11.3.10

Prosa

Terceira Carta

“São Paulo, 23 de setembro de 1.995

Amigo, lhe escrevi porque hoje não consegui dormir, e agora vou lhe dizer por que.

Às vezes, não consigo me entender comigo mesmo.

Tudo parece sem sentido, forma, razão ou conteúdo.

Não tenho vida, não sinto nada, não sei dizer porque isso acontece.

Parece que tudo ao meu redor perde-se na razão complicada dos dias de hoje, no turbilhão de sentimentos que caracteriza meu ser interior.

Como resolver isso?

Não sei, meu caro, não sei.

Tudo o que sei é que meu interior sofre, sabendo que alguém pode estar tão longe, apesar de senti-lo tão perto.

A única coisa que sei é que esta é a vida que escolhi, amado, e esses sentimentos estão longe de passar, apesar de tudo o que já aconteceu comigo.

Sabe, às vezes me sinto como uma flor enterrada na areia, tendo dificuldades para crescer. A semente foi plantada, e regada, sabe-se lá como.

Apesar de tudo, ela cresce, frutifica, torna-se forte, e flexível, como o bambu que não se quebra, mesmo diante da pior tempestade.

No deserto das minhas emoções, querido, encontro-me comigo mesma. Sorrio, choro, luto, sofro ... e procuro aquilo que é meu por direito - a felicidade.

Sei que fui destruida por aqueles a quem tanto amei, mas prometo me reerguer para que o amor volte, puro e sincero, firme e forte.

Como acredito nisso?

Talvez, porque eu seja idealista o bastante, para poder ter certeza de que, lutando por mim, estarei lutando por todos os que me cercam, e por todos os que me querem bem.

Até breve, querido, pois em breve iremos nos encontrar, com certeza.

Com amor.

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