3.5.07

Uma prosa, não muito antiga, mas sempre boa de se relembrar ...

Flashes de São Paulo


 
São Paulo é uma cidade fascinante - aliás, várias são as cidades que compõem São Paulo, cidade de tantos rostos e que "não pode parar", como já dizia o ditado (se bem que determinado prefeito disse que ela tem que parar, o que não deixa de ser verdade).
 
Não se pode descrever a cidade, entretanto, sem lembrar que ela sempre teve vocação para lugar de trabalho e de negócios, desde os tempos em que era um simples entreposto comercial e que D. Pedro I vinha aqui resolver suas pendências com a Marquesa de Santos, na casinha que ele mantinha por aqui e que hoje é a última vista que poderia ter, e que nos tempos republicanos atende pelo agradável nome de Museu do Ipiranga, pertinho do caminho para a praia.
 
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Sobre o museu: certa vez quando criança me desviei do grupo que estava na praça e fui parar dentro do mausoléu de D. Pedro e de sua esposa - deu um medo ...
 
Nem quando ia à "cidade" (nome que os caipiras e seus filhos dão ao centro velho) fiquei com tanto medo: eu, perdido, e dois esqueletos do meu lado, vixe!!!
 
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O Centro, ah, o centro; de tantas histórias e tantas andanças, e tantos perigos também  ...
 
O Centro velho de São Paulo padece de um grave problema: em poucos minutos se sai de uma região segura e se cai próximo do mundo cão. Não é uma coisa de se espantar, já que isso ocorre em todas as partes da cidade - mas a população em geral (e a classe média em particular) não gosta muito de ver suas feridas expostas a céu aberto, e tem profundo horror ao que não seja adaptável às suas necessidades, motivo pelo qual tantos prédios tombados jazem abandonados ao desuso, condenados à morte por um Condephaat bem intencionado mas mal sintonizado com as necessidades do povo.
 
De tal forma que o Centro acaba se tornando a verdadeira zorra total de dia e o deserto dos povos de noite dos gatos que não são pardos, divididos pela influência das zonas em que circundam seus diversos povos: camelôs e sacoleiras na 25 e na Sta. Ifigênia, gays no Largo do Arouche e na Frei Caneca, as agências de turismo da São Luis e os japoneses das lojinhas da Liberdade, estudantes do Mackenzie e da Anhembi Morumbi, funcionários públicos pra tudo quanto é canto e gente, gente que corre de um lado pro outro, sem que se saiba de onde vêm, nem para onde vão.
 
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A periferia de São Paulo é marcada por certos contrastes: bairros que se desenvolveram ao redor das indústrias vão evoluindo, e os mais pobres seguem para mais longe, até o momento em que se tornam mais ricos e os pobres seguem para mais longe; ocasionalmente bolhas de prosperidade se formam em lugares afastados, mas é fácil saber onde se tem dinheiro e onde não tem: basta ver se o vigia está lá, e pronto! aqui tem dinheiro.
 
É interessante notar que, nesse caso, os mares de morros paulistanos acabam gerando uma cidade em que é difícil se locomover no dia-a-dia sem ajuda de um carro, ou mesmo de ônibus, se for o caso: os maiores entraves aos "dias sem carro" em São Paulo são justamente as ladeiras e subidas, que forçam qualquer um que tente andar à pé na cidade continuamente a ter um bom fôlego se quiser viver por aqui.
 
E o mais engraçado é que os de posses correm nos parques, mas se sairem a 5 minutos de casa, vão precisar do carro - pode?
 
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Pode, assim como pode você andar meia cidade só para ir no barzinho da Vila Olímpia porque é chique e a Zona Leste é o fim do mundo para os descolados de plantão.
 
Se bem que em Moema é que tem boate, não no Anália Franco que é pertinho da minha casa (e viva Marlene Matheus, não sou do Timão mas "zê ele" eu sou ...).
 
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Flashes, imagens e paisagens que se desenham - quem sabe eu escreva mais sobre isso, e por isso é que não deixo um fim definido. Mas não me esqueço do que meu pai dizia, quando se falava que apesar da melhor distribuição de renda regional a nossa Sampa tem ainda 33% da renda nacional:
 
"É, meu filho, São Paulo é lugar pra se ganhar dinheiro ...".
 
Pois é, pai, você é um sábio, mesmo.

FPS, 16/01/04, 11:24

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