. Cuida do seu próprio nariz. Agora foi parar num dos piores lugares: na Febem do Brás, pra aprender a não andar para trás. Aos dezessete, na Febem. A partir dos dezoito.... Responder? Só a ele convém!!!"