24.10.10

Homenagem aos filhos que terei (ou que estão chegando)


POEMA ENJOADINHO
(Vinicius de Moraes)


Filhos… Filhos?
Melhor não tê-los!


Mas se não os temos
Como sabê-lo?

Se não os temos
Que de consulta

Quanto silêncio
Como os queremos!

Banho de mar
Diz que é um porrete…

Cônjuge voa
Transpõe o espaço

Engole água
Fica salgada

Se iodifica
Depois, que boa

Que morenaço
Que a esposa fica!

Resultado: filho.

E então começa
A aporrinhação:

Cocô está branco
Cocô está preto

Bebe amoníaco
Comeu botão.

Filhos? Filhos
Melhor não tê-los

Noites de insônia
Cãs prematuras

Prantos convulsos
Meu Deus, salvai-o!

Filhos são o demo
Melhor não tê-los…

Mas se não os temos
Como sabê-los?

Como saber

Que macieza
Nos seus cabelos

Que cheiro morno
Na sua carne

Que gosto doce
Na sua boca!

Chupam gilete
 

Bebem shampoo

Ateiam fogo
 

No quarteirão

Porém, que coisa

Que coisa louca

Que coisa linda

Que os filhos são!

 

Extraído do livro "Antologia Poética", Editora do Autor – Rio de Janeiro, 1960, pág. 195.

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