30.3.19

O que fazer em 31 de março? NADA.



Isso mesmo. Nada. 

Não há o que comemorar, nem lamentar, nessa data - que deveria ser riscada do calendário, para não causar mais transtornos ao país. 

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Não há o que comemorar, porque não se pode concordar que atrocidades praticadas pelo Estado sejam sequer lembradas como uma coisa boa. 

Em nome de uma paranoia os militares torturaram, mataram, validaram práticas hostis; promoveram idiotas, ignorantes e assassinos a postos de comando; fizeram da boçalidade uma regra, e da falta de bom senso uma prática - que até hoje nos atrapalha, vide práticas policiais que confundem criminosos com terroristas (e que persistem até hoje).

Mais do que isso: os "milicos" fracassaram economicamente, nos legaram décadas de recessão - difíceis de pagar - e comprovaram que o brasileiro não sabe planejar o futuro. Nada poderia ter sido mais idiota do que financiar o "milagre brasileiro" da classe média com dinheiro emprestado (olá, dívida externa monstruosa dos anos 80 e 90...).

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Por outro lado, não tem sentido recordar dolorosamente, mais uma vez, os anos de chumbo, para que isso "não se esqueça, nem se repita".

Vamos lembrar de uma dolorosa verdade: muitos dos guerrilheiros, de fato, não lutavam pelo país. Queriam a implementação do comunismo, e, uma vez que seus objetivos foram frustrados, passaram a lutar muito mais pela sua sobrevivência do que por um ideal.

Quem realmente lutou pela volta de um regime democrático ao país foram aqueles que batalharam, por anos, negociando uma saída decente para o fim do regime - e que pensavam, nos escritórios das universidades, no país pós-64. Negociar, contudo, é vergonhoso para nossas elites, que preferiam uma batalha "até a morte".

Aliás, que esperar de quem até hoje elogia a Revolução Francesa, que só se estabilizou, de fato, com o "ditador-imperador" Napoleão?

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Parcela significativa da sociedade brasileira acredita, piamente, que a esquerda brasileira quer implementar o comunismo no país. Este pessoal pode não ter vibrado entusiasticamente com a eleição do Bolsonaro - mas todos, sem exceção, viram na ditadura o "mal menor" necessário para evitar que o Brasil virasse Cuba.

É quase certo que isso não era verdade. A União Soviética não brigaria com os EUA pelo Brasil, e nossas Forças Armadas (a única entidade capaz de dar golpes no Brasil desde a Proclamação da República) estavam totalmente na área de influência estadunidense (os americanos deram logística para o golpe, inclusive).

A única coisa que a esquerda fez (e continua fazendo) é insinuar um socialismo tupi, desde que conseguiu tomar de assalto as relatorias da Constituição de 88 e fazer da "carta cidadã" um apanhado de boas intenções, destinado a criar um país perfeito - não fosse o Brasil uma nação eternamente sem dinheiro.

Além disso, considerando-se o que aconteceu com o PT de Lula e Dilma, a esquerda não conseguiu entender, ainda, que governar é abrir espaço para o contraditório. Nossa sorte é que, ao contrário de Jango, os opositores tinham a pena, a criatividade e a cara de pau suficientes para tornar o "impeachment" em voto de desconfiança, e tirar o comandante do país enquanto fosse possível salvar o regime democrático.

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O Brasil precisa virar a página - e deixar de ser um adolescente sem noção.

Por isso, no mundo ideal, não teríamos nada a comemorar, nem a relembrar, no 31 de março (que era, de fato, 1º de abril).

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E que bom seria se tudo isso fosse mentira...

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