5.6.15

O que aprendi com Caitlyn Jenner? Que a futilidade vende - e MUITO.



E um super-homem americano, quem diria, "virou" mulher.

Tempos estranhos, e loucos, esses em que vivemos ... nos quais discursar pela igualdade de salários entre homens e mulheres, no Oscar, rende menos retorno (e dinheiro) que fazer uma pergunta boba sobre um vestido, se ele é branco e dourado ou preto e azul. 

Ou, suprema ironia, em que a foto de um traseiro "photoshopado" leva abaixo servidores de redes sociais, porque uma socialite que se achava fora de forma resolve posar nua. E ganhar dinheiro com isso.

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A última das estripulias ligadas às Kardashian atende pelo nome de Caitlyn Jenner, o ex-padrasto de Kim e companhia limitada, que rompeu a crisálida na "Vanity Fair" desta semana

Jenner, máquina de ganhar dinheiro desde que foi medalha de ouro nas Olimpíadas de 76, quase Superman, três mulheres, quatro filhos, coadjuvante das enteadas em reality show, mudou da água para o vinho e "quebrou" pela terceira vez o mundo da internet, chegando ao cúmulo de ter conseguido mais seguidores no Twitter, em menos tempo, que o presidente Obama (e batendo seu recorde). 

Não é pouca coisa, convenhamos. Assim como não é pouca coisa o que se fala a respeito. 

Seja para defender e achar o máximo, como Judão:
"(...) Se fosse uma jogada de marketing, seria uma jogada muito boa, fazendo o mainstream discutir / exibir a transsexualidade. Ou transsexualismo, não sei — e aí, por mim, tudo bem."
Ou para criticar, ironizando e refletindo, como André Forastieri:
"Quando li pela primeira vez sobre a mudança de Bruce Jenner, pensei: é inveja do sucesso das filhas. Ele declarou várias vezes que jamais se sentiu atraído por outros homens e sempre foi heterossexual. Para completar, vota no Partido Republicano. Sempre foi, e continua sendo, cristão. E, minha opinião, é e sempre foi gay, mas gay enrustido, como tantos atletas machões."
Mas o que deveríamos nos perguntar é: porque perdemos tanto tempo com isso? Porque tanta saliva, tantos bits, bytes, tempo útil desperdiçado, para escrever sobre algo, efetivamente, não significa nada?

E a resposta é: porque vende. O fútil vende.

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Nos tempos atuais, é mais interessante saber detalhes da vida das estrelas que incomodar-se com dúvidas filosóficas a respeito da vida e do mundo. Política é chato, futebol é motivo para briga, e religião, além de ser tradicionalmente questão de foro íntimo, virou atraso de vida, principalmente depois que os evangélicos foram escolhidos como bode expiatório dos retrocessos sociais.

O que resta? O filho da atriz "X" que aparece sorridente no castelo da revista "Y", a personalidade da mídia "Z" que abre sua casa para os fotógrafos, o cantor que aparece com nova namorada, a ex-esposa do cantor que surge com um namoradinho novo a toda hora ... essas coisas que não forçam o cérebro, nem são motivo para discussões acaloradas, ou brigas entre marido e mulher (salvo se o homem ficar olhando demais os atributos da Kim Kardashian, embora isso se resolva com uma noite fria na casinha do cachorro).

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Futilidade é simples, fácil de entender, de observar e digerir. É como miojo: três minutos, na água, e você tem um prato de absoluto nada para forrar a barriga (ou o cérebro) até a próxima discussão sem sentido.

Se há uma coisa que podemos entender, nesses tempos bicudos de internet, é que, quanto mais procuramos por coisas sérias, mais nos afundamos em discussões sem vitoriosos, nem reflexões. Fica muito mais fácil conversar com o outro quando falamos da fofoca, da estorinha boba, do papo sem objetivo.

Para isso serve a matéria fútil: entretenimento. Pão e circo moderno.

Que as Kardashian (incluindo Caitlyn, porque não?) sabem produzir, e vender, muito bem.


P. S.: Depois de Caitlyn Jenner ser indicada para receber o prêmio Arthur Ashe pela coragem de "sair do armário" (ou explodi-lo, sei lá) uma voz inteligente surgiu no meio do temporal da ignorância.

Foi o filho de Tom Cruise, Connor, que reclamou da indicação falando o óbvio:
"“Sério? Ganhar o prêmio AA por coragem? Alguém vai subir no palco e gritar ‘pegadinha!’. Não me entendam mal. Façam o que vocês quiserem e não deixem ninguém impedi-los. Mas as pessoas estão levando isso a sério demais. Tem tantas coisas mais importantes que deveriam estar sendo discutidas... E MUITO MAIS PESSOAS IMPORTANTES que realmente merecem esse prêmio”."
Depois de ser crucificado pela "patrulha do bem", Connor deletou esse "twit". Merece aplausos, contudo, por dizer alguma coisa sensata em um mundo onde futilidade é tratada como pedra preciosa.