4.6.13

Nosso Tea Party e a Bolsa Família

André Forastieri, mais uma vez, foi ótimo ao tentar explicar porque os pobres precisam do Bolsa Família - mas, para variar, sempre tem quem não entenda e não vai querer entender o porquê desse programa social.

E dá para entender muitos desses argumentos, típicos dos "pagadores de impostos" ou "eternos explorados" desse país, a classe média que, a exemplo dos "53%" do Tea Party americano, acredita piamente na versão tupiniquim do pensamento americano que diz que todos tem as mesmas oportunidades de crescimento se tiverem "educação de qualidade", ou outras soluções simplistas para a desigualdade social.

Soluções paliativas, que não passam por inverter a lógica do capitalismo, tão injusto quanto o rio que corre naturalmente para o mar, a não ser que exista uma barreira que inverta esse fluxo.

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Eu bem gostaria de que tivéssemos emprego de sobra nos rincões desse país, e gente preparada para assumir esses trabalhos que todos acham que existe nas áreas miseráveis do Brasil. 

Mas não tem, e isso é um fato concreto. Se há trabalho, é para os poucos que tem a sorte de estar ligados aos poderosos da região, muito mais por berço do que por mérito, ou para quem se sujeita a receber salário de fome e ser dependente eternamente dos favores de alguém.

Mas, tudo bem, "se você não quer, tem quem quer", não é mesmo?

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Ah, mas você tem o direito de ir e vir ... que força multidões de miseráveis a vir para os grandes centros a procura de sobrevivência, para si ou para sua família. Poucos tem estórias de sucesso para contar; e os que tem reforçam o coro dos nossos "53%", até porque são a prova viva de que "as coisas dão certo para quem trabalha duro".

Nem sempre, porém, é assim: detalhes sutis criam uma maioria de despreparados (ou "losers"), que ou vai reforçar o contingente das favelas, e servir de mão-de-obra barata, ou aceitará ser massa de manobra de outros poderosos, ou - se perdeu a dignidade, ou se nunca a teve - vai para a bandidagem pura e simples, atazanando a vida dos "homens de bem".

Que preferem pagar uma polícia sangrenta a investir numa "redução de danos", como o Bolsa Família e outras políticas sociais são de verdade.

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Sim, porque no fundo o Bolsa Família é exatamente isso: redução de danos, como dar seringa a um drogado. 

O "imprestável", que "não estudou", recebe pelo menos um troco para que mande o filho à escola e faça o mínimo que é necessário para salvar a próxima geração, ou seja, garanta que ele saia da classe "E menos" para a classe D. Ainda que seja só pela frequência na escola, já é alguma coisa: na pior das hipóteses, o filho desse cidadão poderá ler e escrever, e fazer um trabalho melhor do que o "bico" onde o pai trabalha. Talvez um dia, inclusive, possa sustentá-lo e cuidar para que não dependa do governo.

Tem cabeça-oca que recebe o programa e desperdiça? 

Tem, sem dúvida.  Assim como em todas as famílias tem quem pratique pequenos "delitos" que deixamos passar em branco - porque são coisas que "os nossos" fazem continuamente.

E porque "todo mundo faz". Ou porque "os políticos não prestam".

Como se não fossemos nós que colocássemos esses "bons homens" lá.

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Ora, se vocês não acreditam nos números que comprovam que a Bolsa funciona, ou nas comparações que os especialistas fazem, acreditem nisso: pagar alguém para não ser um estorvo também é pagar pela segurança da sociedade como um todo. Afinal, se "eles", os beneficiários da Bolsa, são sanguessugas, melhor pagar para que eles não nos incomodem, não nos roubem, não fiquem tirando a paz do nosso "Tea Party" tupiniquim.

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Para não nos atrapalhar. 

Só por isso, já vale a pena pagar a Bolsa.

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