4.4.10

Os jogadores do Santos e a “religião geral”

Falaram um monte de coisas a respeito das atitudes dos jogadores do Santos no lar financiado pelos espíritas: muitas condenando a atitude, outras discutindo o que de fato aconteceu e outras falando do contexto religioso, que foi a justificativa de muitos para não descer do ônibus e conversar com as crianças com paralisia cerebral.

Não vou entrar no mérito das atitudes estúpidas da presidência do Santos, disposta a fazer marketing com assuntos que são seríssimos, nem dizer que os jogadores agiram com ou sem profissionalismo, já que estes deveriam de fato ter sido avisados antes do que iria acontecer e evitar ir a locais onde não se sentissem bem.

Entretanto, uma pergunta vem à cabeça desse cidadão que vos escreve: porque é tão fácil criticar a posição religiosa dos outros quando as pessoas não fazem o que se espera delas para dar testemunho de sua fé?

Sendo mais específico: porque é tão fácil aceitar diferenças de raça ou sexo ou opção sexual e tão complicado aceitá-las quando princípios religiosos estão em jogo?

Parece que no Brasil temos um problema sério quando o assunto é ser de determinada religião: há uma espécie de “igreja tudo de bom” que impede as pessoas de exercer sua fé quando ela vai contra os princípios gerais de convívio em sociedade.

Tipo assim, se tal coisa vai contra seus pensamentos e isso significa entrar em conflito com a opinião vigente na sociedade, ninguém pensa que diversidade também significa respeito às opiniões dos outros – crucifica-se quem não respeita a “fé do bem”, como se princípios de fé pudessem ser jogados no lixo, e como se o respeito aos outros também não passasse pelo que eles pensam, tanto quanto pelo que eles são.

Essa espécie de “religião geral” diz, entre outras coisas, que Cristo era um homem cujo maior legado para o mundo foi pregar o amor; chama qualquer atitude católica de devoção e despreza o calvinismo por professar o gosto pelo lucro (advindo, lembremos, do trabalho duro); mas, principalmente, prega o caminho de um deus pessoal que apenas pede que todos sejamos “do bem” para sermos felizes aqui.

Esquece-se, contudo, de que o objetivo do homem não deve ser apenas ser feliz nesse plano existencial – e, mais ainda, esquece-se de que as pessoas tem opiniões que podem entrar, sim, em choque com esse mundo pasteurizado em que vivemos.

E do qual, aliás, muitos não querem fazer parte.

Que os jogadores dos Santos e sua diretoria cometeram erros primários de comunicação, isso é verdade; que os evangélicos também precisavam aprender a ajudar mais aos próximos, o que é um erro gravíssimo do protestantismo brasileiro (olhar mais para dentro das Igrejas do que para fora delas), também é verdade.

Mas isso não significa que precisemos considerar errada a religião de alguém por causa disso; afinal de contas, o que você chama desrespeito outros chamam de testemunho.

Ou, traduzindo, uma coisa que falta muito nos dias de hoje: coerência.

P. S.: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” (Jo 3:16)

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