Em nossa caminhada pelo mundo, seja ele real ou virtual, somos acompanhados por pessoas que nos levam a repensar nossas crenças e valores, ou em revirar o nosso passado em busca do que éramos, a fim de descobrir nosso presente e futuro, num esforço contínuo para relembrar nossa história pessoal - aliás, um dos problemas do Brasil é que temos o hábito de esquecer de nossa história a cada mudança de governante, o que será assunto no dia em que estiver inspirado pra isso (ou seja, hoje não será esse dia).
Em todo caso, um comentário com relação a Deus e a como o entendemos como tal me fez relembrar desse texto aqui, em que tento explicar um pouco aos leigos como funciona a cabeça do povo evangélico, além de defender minha opção por ser “crente” num mundo dividido entre o materialismo da década de 90 e a religiosidade tradicional brasileira, em geral agnóstica no topo da sociedade e católica na base da pirâmide.
Tenho que concordar com muitos que daquele tempo para cá muitas coisas mudaram: se em 1996 o povo de Deus somava pouco mais de 12% da população, 12 anos depois esse percentual chega a cerca de 20%, com tendência a subir (há quem diga que em 2020 seremos metade da população, como cita essa matéria da Época).
Entretanto, a própria revista nos alerta de que a grande maioria dessa população evangélica será de não-praticantes, o que, apesar de natural, significará um a dor de cabeça a mais aos que ficam na Igreja, já que separar o joio do trigo será cada vez mais difícil no futuro – e o sincretismo religioso típico do brasileiro crescerá e se notará cada vez mais dentro das Igrejas, de tal forma que matérias como essa e essa serão cada vez mais comuns no futuro.
As perguntas também mudaram: se antes nos indagavam como é que podíamos estar do lado de gente com mentalidade tão atrasada, soma-se agora a indignação com lideranças do meio evangélico que são identificadas como picaretas sem tamanho – e que, aliás, são denunciadas inclusive dentro do meio por sites como o dos Bereianos, úteis para identificar os safados que andam sempre nesse meio.
Inúmeros são os assuntos que poderíamos tratar nesse post, mas o fato é que não há como deixar de pensar como doze anos mudaram os conceitos sobre os evangélicos mas não a sua essência, a saber, de que os motivos que levam uma pessoa a converter-se continuam os mesmos, antes e hoje; lógico que há muitos que procuram a Igreja para resolver problemas do presente, mas só se persiste na fé cristã quando se acredita nela de todas as forças e de todo o coração.
Ou seja, quando João 3:16 deixa de ser um versículo da Bíblia, para ser a verdade sobre ela.
…
Como pode, então, um evangélico ser libertário, como o comentário que motivou esse post?
Simples definir: a Reforma Protestante foi um movimento pela liberdade de não seguir a fé infalível da Igreja dominante, e que foi beneficiada pela influência crescente da burguesia de então; e liberdade de culto nos é garantida pelo mesmo artigo 5° que dá o direito à liberdade de expressão e condena a discriminação, e que é fundamental para que se possa ter o direito de evangelizar nesse país (o que não é pouco se considerarmos que para 1/3 dos cristãos no mundo falar de Cristo significa cadeia, perseguição e morte).
Deveríamos reconhecer, no entanto, que há muito erro no meio evangélico: muitos de nós se perderam em discussões doutrinárias e esqueceram de seu papel na sociedade, ou escolheram sempre o “lado negro da força” nos momentos cruciais da História (como em 64, onde só os metodistas e a Igreja Presbiteriana Unida foram contra a ditadura militar), esquecendo-se de que os ditadores costumam esconder a crueldade dos seus atos sob o manto da moral.
É pena que muitos não reconheçam isso - mas o fato é que enquanto houver liberdade teremos Igreja livre, e, parodiando o Dimenstein no caso Geisy, é melhor termos a liberdade para ouvir muita besteira que liberdade nenhuma só para ouvir a ordem da maioria.
A qual, diga-se de passagem, eu não pertenço por opção.
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