3.6.15

Conselhos que eu queria dar a um filho, ou filha - parte I



Cecília, Mariana, Giovanna ou Maria Cláudia, se menina. 

Ricardo, Arthur, João Alexandre ou Renato, se menino.

Há muito tempo queria escrever esse texto para você. 

E para o Pedro, Aninha e Laura. Laís, também. Manoela e Isabela, também. 

E até aquele (ou aquela) que espero adotar um dia - se a sua mãe aceitar, é claro.
...

Conselhos são bons, mas nem sempre podemos dá-los a quem de direito. 

E, por isso, é nessas horas que um futuro pai metido a escritor pode viajar em seus pensamentos, pensar naquilo que gostaria de deixar como legado para o futuro "baby", e falar abobrinhas à granel - enquanto as fraldas sujas e o choro da madrugada não lhe tomar o tempo para falar besteira.
Como se eu não fizer esses conselhos agpra, não faço nunca, segue a lista do "o que eu sempre quis dizer ao meu filho mas nunca tinha autoridade para falar". 

Quem sabe isso seja só um monte de lorota - como, com certeza, alguém vai dizer depois de ler isso. Entretanto, não estou aqui para justificar-me, mas para falar um pouco.

...

Logo, segue a lista. Ou, pelo menos, sua primeira parte, já que esse texto está sendo feito em partes, como as emoções que afloram à medida em que me aproximo de te conhecer em carne e osso:

1. Aja de tal forma que seu cérebro apareça, não seu corpo.

Vale para as moças, mas também para os homens, em tempos de "gay power": num mundo cada vez mais sexualizado, se expor virou um padrão. Músculos à mostra, biquínis minúsculos, apelos constantes à sensualidade (o que, no Brasil, não é tão novo assim) - muita carne exposta, e pouco espaço para o que realmente interessa, o cérebro. 

Nesse contexto, pensar, convenhamos, não é bonito - mas é o que, na hora mais importante, em que você precisar fazer e acontecer a vida (leia-se: ganhar dinheiro), fará a diferença. 


2. Cuide da saúde, mas dê-se o direito à "gordice" - e ao simples.


Cuidar da saúde é bom. Dá longevidade. Qualidade de vida. Mas não dá em bons momentos - a não ser que você considere uma felicidade extrema competir sem parar para chegar ... aonde mesmo? 

Ah ... a um lugar mágico, que nunca chega ...

Faça exercícios para aproveitar as boas coisas da vida. Consuma muita salada. 

Mas, repito, não pense que isso é felicidade. Esta tem a ver, muitas vezes, com coisas simples, como ver o pôr-do-sol - seja ele da roça, de casa ou daquela cachoeira mística. Ou, então, ver o seu sorriso (que cativa, pelo menos ao seu "velho" pai ...).


3. Respeite a diversidade, mas não tenha medo de ter sua opinião. Nem seu Deus.


Isso é uma coisa séria: no mundo de hoje respeitar as diferenças é fundamental - quiçá obrigatório, por Lei ou pela mudança de comportamento das pessoas. O que muitos evangélicos ser o fim do mundo, contudo, não deixa de ser um sinal benéfico dos tempos, já que houve um tempo em que se você não era católico, nem poderia ser enterrado em terras brasileiras - e isso é uma história muito longa para um bebezinho saber hoje.

Ainda assim, há uma grande diferença entre tolerar o pensamento dos outros e admitir que ele é o certo "na marra" - principalmente quando se trata de religião. 

O mundo em que você nascer será um local em que, num paradoxo absurdo, se tenta promover a igualdade combatendo a sociedade tradicional como se ela fosse a culpada por tudo o que acontece de errado - das minorias discriminadas às desigualdades sociais, tudo virou culpa do "status quo", do qual o símbolo maior, ao menos em nossa cultura, é o Deus cristão.

Filho, ou filha, nada é mais absurdo do que culpar Deus pelos fracassos dos homens. As sociedades ideais, da Revolução Francesa à República de Weimar, foram engolidas por quem pregava a ordem - apoiados pelas pessoas comuns, que queriam o mundo perfeito mas não tinham paciência para esperar por ele.

Francamente, se há algo que tenho medo do futuro, é da intolerância - até porque sei que do excesso de liberdades (e da falta de bom senso) podem surgir os piores regimes de exceção. Um dia, lhe explicarei quem foram Napoleão e Hitler, e, aí, você entenderá os meus medos (nem que seja para rir de mim).

Até lá, tema a Deus. Pois isso "é o dever de todo homem", ao menos de quem o tem no coração.

E porque, se você quer saber, é muito fácil dizer que Deus não existe. Difícil, mesmo, é viver longe dELE.

...

Filho, filha, esta é a primeira parte dos meus conselhos. Tem mais de onde eles vieram, mas está me dando um baita de um sono e, bem, escrever (assim como ler demais) pode ser maçante quando não se está disposto.

Em breve, eu volto, para te ver. E, porque não, para sonhar muito com você.

fps, 31/05/2015, 23:00