16.9.12

Automobilismo e desafio intermodal (ou “a eterna discussão, mais uma vez, sobre o futuro que não chega”)

 

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Sábado, 15 de setembro.

A fina flor do automobilismo de competição em Interlagos.

Num evento divulgado à exaustão por Emerson Fittipaldi, que até se propôs a comentar GP ao lado de Galvão e cia. ltda. para promover o espetáculo.

Colírio para quem gosta de carros, “como todo brasileiro”.

E, no dia … autódromo vazio, com carros magníficos correndo para absolutamente ninguém, como relata Flávio Gomes em seu blog (de onde, aliás, a foto acima foi tirada).

….

Dá para entender a raiva de quem vê um evento como as 6 horas de Interlagos sendo desprezado pelo público em geral. E isso acontece principalmente porque aqueles que gostam de boas corridas se iludem, acreditando na propaganda do posto de gasolina que vende de tudo, até combustível, aos que “gostam de carro”, supostamente todo brasileiro.

Ora, vamos falar a verdade, brasileiro nunca gostou de automobilismo de verdade, e nem dá para dize que gosta de carro.

Brasileiro gosta do status que o automóvel fornece a quem o compra, ainda que seja uma porcaria comparado com seus similares europeus, mas, tirando a Formula 1 e a Indy, não está nem aí para as categorias nas quais um brasileiro não esteja correndo com chances de vitória.

Brasileiro gosta mesmo é da pachecada, de “secar”, de ridicularizar o outro quando perde; brasileiro gosta é de “Brasil-sil-sil”, de inventar desculpa para quando perde jogo, de procurar culpados e desvalorizar profissionais quando eles perdem.

Como fez com Rubinho. Como faz com Massa.

E como faz com qualquer um que não seja “bom” o suficiente para defender o país lá fora, segundo o “patriota de sofá”.

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Enquanto isso, mais uma vez, os cicloativistas tentam justificar o injustificável …

Francamente, não queria estar na pele de quem tem que defender o carro num desafio intermodal, que é o pior lugar do mundo para se estar motorizado. Aliás, tais eventos são bonitos de se ver, bicicleta ganhando de todo mundo e cortando caminho por onde só pessoas passam, enquanto os carros respeitam todo tipo de sinalização.

Não é possível, contudo, que não se perceba que num trânsito engarrafado o automóvel perde de todos os outros meios porque a rua está lotada, e a calçada, vazia. Simples assim, não precisa fazer muito esforço para perceber esse “pequeno detalhe”.

Até porque, para muitos, carro é necessidade.

E, taí, gostaria de saber se há algum meio de desafio intermodal que envolva situações reais, que não sejam simplesmente levar as pessoas do ponto A para o ponto B com rapidez e sem gastos ambientais.

Como, por exemplo, levar os filhos à escola, ou as compras “de mês” do supermercado para casa. Ou, ainda, sair de manhã para trabalhar num escritório, de terno e gravata, encarando a poluição e o suor inevitável de quem encara o calor senegalesco da São Paulo seca.

Ou, melhor ainda, exigir que os participantes de bike usassem roupa social e se locomovessem numa BarraForte de uma marcha, como tanta gente pobre que vai de um lado a outro de bike por necessidade, e não porque está construindo um mundo melhor.

Porque para essa gente, os pobres da Barra Circular, “mundo melhor” é comida na mesa e dinheiro no bolso; gente que, aliás, tem muitas vezes só um objeto de desejo.

Ter um carrinho, de qualquer tipo e motor, e sair da vida dura de metrô lotado e condução apertada.

A tal ponto que, quando recebe a chave do seu “demônio”, chora …

Tem gente que acha que estão salvando o mundo com suas escolhas, mas elas não tem mais o que fazer a não ser sonhar com utopias; outros, por sua vez, precisam garantir sua sobrevivência e não tem tempo para pensar em “frescura”.

Os primeiros, parte da classe AB, tem força na internet e fazem todo um auê em cima de um futuro que não chegará tão cedo.

Os segundos, bem, os segundos são aqueles que com seus mínimos salários estão segurando a economia, mantendo o consumo de pé.

A tão desprezada classe C …

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