12.3.10

Cotas, Cuba e chateação

Cuba, sempre livre; cotas, sempre injustas.

Quando vemos ou lemos coisas como o texto de Demetrio Magnoli na Folha, apoiando a estratégia absurda anti-cotas promovida pelo DEM, ou a discussão absurda gerada pelo apoio ou não aos presos políticos em Cuba, dá vontade de descer um pouco e parar para consertar o casco duro da esquerda militante, já bem ferido por denúncias diversas e que ainda insiste em manter-se forte, apesar da pancadaria.

Comecemos pelas cotas e pela matéria do Magnoli, um primor de horrores só pelo fato de justificar o injustificável, a escravidão realizada pelos brancos, e com o impensável, dizer que negros escravizaram negros e que por isso não haveria culpa no processo – essa desculpa é tão esfarrapada que nem merece crédito, já que a escravidão por guerra era bem diferente da “coisificação” do negro existente na América colonial (e que, inclusive, era justificada do ponto de vista cristão da época).

Uma coleção de asneiras sem tamanho – mas de asneiras que dão resultado.

Isso porque o leitor dos jornalecos e revistas da mídia conservadora julga extremamente desagradável a questão de facilitar o acesso à benefícios que ele ou seus pais "tiveram que ralar duro" para conseguir, e simplesmente não aceita que outros “tenham de mão beijada” o que veio com sacrifício para ele e sua família.

O remediado (ou classe média), assim, se torna o "grande aliado” da “mídia golpista”, na medida em que ela fala justamente o que ele pensa, e reflete o pensamento de quem não quer pensar no outro lado, nem raciocinar ou pensar a respeito do que lê.

Motivo maior para dizer que não existe mídia golpista ou PIG, mas sim um grupo de eleitores conservadores que garantem o sustento de seus (e)leitores.

Argumentos semelhantes podem ser vistos no caso dos presos cubanos, em que Lula, fez novamente o jogo de cena que agrada em cheio ao petismo e à esquerda militante e falou mais uma daquelas frases que, retiradas de seu contexto original, são prato cheio para os amantes do conservadorismo e da retórica barata de “direita”.

Lula não acredita em greve de fome, sob qualquer pretexto, oras, e daí?

Lula, como chefe de Estado de um país, não pode meter o bedelho em assuntos internos de um país, mesmo que este seja uma ditadura cada vez mais sem sentido existencial como Cuba – e que poderia ser muito mais do que é não fosse o lobby dos cubanoamericanos de Miami, que mais atrapalha do que ajuda essa questão.

Pode-se condenar o presidente pelo gesto de ir a uma ditadura, até mesmo de ir a uma ditadura no momento em que presos políticos se tornam pequenos mártires – mas jamais criticar a figura do presidente por optar pelo conveniente, ao invés do certo.

Coisa que, aliás, os EUA sempre fazem com a China (apesar de darem uma bola dentro de vez em quando).

P. S.: Para os que citaram Honduras como contradição da política brasileira, lembrem-se: gato escaldado tem muito, mas muito medo mesmo, de água fria.

P. S. II: O NPTO tem uma postura bem diferente nesse caso, que vale a pena ser lida clicando aqui; e na qual está a melhor definição sobre Cuba em relação à esquerda brasleira: “Israel do PT”.

P. S. III: Glauco foi a maior chateação do dia – e a prova de que os anos 80 ficam cada vez mais longe; acompanhe as homenagens a ele clicando nesse link aqui.

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