13.8.09

Quem se alimenta da mídia golpista?

Quem anda pelos blogs de política tem visto - e xingado - a atuação do que a esquerda convencionou chamar de PIG, o Partido da Imprensa Golpista que tem supostamente como objetivo detonar o governo Lula através de mentiras e calúnias, e que, para muitos, representa o maior dos males que vem afligindo a atual gestão presidencial e seu projeto para o país; a partir daí todos os erros dessa imprensa tem sido levantados de forma cada vez mais severa na internet brasileira, de tal forma que todo blog de esquerda tem alguma coisa a contar sobre os erros da "mídia maldita".

Entretanto, tal análise não contempla o fundamental: para quem escreve essa mídia.

O que chamamos de "PIG" não é, a princípio, um grupo coeso de pessoas, já que cada colunista político desse país tem uma postura a respeito de problemas estruturais e cada meio de comunicação possui seu comprometimento com a sociedade - que não se espere das TV´s, por exemplo, que seja tão severa com o governo que a mídia escrita, já que esta depende de concessões e propaganda para sua sobrevivência mais do que aquela; no entanto, pode-se perceber claramente que os jornais e revistas escolhem muito bem para quem escrevem, e o que vão escrever para elas.

Isso porque no Brasil, acima de tudo, a imprensa segue à risca um dos princípios que Mino Carta cansou de dizer em entrevistas, a saber: "não há liberdade de imprensa no Brasil, mas sim liberdade de empresa". Esse blogueiro poderia dizer mais: não há uma vírgula do que se escreve na mídia brasileira que não passou por uma análise comercial profunda antes de ter sido publicado, seja em mídia impressa, falada, televisionada ou mesmo na internet - tudo é feito e pensado para atingir as pessoas em cheio, para que elas comprem idéias nas quais já acreditam, e continuem comprando essas idéias até que não haja mais papel ou tinta para escrevê-las (e sempre haverá).

É por isso que se percebem claramente grupos dentro da mídia em geral, desde os que defendem o liberalismo puro, e glorificam o modelo americano de economia (não a atual, de Obama, mas sim a dos republicanos de Reagan e Bush) até os que defendem as experiências mais macabras possíveis com o objetivo de "brincar com os componentes econômicos", esquecendo-se de que o mercado não é um kit de Química ou um bonsai que se comprou na esquina para embelezar a casa (e que um bonsai deve ser cuidado do jeito certo para não se fazer uma crueldade com a plantinha).

No campo dos costumes também a "imprensa golpista" reflete as divisões de quem a lê: há os que defendem a globalização irrestrita mesmo sabendo que esta fracassou na economia, os que defendem arduamente o politicamente correto nas relações humanas mas que se negam a adotar ações concretas para realizá-lo (ex.: cotas de qualquer espécie para qualquer coisa), e, mais recentemente, os que defendem medidas autoritárias para implantar a ordem nas relações humanas (não é só a lei antifumo, mas toda lei que "civilize" a sociedade bárbara em que vivemos).

Todos esses meio, no entanto, tem duas coisas em comum, entre tantas que as caracterizam: são contra mecanismos de distribuição de renda mínima, como Bolsa Família e etc., propondo a "educação" como solução para todos os problemas do país, desde a falta de desenvolvimento até a língua presa do presidente Lula; e, principalmente, defendem a honestidade e a honra como medida fundamental para a melhoria das instituições e do país - esquecendo-se, no entanto, de que honestidade deveria valer para todos os cidadãos, sem exceção alguma, seja ela política, social ou humana.

Essas são apenas algumas das questões que poderiam ser levantadas nesse email, mas o fato é que não se pode falar em mídia golpista sem falar nos golpistas que a alimentam; aliás, foi por não entender isso que muitos tombaram para que a democracia voltasse ... ou não foi?

Um comentário:

Alvaro Domingues disse...

"não se pode falar em mídia golpista sem falar nos golpistas que a alimentam"

Então... fale!