28.10.09

Conversa com Deus


Senhor, acho que eu nem deveria estar escrevendo esse texto. 


Sabe, muitos até achariam que isso é uma doce bobagem - coisa de criança, sabe, coisa de pessoa fraca, que não sabe o que pensa, nem o que acha da vida, muito jovem para saber os desígnios que se esperam em todo canto, a cada momento, em cada coração. 


Não sei, realmente, se poderia pensar de maneira distinta - afinal, tu, o onipotente e onisciente que comanda as nossas vidas, bem o sabes, e muito mais do que eu. 


No entanto, eu, infinitamente mortal como sou, me digno a fazer o que ninguém faria, ou costumaria fazer - sim, pois muitas vezes ainda nos esquecemos de que, além de Senhor das vidas que perambulam por esse mundo, estejam elas aqui ou não, sejam elas ligadas a ti ou desconhecedoras de tua graça e bondade, Tu és Pai, Pai de todos, o grandioso ser que criou o homem à sua imagem e semelhança, e que teve tanto amor por esse mundo que mandou à Terra seu próprio Filho para que ele saísse do caos em que estava e tivesse o direito de estar junto a Ti.


Sabe, Pai, às vezes tenho pensado como deve ser difícil a vida de Ti. 


Todo-Poderoso e sublime, detentor das forças, és o portador de todo o Bem que existe sob a face da Terra. Tu permitiste muitas coisas, no decorrer dos tempos - e ainda haverás de permitir, já que muito há de acontecer até que o Juízo chegue, e nós, reles mortais, seres ignóbeis perante tua presença, tenhamos que pedir perdão pelos nossos atos, que são muitos, e esperar a humilde clemência que muitos de nós não terão.


Creio, Senhor, que deve ser difícil e muito além do nosso conhecimento mortal saber o quanto Tu sofres com a perda de um filho seu, o quanto Tu sofres com as pessoas que não te reconhecem, o quanto Tu ficas intranqüilo com a capacidade de muitos de enganar e falar em teu nome, como se fossem dignos e capazes de pronunciar o nome "Deus" com o respeito e a admiração que realmente esse nome precisa ter. 


Não estamos nos antigos tempos onde nem seu nome podíamos falar sem nos prostrarmos - no entanto, mesmo naqueles tempos, muitos falavam de Ti com escárnio, e muitos, na vida e na História, usaram teu nome para coisas absurdas e inimagináveis a quem se diz digno de ser teu filho.


Pai, não tenho o direito de pedir-te para ser teu filho. 


Na verdade, Pai, nem mesmo esse direito teria, se Tu não me desses a força e o dom de poder estar junto de Ti. 


No entanto, meu Pai, eu somente lhe peço que possa lutar pela vida, e fazer de cada dia, e de cada momento, alegria ou tristeza, uma prova de amor, de esperança e de fé, e de toda a certeza de que um dia, enfim, poderei olhar para os lados, e dizer-te, como o desabafo de quem já fez tudo o que pode nessa vida ingrata, e enfim venceu: "Senhor, me leva daqui!".


Sei que sou falho, pecador, inútil e infiel. Mas também sou teu Filho, e quero mudar. Quero melhorar aquilo em que sempre fui bom, corrigir meu erros, apurar minhas falhas e fazer de minha vida um reflexo daquilo que há de bom no mundo. Prometo lutar, e confiar em Ti, pois não tenho força suficiente para transformar-me sem tua unção e teu infinito saber.


Que eu possa mudar o mundo e ser digno de estar aqui.


Que eu possa ser a força para os fracos que encontrarei.


Que eu possa encontrar apoio, e auxílio na vida que estou.
 

Que eu possa honrar o amor, e encontrá-lo, bem dentro de mim.


E, finalmente, que o que eu escrevo possa ser para todos um alívio, uma certeza, uma vontade, uma verdade, um apoio, uma bênção, uma alegria, uma força - e que, nesses textos, eu possa mostrar o mundo como ele é - e, acima de tudo, como ele deveria ser, mas não o é.


E assim, Exaltado Senhor, eu termino essa carta. Enquanto escrevo, oro e peço para que estejas conosco, e deixo essa carta nas mãos de teu Filho Jesus para que a entregue, com meus sinceros votos de que perdões e guardes, por todos os dias das nossas vidas, pelos séculos dos séculos, até que o final da vida nos leve, e venhamos morar contigo eternamente, em paz.


E que assim seja.



fps

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