8.11.05

'Roda Viva' e o presidente: comentários de um novembro meio-frio

Após ter visto a entrevista do presidente Lula no 'Roda Viva', fiquei com a impressão que, em breve, se pedirá deste homem as qualidades de Mahatma Gandhi, Nelson Mandela e Franklin Roosevelt juntos, tamanha a fúria com a qual este foi acuado pelos jornalistas comparado a governos anteriores a este que aqui está e tamanha a dificuldade com a qual ele tentou se esquivar dos golpes de hostilidade que toda entrevista desse estilo proporciona.
 
Não é para menos, num momento de crise política como o atual realmente se faz necessário falar dessas situações, e não é à toa que os governantes fogem da imprensa como o diabo foge da cruz quando não estão em bons momentos, como é o caso deste governo atual; de mais a mais, Fernando Henrique e outros também tiveram os seus momentos de brigas com a imprensa, e não seria diferente para um governo abominável para a temida classe média conservadora, essa parcela da pública que está cada vez mais cobrando explicações sobre honestidade e virtudes da figura do presidente, mas que quase nunca pratica essas virtudes no dia-a-dia - e que, curiosamente, são os mesmos que sentem vergonha indiscreta de um operário no poder mas trocariam o dito cujo por outro que nem faculdade possui (caso de José Serra, que não se tornou engenheiro por conta do exílio e fez mestrado e doutorado fora do país, se muitos não sabem).
 
Percebe-se que, na verdade, a política brasileira transformou-se numa briga entre primos-irmãos, os do PT e do PSDB, que controlam a parte organizada da sociedade e que fazem no poder medidas semelhantes uns aos outros, já que são filhos da mesma onda, a saber, a social-democracia que hoje flerta com a terceira via liberal a fim de manter-se no poder descontentando aos liberais e não contentando os conservadores, já que não afrouxa a lei brasileira o suficiente para torná-la mais capitalista, e, talvez, mais desigual. Lula, nesse ponto, é a continuidade desse esquema - só que, diferente do apoio do empresariado, se escora nos movimentos sociais que hoje o apóiam mais por odiar seu inimigo do que por amá-lo de verdade, e que, embora cite Juscelino, cada vez mais se assemelha a Getúlio, nos gestos e atitudes, e a Bill Clinton, que assumiu os dogmas da direita para garantir o domínio democrata em tempos de conservadorismo constante.
 
De fato, Lula não deixa de ser o homem inteligente que é e um dos símbolos da luta contra a ditadura - mas o Brasil não quer eleger símbolos, quer resolver problemas, e por isso se deu a tal da metamorfose que está transformando a política no país. Podem dizer o contrário, quanto for, mas ainda estamos reféns dos 30% da população que não são tucano-pefelistas nem petistas e esquerdistas, que querem dinheiro no bolso e comida na mesa, e que estão mais preocupados com o dia de amanhã do que com os próximos 30 anos - são eles que elegem homens e desfazem sonhos, e são eles que decidirão, no fundo, quem vai pender para a esquerda ou a direita nesse país, a cada eleição que passa.
 
E, que não se esqueça: esse povo pode até lembrar de Juscelino, mas gosta mesmo é de uma boa dose de Getúlio na veia, para o bem, ou para o mal.
 

P. S.: Não esqueça de ler o post sobre o Alerta do Olho Clínico, logo abaixo.

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