14.11.12

O Brasil ideal está ao nosso alcance … basta que paguemos o pedágio …

 
 
Volta e meia leio nos jornais e revistas comentários sobre o Brasil ideal, e apontando modelos que, se supostamente adotados à risca, fariam do nosso país um modelo perfeito para o mundo, capaz de ganhar Copa, Olimpíada e ter as melhores condições de vida, sem falar na sonhada EDUCAÇÃO que o povo tanto precisa para ser melhor.
 
E, observe, escrevo EDUCAÇÃO em maiúsculo porque essa é outra obsessão do povo brasileiro, verdadeira Lei de Godwin brasileira, mas que fica para outro texto porque, bom, porque tem certas coisas que se lê na internet brasileira que assustam, já que por trás dos teclados todo mundo é corajoso para escrever o que acha e deixa de achar de tudo e de todos, e fazer torcida organizada sobre tudo o que o cerca.
 
Eu, inclusive, também faço isso.
 
E talvez porque exista tanta gente que escreve, e tem opinião formada sobre absolutamente tudo, é que surgem tantas ideias desconexas sobre o Brasil dos nossos sonhos, um país tão capitalista como os EUA, erudito como a França, onde as leis são obedecidas como em Cingapura, que tivesse a educação e saúde perfeitas como as de Cuba e o desenvolvimento social da Noruega, tendo de bônus a felicidade do Butão.
 
Tudo isso, ainda, pagando impostos de paraíso fiscal, e sem gastar muito com eleições, de preferência com deputados que ganhem tanto quanto os da Suécia, ou seja, zero de subsídios para quem apenas deveria “representar o povo” e “fazer leis”.
 
Perfeito, não é?
 
Só que não, não é assim. Nem deveria ser, por sinal.
 
 
A Shangri-la da classe média não existe, e não basta "vontade política" para que ela possa ser encontrada. É preciso que se pague o preço de viver numa sociedade ideal, o “pedágio” a que se refere o título desse texto.
 
Por exemplo: não é possível ter a igualdade social da Escandinávia, principalmente da Dinamarca, sem lembrar da Lei de Jante, aquela que diz claramente que “ninguém é melhor do que ninguém”. E entenda, cidadão da classe média que paga seus impostos e exige seus direitos, mesmo que você tenha pós-graduação, doutorado, mestrado e o escambau, para viver com dignidade em um país desses tem que entender que NINGUÉM É MELHOR DO QUE NINGUÉM.
 
Nem você, nem o faxineiro, nem o jovem, nem o velho, nem sua esposa, nem o moreno, loiro, negro ou quem quer que seja. Não há diferenças, nem privilégios.
 
Estamos bem assim? Ou isso te desagrada?
 
 
Que tal o Eldorado da classe média, os Estados Unidos da América, terra das liberdades e dos produtos baratos, da oportunidade para todos, e para onde todo mundo quer ir? Quer dizer, nem todo mundo, porque os brasileiros que estão lá já estão voltando, principalmente se não estiverem com o “green card”, o que, na prática, só evita que você não seja deportado no primeiro avião para sua casa.
 
Entretanto, saiba que a vida lá também não é fácil. Paga-se pouco imposto, é verdade; mas tudo o mais, você paga. Saúde, educação (bem, isso depende), transporte, tudo é privado, bancado com o seu bolso, ou as “suas economias”, que lhe garantem a diferença entre trabalhar até cair e ter uma aposentadoria dignia.
 
Natural para uma população adepta do “farinha pouca, meu pirão primeiro”, e que valoriza tanto o esforço pessoal que não admite falhas, e chama de “loser” quem ficou para trás.
 
“Loser”. PERDEDOR.
 
Ou, para ser mais exato: um fracasso.
 
 
Apresentei dois exemplos, mas poderia apresentar “ene” outros.
 
Um dia pretendo, inclusive, voltar a esse tema, com mais digressões a respeito de como nós, povo brasileiro, desejamos os bons resultados de outros países, sem, no entanto, estudar como eles chegaram à situação atual, seus acertos e erros, e, principalmente, se queremos passar pelos sacrifícios necessários para ser “a nação perfeita”.
 
Se é que, realmente, essa nação existiu um dia.

2 comentários:

Raul Anduze disse...

Interessante as suas colocações, Fábio, aquela história de todo mundo querer todos os seus direitos, mas ignorando os respectivos deveres.

De fato as benesses dos países desenvolvidos não foram obtidos num estalar de dedos, não basta querer, mesmo com o diagnóstico para o rumo certo, creio que as mudanças, mesmo se estando disposto a "pagar o pedágio", seriam de médio e longo prazos,.

Quanto aos USA é comum vermos mesmo filmes ou séries o termo "looser", talvez melhor traduzido como "fracassado", parecendo estar arraigado na cultura, gerando grande indignação em quem é ofendido desta forma, desde crianças.

Na Suécia há anos ouvi falar que o sujeito tem curso superior, mas trabalha como condutor de metrô, talvez por lei similar à de de Jahnte, num país com alto grau de socialismo e bem estar, mas com considerável taxa de suicídios.

fps3000 disse...

"Approve"


Em 1 de julho de 2013 16:31, Disqus escreveu: