14.1.15

Prosa


Apresentando o filósofo

                Conheci o filósofo volta de uma viagem que fiz ao interior do Nordeste (ou será do Norte ? Faz tanto tempo que nem sei ...). Era um senhor, já avançado em dias, cabelos grisalhos combinando com o sol da tarde que fulgia pelos campos ressecados pela seca, boca corroída pela falta de cuidados, barba grossa e grande combinando com a túnica que usava (branca de início, gasta pelo tempo). De mente já muito usada, jurava ser ele o homem que nascera “há dez mil anos atrás”, como diria o saudoso Raul, e que fazia dele um homem santo, consultado por uns, odiado por outros e ignorado pela grande maioria das pessoas. Mas não é disso que quero falar agora.

                O fato é que o velho era um sábio. Um sábio de muitas palavras, de poucos costumes, de pele morena, curtida no sol, mas que sempre sabia encontrar um jeito sábio de encantar aqueles que se sentavam para ouvir suas palavras. Um homem de muita fé, fé que ele cultivava de um jeito todo particular, preocupado mais com outros do que consigo, e que preferia a dureza das ruas ao conforto de uma casa que dizia ele ter nos sertões do Brasil. Um homem de fibra, descomunal, mais forte do que muitos, que ele atribuia a uma vida de “poucos confortos, comida de gente, um pouco de vinho e muito, mas muito prazer”, como ele mesmo dizia.

                Quem seria ele ? Um santo ? Um louco ? Um sábio ? Ou apenas mais um velho querendo conforto e que só necessita falar de si mesmo, e passar o que aprendeu a outros, para que possam preservar os costumes de sua terra e de sua gente, e aprender com tudo isso um pouco mais de si mesmos ?

                Não sei, não sei. Só sei de uma coisa: esse homem me ensinou muito mais coisas do que muitas pessoas cultas que vi nessa vida, arrotando arrogância e dizendo palavras complicadas. Suas frases eram simples; seu jeito, era singelo; sua linguagem, dotada de extrema força e compreensão, era um apelo a que as pessoas o ouvissem, sempre mais e mais. E, no futuro, escreverei um pouco do que ele me ensinou, do seu jeito, a seu modo, e que ficou gravado no meu coração.
               
 fps.

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