15.6.13

Prosa: A Revolta do Vinagre ... e o Zé

Congestionamento. Dos brabos.

Por causa de um bando de estudantes que lutavam pelo preço da passagem, e de outros tantos bandos que, a pretexto de lutar pelos seus interesses, sairam das redes sociais para protestar, gritar, falar que alguma coisa estava errada.

Na passagem. Na Copa. No mundo.

E, no meio disso, temos o Zé. Que está no "bumba", o" "busão", voltando para casa.

E já está ficando atrapalhado com toda aquela confusão.


O Zé é um cara normal.

Com seus vinte e poucos anos, que parecem mais, olhos cansados de quem acordou cedo, e está no meio do caminho para sua casa.

Já que aquela será a primeira das duas baldeaçoes que fará na volta ao lar.

Primeiro o metrô. Depois, outro "busão".

Que o deixa mais atrapalhado do que já estaria normalmente.

,,,

O Zé fez segundo grau. 

Tentou fazer cursinho, mas desistiu.

Vai tentar de novo, inspirado pelo Prouni da dona Dilma, aquela que vaiaram lá no estádio, dia desses.

Não sabe porquê, o coitado do Zé.

Ela é tão boa, dá dinheiro para os pobres … se bem que a inflação ´tá aumentando, nem sobra para pagar no fim do mês.

Sei lá, deve ser por isso que vaiaram ela.

Mas não sabe. Talvez porque esteja ficando cansado.

E atrapalhado.


O Zé queria fazer faculdade. Se fizesse, estudaria bastante, e, talvez, tiraria boas notas.

Queria fazer História, para ser que nem o professor dele.


Irineu.

Um cara bacana, de rabo de cavalo, que dizia um monte de coisa bonita e era casado com uma ex-aluna, uns vinte anos mais jovem que ele, que andava sempre toda arrumada e perfumada.

Muito gos … er, muito elegante, a esposa do professor Irineu.

Mas o Zé … o Zé queria estudar, melhorar o salário, sair daquela vida.

E comprar um carro. Sim, um carrão.

Para deixar de pegar condução, pelo menos uma ou duas vezes por semana.


O Zé está atrapalhado. Jà está bem cansado.

E nisso, lembra do Otacílio.


Um colega do trabalho, "velhão", à beira da aposentadoria.

Grisalho, cabelos brancos, meio autoritário mas muito "gente boa".

Um saudosista descarado, que falava sempre dos bons tempos em que se andava na rua sem medo, porque eles, os militares, cuidavam de tudo.

Em que se cantava o Hino Nacional todo dia nas escolas. Em que se estudava Moral e Cívica.

E os Generais, presidentes, eram aplaudidos nos estádios.

...

"Ê, tempo bom …", falava sempre o "Ota", que insistia que hoje não há mais respeito, nem pelos trabalhadores, nem pelos velhos, nem pelos pais.

Nem por ninguém. Como no passado.


O Zé está atrapalhado. Cansado. Suado.


Lembra que a mãe dele vai fazer o prato preferido.

Costelinha de porco, fritinha, cheirosa.

Humm … já sente o cheiro, só de pensar ...


E a manifestação que não passa.


Liga o celular, o Zé, para a mãe, que deve estar preocupada.

E tem a má notícia: a costela acabou, os irmãos comeram tudo.

Agora, só na semana que vem.

Isso, se tiver dinheiro para comprar costelinha no fim do mês.


O Zé esta atrapalhado. 

Cansado. Suado. Fedido.

E pensa, pela primeira vez, que talvez o Otacílio tenha mesmo razão.
fps, 15/07, 19:08

Um comentário:

Jade Dantas disse...

Amei o texto do Zé. Aos poucos o envolveu na política sem o Zé saber, coitado do Zé, que só está cansado. Excelente, gostei demais.