27.9.11

Poesia

Eu perdoaria os erros do passado,
e as sandices do presente;
 
perdoaria meus próprios pecados,
se assim o pudesse;
 
perdoaria a tudo e a todos,
antes que morresse em vida;
 
perdoaria a mim mesmo, sempre,
para ter uma vida tranquila;
 
perdoaria a todos os que sofrem,
para que pudessem viver em paz;
 
perdoaria ao mundo que mata,
e esfola por coisas vis;
 
perdoaria a quem se desmerece
por culpa do vil metal;
 
perdoaria os burros, os idiotas,
e tantos outros mais;
 
perdoaria quem se mete em encrencas,
tão vis quanto iguais;
 
perdoaria ao meu semelhante, ao meu amigo,
e ao mais chegado irmão;
 
perdoaria quem mata, quem morre,
por um pedaço de pão;
 
perdoaria por tantos pecados,
quem sou eu pra julgar?
 
perdoaria até os que não merecem,
pelo menos pelo prazer de usar esse dom
chamado perdão.
 
 
 
Eu te perdôo.
 
Mas fazer o quê,
se quem deve perdoar ... não sou eu?

fps, em dia que não lembro

12.9.11

Poesia: Por favor …

Por favor ...

Bata na porta antes de entrar.

...

Não bata a porta depois de entrar.

...

Não bata a porta, em quaisquer circunstâncias.

...

Não bata a porta.

...

Não bata o carro.

...

Não bata no vizinho.

...

Não bata.

...

Não beba antes de dirigir.

...

Não dirija depois de beber.

...

Não beba demais em festas.

...

Não beba demais em casa.

...

Não beba demais na rua.

...

Aliás, nem beba.

...

Não peça fiado.

...

Pague o que deve.

...

Não faça feio co´a sogra.

...

Não fale mal do seu chefe.

...

Não fale mal do colega.

...

Não fale mal de ninguém.

...

Não fale alto, p´ra não chamar atenção.

...

Não fale baixo, p´ra que´u possa te ouvir.

...

Não xingue ninguém.

...

Não perca a calma.

...

Não me xingue.

...

Não me encha a paciência.

E não diga que eu não te avisei.

 

fps, 05/02/96

10.9.11

Dez anos atrás … memórias do 11/9 …

Estava em atendimento, vendo um acesso à rede na Unidade Administrativa, quando a notícia ecoou:

- Gente, vocês não imaginam, um avião se chocou contra o Empire State, está o maior auê lá em Nova York, que coisa!

Demorou um tempo até conferir a notícia e ver que não era o Empire State, e sim as Torres Gêmeas; mas o primeiro impacto foi de pensar que era somente uma enorme tragédia, um acidente aéreo de graves proporções que comoveria o mundo pela sua extensão.

Nem imaginava que estava vendo a História passando à minha frente, e que, sem perceber, fazia parte dela.

- Outro avião, bateu na segunda torre.

Súbito, a lembrança de um nome, que até então era apenas uma lembrança da manchete dos jornais, aquele que estava no topo da lista de homens mais procurados pelo governo americano:

- OSAMA BIN LADEN!

- Osama-bi-o-quê?

Compreensível a reação do meu colega de mesa - o terrorista mais procurado do mundo era então apenas isso, um terrorista, não a marca do terror que assolaria o mundo nos dez anos seguintes.

- As torres caíram; oito mil mortos.

O silêncio que se seguiu foi de funeral: todo o resto da tarde foi de trabalho em silêncio. Nenhum comentário, nenhuma fala, muito menos as piadas de praxe: só o som dos teclados e, no fundo, o sentimento de que o mundo estava mudando, diante de nós.

Só não sabíamos no que se tornaria.

Dez anos se passaram, e o “nine-eleven” ainda é uma chaga no coração americano e um tormento para o mundo.

Idéias se deturparam, valores se perderam, os direitos humanos se tormaram em piada, e a democracia, apesar de formal, está cada vez mais para um retrato na parede do que uma idéia verdadeira.

Hoje somos revistados exaustivamente no JFK, mas não nos sentimos seguros de verdade; vendemos nossa privacidade para um Big Brother virtual, em troca de uma proteção que não sabemos se é real.

Muitos morreram nas guerras que se seguiram, para apagar as chagas da vergonha estadunidense; Bin Laden foi morto, mas o mundo está longe da sonhada paz, porque o fantasma dele ainda nos assombra.

Os palestinos continuam tem sua pátria, Israel continua sem segurança, e as mulheres no Irã ainda são lapidadas.

E eu, enquanto isso,  filosofo, pensando no desabar do modelo do “american way of life”.

Enquanto ao meu redor desfilam mais e mais produtos.

Todos, sem exceção, com uma etiqueta.

“Made in China”.

4.9.11

Uma antiga poesia, revisitada …

 

meia-noite

 

Meia-noite.

 

Na grande cidade

alguns dormem cedo.

 

Outros, em segredo,

procuram os cantos,

procuram encantos,

procuram o medo.

 

Outros, sem recanto,

procuram alento.

 

Outros, sem receio,

procuram perigo,

procuram abrigo,

procuram a luz,

carregam sua cruz,

alma que seduz.

 

Que mata …


Jesus!

 

 

 

Outros, na berlinda,

em procura infinda,

acham nos seus meios,

nos grossos desejos,

querem diversão,

escondem tensão,

procuram tesão.

 

E têm solidão.

 

Uma parte dorme,

a outra acorda,

em tempos se forma,

em termos recorda,

de doce recado,

de um bom-bocado.

 

Gosto de pecado…

 

 

E procura aquilo

que em termos é findo.

 

Procura um alento,

que já é bem-vindo.

 

Procura calor,

não acha o amor.

 

Procura, procura,

um jeito, uma cura.

 

 

Procura ...

 

 

 

 

Meia-noite.

 

Na grande cidade

procura-se tudo.

 

E não se acha nada.

 

 

fps, 03/09/2011

(revisitando antiga poesia)