27.6.15

Casamento gay: direitos não são respeito






A decisão da Suprema Corte americana não tornará o mundo mais tolerante, nem mais seguro para os homossexuais, militantes ou não. 

Gays já se amasiavam, e continuarão "casando" e "se descasando", já que, em tese, basta querer viver em comunhão com alguém para que isso seja um casamento. De fato, não de direito.

Que, aliás, é o que estava em jogo, mais do que o amor entre iguais: o direito de homossexuais se casarem envolve a vontade de ser cidadão pleno. 

Trata-se de ser aceito pela sociedade, sem ressalvas. O que, convenhamos, não é pouca coisa.

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Curiosamente, o direito a se casar e ter família é, na prática, a vontade de ser conservador, igual aos seus pais, que tinham casa com lareira, carro na garagem, cachorro e dois filhos - o sonho de classe média, típico dos americanos e dos países na sua órbita de influência. Mesmo que o carro seja elétrico, o cachorro seja um poodle toy e os filhos tenham sido adotados no Vietnam, porque "Brangelina" fizeram isso e eles acharam "show", o fato é que muitos dos que foram ousados no passado querem simplesmente ser iguais aos demais cidadãos, ter uma vida "normal", comum, menos cheia de doideiras e mais pé-no-chão.

Direito de quem está amadurecendo, e, também, envelhecendo. Mas que exige mais do que berrar por direitos, ao menos em uma sociedade conservadora - e familiar - como a nossa.

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Os evangélicos se tornaram a bucha de canhão da sociedade conservadora, no Brasil e no mundo. São eles que clamam pela manutenção da família em seu formato padrão - homem, mulher e filhos. 

Tal como Deus criou. 

Como ELE determinou.

Entretanto, embora sejam a face visível do esperneio social, os cristãos protestantes não estão sozinhos nesta empreitada. Há uma sociedade, que não está organizada o suficiente, que os apoia de forma enrustida - e que se levanta quando, por exemplo, os Planos de Educação brasileiros dizem que há mais modelos de família do que o tradicional.

E, engraçado, os movimentos gays culpam os evangélicos por essa e outras "derrotas" - esquecendo-se de que, muitas vezes, são as famílias que se levantam contra a igualdade. No caso específico da educação, foram os pais de alunos, nos municípios, que barraram a implementação do plano do Governo Federal.


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Mudanças na sociedade serão inevitáveis. É parte da vida, e do fluxo de concessão de direitos no mundo.

Entretanto, se eu tivesse um conselho a dar para todos os que comemoram hoje, seria: cuidado com a ressaca. Os progressistas ganharam direitos, lograram grandes vitórias, mas não pela vontade do povo (já que, seja no Brasil ou nos EUA, nenhum Congresso aprovaria tamanha revolução nos costumes, ainda mais com a crescente onda conservadora que assola o mundo na atualidade). 

Revoluções de gabinete são boas - e, nesse caso, até necessárias. Mas são como árvores hidropônicas, plantadas na água; se não tiverem terra, ou fundamentos sólidos, podem morrer muito facilmente. 

E, do nada, direitos podem sumir. Seja aqui, ou lá.

Duvidam?

17.6.15

Reflexões: O Direito e o jurista

"Uma coisa é quando você está fazendo Direito, outra é quando o Direito começa a te fazer.

Enquanto você faz uma faculdade de Direito, ela não te muda; 
mas quando o Direito se entranha no teu sangue, ninguém te segura.

Você não admite que te falem qualquer coisa, ou pense qualquer coisa; 
a Lei não é mais uma coisa escrita ao léu, ela é a ÚNICA coisa que vale.

A medida daquilo que é certo, a visão do que DEVERIA SER como o que realmente TEM QUE SER.

Aquilo que É de verdade.

Uma coisa é quando você faz Direito, a outra, quando o Direito faz você."

16.6.15

Malandro é malandro, mané é mané - ou: Porque o brasileiro (acha que é) feito de otário - parte I

Este país do qual me orgulho, com seu povo ordeiro que é feito de bobo pelo governo não cansa de me surpreender - e, em tempo, estou sendo irônico nesta frase, brasileiro não tem nada de bobo ou ingênuo, mas justamente por ser metido a esperto merece o governo que tem.

À mata fria, que explica esse "post": matéria recente do Estadão elencou seis motivos pelos quais o motorista brasileiro é, supostamente, feito de trouxa. Nada a respeito de nossos recordes de acidentes, mesmo com uma das legislações mais restritivas quanto ao álcool e com exigências duríssimas quanto à segurança - e com números altíssimos de falecimentos, que só não são maiores graças ao cinto de segurança, capacete e bebê-conforto, de uso obrigatório.

É um fato, contudo, que #mimimi gera #mimimi - e os leitores do Estadão arranjaram 36 motivos para dizer que "somos manés", otários escalpelados por um governo safado que só quer se aproveitar do nosso dinheiro. Típico argumento "classe média sofre", pois, como se pode comprovar, o indivíduo classe AB, que menos paga imposto e mais contravenções faz, é via de regra o chorão que pede menos Estado (a não ser para prender os outros) e mais liberdade, até para cometer seus delitos comuns de cada dia.

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Dá para provar que esse pessoal está reclamando de barriga cheia. 

Como? Esquadrinhando os "motivos para ser feito de otário"e dizendo porque, afinal de contas, não somos os trouxas enganados, mas espertinhos que, de tanto tentar fazer o governo (e os outros) de trouxas, são tutelados por uma administração pública que, bem lá no fundo, não confia na gente (e deveria?).




1) ‘Radares pegadinha’ nas estradas, em trechos onde a velocidade máxima é reduzida para pegar distraídos.

Amigo, entenda uma coisa: se aquela placa diz para você não passar dos 40, NÃO É PARA PASSAR DOS 40!!! É difícil entender o sentido de "velocidade máxima", ainda que alguns estudiosos queiram fazer os carros pararem na rua para você, enfim, andar de bicicleta?

2) Carros populares custam R$ 40 mil no Brasil

Impostos, custo Brasil, tropicalização - e um público que gosta de pagar caro. Não ria, essa é a realidade - esnobar porque comprou um carro caríssimo é coisa típica de brasileiro.

3) Não há para quem reclamar, pois quem aprova as leis recebe propina para a aprovação.

Ou é influenciado por pessoas que dizem que sabem o que o brasileiro quer, mas acabam metendo os pés pelas mãos. Para se ter uma ideia, quem aprovou as ciclovias em São Paulo, hein?

4) O IPVA custa caro, mas ainda tem de pagar pedágio.

Imposto pela PROPRIEDADE de Veículos Automotores. Você paga porque tem carro: é isso.

5) Não existe opção de transporte de ônibus ou metrô e a saída é financiar um carro.

Bom, quem disse que você não tem opção? Tem ... tem ... bicicleta, uai ...

6) Quando existe opção, o transporte público é muito ruim e demorado.

Culpa de uma política pública que dificulta ao máximo a existência de alternativas viáveis, e confortáveis, para o cidadão - que acaba pagando para ser transportado como gado, e que acaba se jogando no carro como única alternativa decente de locomoção.

7) A energia elétrica vai ficar mais cara, o gás de cozinha, a carne de boi…

Epa! Não fala isso não! Para que quase quebramos a Petrobras, hein?

8) Muitos motoristas são contra as ciclovias, o que é uma prova de estupidez (...)

Hum ... vejamos ... ciclovias que ligam o nada a lugar algum, que matam os negócios ao redor delas (pois quem anda de carro não tem como estacionar na rua), em uma cidade cuja topografia não ajuda o uso da bicicleta e que foram implementadas sem consultar a população a respeito. 

A não ser que você seja um cicloativista do tipo chato, que quer encontar "n" argumentos para dizer que seu meio de transporte é o ideal, eu digo: ciclovia é prova da estupidez dominante do governo de plantão - e de uma sociedade que não sabe se casa, ou se compra uma bike e sai sem destino por aí.

9) Pagar R$ 80 mil em um Ecosport é ‘indício de demência’ (...)

Vide número 4: a gente paga porque gosta.

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Eram 36 motivos, mas 9, por hoje, já está bom. Voltaremos ao assunto.

8.6.15

A cruz e a Parada: muito mais que um mal-entendido ...

Deixa eu te explicar uma coisa, amigo que foi ao domingo lutar por seus legítimos direitos: a cruz com a qual você...
Posted by Fábio Peres on Segunda, 8 de junho de 2015

6.6.15

Tirando o pó das coisas velhas ...

... inserindo sistema novo de comentários no blog (do Disqus), escrevendo um pouco enquanto não volto às aulas ... até novos resumos, do resumoseaulas.blogspot.com, estou querendo fazer.

Se o pique sobrar, e enquato o herdeiro não chegar, trabalho não faltará. Segue o fluxo!

5.6.15

O que aprendi com Caitlyn Jenner? Que a futilidade vende - e MUITO.



E um super-homem americano, quem diria, "virou" mulher.

Tempos estranhos, e loucos, esses em que vivemos ... nos quais discursar pela igualdade de salários entre homens e mulheres, no Oscar, rende menos retorno (e dinheiro) que fazer uma pergunta boba sobre um vestido, se ele é branco e dourado ou preto e azul. 

Ou, suprema ironia, em que a foto de um traseiro "photoshopado" leva abaixo servidores de redes sociais, porque uma socialite que se achava fora de forma resolve posar nua. E ganhar dinheiro com isso.

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A última das estripulias ligadas às Kardashian atende pelo nome de Caitlyn Jenner, o ex-padrasto de Kim e companhia limitada, que rompeu a crisálida na "Vanity Fair" desta semana

Jenner, máquina de ganhar dinheiro desde que foi medalha de ouro nas Olimpíadas de 76, quase Superman, três mulheres, quatro filhos, coadjuvante das enteadas em reality show, mudou da água para o vinho e "quebrou" pela terceira vez o mundo da internet, chegando ao cúmulo de ter conseguido mais seguidores no Twitter, em menos tempo, que o presidente Obama (e batendo seu recorde). 

Não é pouca coisa, convenhamos. Assim como não é pouca coisa o que se fala a respeito. 

Seja para defender e achar o máximo, como Judão:
"(...) Se fosse uma jogada de marketing, seria uma jogada muito boa, fazendo o mainstream discutir / exibir a transsexualidade. Ou transsexualismo, não sei — e aí, por mim, tudo bem."
Ou para criticar, ironizando e refletindo, como André Forastieri:
"Quando li pela primeira vez sobre a mudança de Bruce Jenner, pensei: é inveja do sucesso das filhas. Ele declarou várias vezes que jamais se sentiu atraído por outros homens e sempre foi heterossexual. Para completar, vota no Partido Republicano. Sempre foi, e continua sendo, cristão. E, minha opinião, é e sempre foi gay, mas gay enrustido, como tantos atletas machões."
Mas o que deveríamos nos perguntar é: porque perdemos tanto tempo com isso? Porque tanta saliva, tantos bits, bytes, tempo útil desperdiçado, para escrever sobre algo, efetivamente, não significa nada?

E a resposta é: porque vende. O fútil vende.

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Nos tempos atuais, é mais interessante saber detalhes da vida das estrelas que incomodar-se com dúvidas filosóficas a respeito da vida e do mundo. Política é chato, futebol é motivo para briga, e religião, além de ser tradicionalmente questão de foro íntimo, virou atraso de vida, principalmente depois que os evangélicos foram escolhidos como bode expiatório dos retrocessos sociais.

O que resta? O filho da atriz "X" que aparece sorridente no castelo da revista "Y", a personalidade da mídia "Z" que abre sua casa para os fotógrafos, o cantor que aparece com nova namorada, a ex-esposa do cantor que surge com um namoradinho novo a toda hora ... essas coisas que não forçam o cérebro, nem são motivo para discussões acaloradas, ou brigas entre marido e mulher (salvo se o homem ficar olhando demais os atributos da Kim Kardashian, embora isso se resolva com uma noite fria na casinha do cachorro).

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Futilidade é simples, fácil de entender, de observar e digerir. É como miojo: três minutos, na água, e você tem um prato de absoluto nada para forrar a barriga (ou o cérebro) até a próxima discussão sem sentido.

Se há uma coisa que podemos entender, nesses tempos bicudos de internet, é que, quanto mais procuramos por coisas sérias, mais nos afundamos em discussões sem vitoriosos, nem reflexões. Fica muito mais fácil conversar com o outro quando falamos da fofoca, da estorinha boba, do papo sem objetivo.

Para isso serve a matéria fútil: entretenimento. Pão e circo moderno.

Que as Kardashian (incluindo Caitlyn, porque não?) sabem produzir, e vender, muito bem.


P. S.: Depois de Caitlyn Jenner ser indicada para receber o prêmio Arthur Ashe pela coragem de "sair do armário" (ou explodi-lo, sei lá) uma voz inteligente surgiu no meio do temporal da ignorância.

Foi o filho de Tom Cruise, Connor, que reclamou da indicação falando o óbvio:
"“Sério? Ganhar o prêmio AA por coragem? Alguém vai subir no palco e gritar ‘pegadinha!’. Não me entendam mal. Façam o que vocês quiserem e não deixem ninguém impedi-los. Mas as pessoas estão levando isso a sério demais. Tem tantas coisas mais importantes que deveriam estar sendo discutidas... E MUITO MAIS PESSOAS IMPORTANTES que realmente merecem esse prêmio”."
Depois de ser crucificado pela "patrulha do bem", Connor deletou esse "twit". Merece aplausos, contudo, por dizer alguma coisa sensata em um mundo onde futilidade é tratada como pedra preciosa.

3.6.15

Conselhos que eu queria dar a um filho, ou filha - parte I



Cecília, Mariana, Giovanna ou Maria Cláudia, se menina. 

Ricardo, Arthur, João Alexandre ou Renato, se menino.

Há muito tempo queria escrever esse texto para você. 

E para o Pedro, Aninha e Laura. Laís, também. Manoela e Isabela, também. 

E até aquele (ou aquela) que espero adotar um dia - se a sua mãe aceitar, é claro.
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Conselhos são bons, mas nem sempre podemos dá-los a quem de direito. 

E, por isso, é nessas horas que um futuro pai metido a escritor pode viajar em seus pensamentos, pensar naquilo que gostaria de deixar como legado para o futuro "baby", e falar abobrinhas à granel - enquanto as fraldas sujas e o choro da madrugada não lhe tomar o tempo para falar besteira.
Como se eu não fizer esses conselhos agpra, não faço nunca, segue a lista do "o que eu sempre quis dizer ao meu filho mas nunca tinha autoridade para falar". 

Quem sabe isso seja só um monte de lorota - como, com certeza, alguém vai dizer depois de ler isso. Entretanto, não estou aqui para justificar-me, mas para falar um pouco.

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Logo, segue a lista. Ou, pelo menos, sua primeira parte, já que esse texto está sendo feito em partes, como as emoções que afloram à medida em que me aproximo de te conhecer em carne e osso:

1. Aja de tal forma que seu cérebro apareça, não seu corpo.

Vale para as moças, mas também para os homens, em tempos de "gay power": num mundo cada vez mais sexualizado, se expor virou um padrão. Músculos à mostra, biquínis minúsculos, apelos constantes à sensualidade (o que, no Brasil, não é tão novo assim) - muita carne exposta, e pouco espaço para o que realmente interessa, o cérebro. 

Nesse contexto, pensar, convenhamos, não é bonito - mas é o que, na hora mais importante, em que você precisar fazer e acontecer a vida (leia-se: ganhar dinheiro), fará a diferença. 


2. Cuide da saúde, mas dê-se o direito à "gordice" - e ao simples.


Cuidar da saúde é bom. Dá longevidade. Qualidade de vida. Mas não dá em bons momentos - a não ser que você considere uma felicidade extrema competir sem parar para chegar ... aonde mesmo? 

Ah ... a um lugar mágico, que nunca chega ...

Faça exercícios para aproveitar as boas coisas da vida. Consuma muita salada. 

Mas, repito, não pense que isso é felicidade. Esta tem a ver, muitas vezes, com coisas simples, como ver o pôr-do-sol - seja ele da roça, de casa ou daquela cachoeira mística. Ou, então, ver o seu sorriso (que cativa, pelo menos ao seu "velho" pai ...).


3. Respeite a diversidade, mas não tenha medo de ter sua opinião. Nem seu Deus.


Isso é uma coisa séria: no mundo de hoje respeitar as diferenças é fundamental - quiçá obrigatório, por Lei ou pela mudança de comportamento das pessoas. O que muitos evangélicos ser o fim do mundo, contudo, não deixa de ser um sinal benéfico dos tempos, já que houve um tempo em que se você não era católico, nem poderia ser enterrado em terras brasileiras - e isso é uma história muito longa para um bebezinho saber hoje.

Ainda assim, há uma grande diferença entre tolerar o pensamento dos outros e admitir que ele é o certo "na marra" - principalmente quando se trata de religião. 

O mundo em que você nascer será um local em que, num paradoxo absurdo, se tenta promover a igualdade combatendo a sociedade tradicional como se ela fosse a culpada por tudo o que acontece de errado - das minorias discriminadas às desigualdades sociais, tudo virou culpa do "status quo", do qual o símbolo maior, ao menos em nossa cultura, é o Deus cristão.

Filho, ou filha, nada é mais absurdo do que culpar Deus pelos fracassos dos homens. As sociedades ideais, da Revolução Francesa à República de Weimar, foram engolidas por quem pregava a ordem - apoiados pelas pessoas comuns, que queriam o mundo perfeito mas não tinham paciência para esperar por ele.

Francamente, se há algo que tenho medo do futuro, é da intolerância - até porque sei que do excesso de liberdades (e da falta de bom senso) podem surgir os piores regimes de exceção. Um dia, lhe explicarei quem foram Napoleão e Hitler, e, aí, você entenderá os meus medos (nem que seja para rir de mim).

Até lá, tema a Deus. Pois isso "é o dever de todo homem", ao menos de quem o tem no coração.

E porque, se você quer saber, é muito fácil dizer que Deus não existe. Difícil, mesmo, é viver longe dELE.

...

Filho, filha, esta é a primeira parte dos meus conselhos. Tem mais de onde eles vieram, mas está me dando um baita de um sono e, bem, escrever (assim como ler demais) pode ser maçante quando não se está disposto.

Em breve, eu volto, para te ver. E, porque não, para sonhar muito com você.

fps, 31/05/2015, 23:00