Sempre que passa pela cabeça desse autor falar da velha e boa discussão sobre homens e mulheres, vem a mente que os sexos opostos não sabem de fato o que querem um do outro – e textos como esse, de Eliane Brum, são o exemplo vivo de que não sabemos mesmo o que queremos dos nossos “oponentes”.
E, em certas horas, confesso sentir-me ofendido, não como "macho" que nunca quis ser, mas como o homem que sou - até porque a tal "crise do macho" tem sido encarada pela grande maioria dos homens como se ela simplesmente não existisse, mesmo com todas as mudanças pelas quais a sociedade passou (e ainda passa).
Mais do que nunca porque a grande maioria das mulheres confessa não querer o macho convencional, que cada vez é mais raro, mas também não sabe de fato que tipo de verdadeiro homem quer para si.
E esse é um fato natural, até porque cada fase da vida de uma mulher requer um tipo de homem, e porque cada uma delas é especial, com necessidades específicas e desejos que não são, necessariamente, os de ser alguém "dominante" na sociedade.
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O que é, contudo, o “ser dominante”?
Até porque, convenhamos, ser dominante implica em responsabilidade pelos outros, tomada de decisões, e consciência de que ser "o alfa" significa comandar um grupo e zelar pelo seu bem-estar.
E mandar, diga-se de passagem, não é fácil.
Quem manda é quem assina o cheque e traz o dinheiro para casa; quem comanda a casa sabe ser duro quando é necessário; e nem sempre ser o "alfa" significa ser doce.
Aliás quase nunca se é doce em posição de comando: Margaret Thatcher (a Dama de Ferro), Golda Meir (duas guerras ganhas como primeira-minstra de Israel), e, porque não, Dilma Roussef que o digam - todas elas duronas, firmes, decididas e capacitadas para o comando.
E bem sucedidas, até porque ser o “alfa” significa assumir o controle, muitas vezes pela força, o que muita gente não gosta.
Ser o comandante das atitudes e ações em uma casa não significa necessariamente ter vantagem nisso: muitos e muitas experimentam a solidão típica dos que estão em posição de comando, e tem os sofrimentos típicos do ser "alfa". A única diferença é que aos homens nessa posição é dado o direito de ter uma mulher, ao seu lado, como companheira fiel.
Função para a qual muitos homens não são preparados, e que muitas mulheres não aceitam no marido ou companheiro que está ao seu lado, num paradoxo da sociedade pós-feminista: a mesma mulher que deseja um homem diferente não o aceita quando mais precisa dele.
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O que me espanta mais nesse texto, contudo, é o que li quando se fala sobre a periferia das cidades, e dos homens que se embebedam nas ruas dia-a-dia como efeito dessa revolução feminina - e por um motivo muito simples: todo mundo sabe que os homens e mulheres de bem não estão nas ruas bebendo durante a semana.
Não é típico do brasileiro, a não ser no horário do almoço ou de descanso, embebedar-se demais, a não ser que seja um vagabundo; e vagabundos não são a maioria dos homens.
Muito pelo contrário: o homem de verdade, aquele que trabalha de sol a sol para sustentar sua família e chega cansado à própria casa, esse não é visto pela autora, que prefere falar das mulheres batalhadoras que enfrentam seu terceiro tempo, esquecendo-se de que os serviços domésticos são mal-distribuídos desde muito tempo, motivo pelo qual ela vê o homem cada vez mais como "sem função" dentro da casa.
Qual seria, então, a realidade ideal desse homem?
A realidade das famílias sem pai, em que a mãe assume a função paterna e se enrijece com o passar dos anos, e na qual o ex é visto como "aquele sem nome", que não é digno nem de estar perto dos filhos, e que provavelmente vai se casar de novo, com uma mulher muito mais nova, e esquecer-se da família original?
O que prefere, de fato, a autora desse texto?
Um mundo mais sensível, ou sem regra alguma?
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Penso eu que, num contexto qualquer, masculino e feminino sempre existirão: mesmo entre casais homossexuais percebe-se que um dos lados assume o papel masculino, e o outro se coloca na posição do feminino, com as virtudes e defeitos que cada um deles possui.
Yin e yang, são complementares, não excludentes; qualquer forma de pensar que não seja desse jeito deveria ser combatida, até porque não havia nenhuma vantagem em ser o "macho-alfa" numa sociedade em que ele, de fato, nada sabia sobre sua casa, ou sobre quem nela frequentava.
E se "a cabeça (homem) só vê o que o pescoço (mulher) mostra", então ser alfa, nesse caso, não serve para coisa alguma.
A não ser, é claro, mostrar “que também pode”.
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