3.1.06

JK e o Brasil que quer ser Brasil

Anotem nas suas programações, se vocês apreciam estudar um pouco de História do Brasil ou simplesmente gostam de TV: hoje, depois da novela, e nos próximos 40 dias, intercalado entre  as disputas do Big Brother Brasil e a edição bem noturna do Jornal da Globo, a Globo vai esmiuçar a vida de Juscelino Kubitschek, o Presidente do Brasil que todo político gostaria de ser comparado quando chega lá.
 
É esse o tema de ''JK'', bem oportuno em ano de eleições e comparações entre a política do passado e a de hoje; e a primeira impressão é a de uma série que será de romances e saudosismos até dizer chega, o que não seria estranho para um país que está cada vez mais enojado da política, e que irá para uma eleição dividido entre a mediocridade e a decepção. Nesse contexto, voltar ao passado é sempre bom, ainda mais quando falamos de uma época em que o Brasil descobria o mundo, a alta sociedade era tradicionalista ao extremo, e os políticos eram ''homens de bem'', não a corja que vemos nos dias de hoje.
 
Ao menos na nossa opinião, era assim que funcionava o Brasil nos anos dourados - mas será que era assim mesmo? Ou será que é o tempo que nos faz achar que bom mesmo era o passado glorioso dos 60, da bossa nova, Jango e Getúlio?
 
Para começo de conversa, Juscelino encarou como presidente duas tentativas de golpe militar, uma pouco antes da posse e outra durante seu governo; sem falar que oponentes como Carlos Lacerda fariam o Arthur Virgílio parecer um pastor anglicano e a Heloísa Helena uma carmelita descalça (foi ele quem disse a famosa frase ''não se elege; se se eleger, não toma posse; se tomar posse, não governa'') - e ele cumpriu o prometido, tornando-se a pedra no sapato do presidente até o fim de seu governo.
 
JK só conseguiu manter-se no poder graças à sua extraordinária capacidade de contentar a gregos e troianos, personificada na aliança entre os dois partidos getulistas que já existia em Minas Gerais, o PSD dos grotões e o PTB dos sindicatos (mais ou menos como o PMDB e o PT seriam hoje) e foi assim que ele conseguiu a maioria necessária para botar os ''50 anos em 5'' em ação, construindo Brasília e elaborando o Plano de Metas que se tornou a base de tudo o que chamamos de ''desenvolvimentismo''.
 
Deu certo?
 
Em termos - análises mostram que JK poderia ter sido mais ortodoxo, investindo mais em educação e saúde que em estradas e obras, num erro que custou caro para os que estão no presente; sem falar que a inflação aumentou bastante e a dívida externa iniciou sua expansão que pagamos até hoje (uma análise mais profunda desses erros está em http://www.capitolio.org/194/, com a devida ressalva de ser um site de simpatizantes de direita, o que significa que não é bem um modelo de imparcialidade). Mas o fato é o seguinte: Juscelino Kubitschek foi um dos raros presidentes a fazer o país andar para a frente, com seus erros e acertos que outros pagaram, é verdade, mas foi ele o último presidente democrático a fazer isso - e é por isso que tantos sentem saudades dele até hoje, e tantos querem ser como ele quando crescerem na política.
 
Já disse certa vez nesse blog que ninguém sente falta de presidentes certinhos que fazem direitinho o dever de casa, como Campos Salles na República Velha, porque, apesar deles serem úteis às finanças da Nação, ninguém vê o que eles fazem nem sente os resultados dessas políticas de imediato, o que gera a princípio frustração, e enorme dificuldade para aceitar o jeito ''devagar e sempre'' de se fazer as coisas; coincidência ou não, passamos por dois presidentes (FHC, o pensador de araque e Lula, a esfinge decepcionante) que foram certinhos demais e estão pagando o preço dessa política certinha.
 
JK foi ousado, pagou o preço, lutou, amou (até demais), sonhou - e, por isso, se consagrou.
 
...
 
Para refletir, pensar e, quem sabe, responder:
 
E em 2052, FHC terá o mesmo privilégio que JK? E Lula, em 2056, será tema ao menos de um comercial de 5 minutos?
 
 

2 comentários:

Anônimo disse...

Oi Fábio, tudo bem?
Taí a maior prova de que colhemos o que plantamos, né mesmo? acho que o Lula vai ser lembrado sim, como o maior mico presidenciavel do Brasil...rs
Benvindo à CDB.

Beijinhos

Anônimo disse...

JK é único. Talvez Lula fosse lembrado como ele, se não fosse pego com a boca na botija (no sentido real e figurado). O JK talvez não tivesse ido longe se alguem também o tivesse pego em tal situação. Brasilia enriqueceu muita gente e ilicatamente. Um tremendo telhado de vidro onde ninguém quis jogar pedras. De qualquer forma, culturaríamos personaldiades e esqueceriamos do povo, que realmente conduz (mesmo sem saber) a história...