20.2.07

Uma perfeita análise do caso João Hélio

Luis Nassif, sempre soberbo, analisa o caso João Hélio na profundidade que essa tragédia requer - aliás, vale a pena ler as análises DEPOIS da roda dos crimes ter girado, e que podemos pensar um pouco mais friamente sobre o que acontece no nosso cotidiano.

Clique no título ou no link abaixo para ver o comentário:

http://z001.ig.com.br/ig/04/39/946471/blig/luisnassif/2007_02.html#post_18775696

16.2.07

Agora eu gostei ...

Novo template, nova postagem ... o que mais devo fazer para que esse blog seja campeão de audiência? rs ...

A educação no Brasil vale realmente um C- ?

Passou batido, mas o resultado médio do ENEM, mais que um atestado preocupante da educação brasileira, é mais uma prova de como funciona a cultura brasileira, tão dada a jeitinhos quanto ao esforço mínimo para se fazer qualquer coisa da qual não se gosta.
 
O motivo é a média do exame - 4,7 em uma escala de 0 a 10. Essa é uma nota emblemática, considerando-se que:
  • a média mínima para passar na maioria das escolas públicas brasileiras é 5;
  • nas particulares, embora a média em geral seja maior (6 ou 7), essa é a nota mínima para a recuperação.
Um estudante que tira uma média de 4,7 num exame, portanto, estaria diante do difícil dilema - ele 'quase' passou de ano, ou 'quase' foi para a recuperação, ou 'quase' conseguiu o mínimo necessário para alcançar o objetivo final; esse aluno fatalmente vai chorar as pitangas para o professor, que, diante de uma avaliação subjetiva, vai dar um pequeno trabalho, realocar uma prova ou mesmo dar meio ou um ponto a mais, a fim de que o aluno consiga passar de ano.
 
Donde se conclui o seguinte: o estudante brasileiro só estuda mesmo é para passar, porque quem consegue 4,7 na escala de 0 a 10 apenas se preocupou em garantir o mínimo necessário para não perder o trabaho de um ano. Fosse em São Paulo esse 4,7 seria o 'cê menos' (C-), ou seja, a nota ideal para qualificar os um pouco abaixo da média necessária - ou seja, medíocre.
 
Entretanto, como o negativo do C some na hora de se fazer a média do bimestre, ficamos assim: o aluno brasileiro passa de ano, mas não se esforça; é medíocre, mas não merece perder o ano letivo; e, principalmente, não está nem aí quando vai fazer um exame como o ENEM, que só dá os pontos para vestibular, e mais nada.
 
Uma boa medida da cultura brasileira - e isso o Cristovam Buarque, certamente, não pensou.
 

 
Para se entender: em São Paulo se utilizava (não sei se ainda é assim) a escala ABCDE para medir o desempenho do aluno, na qual a média é C - 3 pontos numa escala de 1 a 5. Muitos professores, no entanto, utilizavam os positivos e negativos para refinar esse contexto, embora não fosse valer nada na média geral.
 
Donde se conclui que um 'C menos' é a nota ligeiramente inferior à média necessária, o 'quatro e meio' - ou o 'dá pra passar', se é que você me entende ...
 

15.2.07

Poesia

prisão inconsciente

às vezes
me meto nessa prisão,
inconscientemente,
esperando respostas da vida
que nunca vem.

são tempos
que vem de forma consciente
e vão de forma inconsequente.

são formas,
formatos de mulheres inimigas
e homens vazios,
de pessoas sem sentido,
de medos, de critérios.

sou uma pessoa
presa a um vazio
do que não sou.

na verdade,
apenas sou eu
que não sei ainda
quem serei no futuro.

futuro?

a deus, somente a glória.

FPS, 13/02/2007, 10:25

14.2.07

Polêmicas, polêmicas, polêmicas ...

... não custa nada recolocar um texto bem antigo que resume toda essa onda (com a diferença de que estamos cada vez mais agressivos, seja da turma de bem, seja da turma do bem):
 

 A roda dos crimes que abalam o país

Tudo começa numa nota de pé de página, num jornal de grande circulação, tipo "empresário é assassinado misteriosamente", ou "fulano se encontra desaparecido", ou "famoso encontrado morto na porta de sua casa"; nada de mais, apenas uma nota sobre uma suspeita de um crime ou um crime que, a princípio, pareceria corriqueiro.
 
Depois, as notícias que dão o choque: o empresário assassinado fora barbaramente torturado até a morte por traficantes de drogas adolescentes, ou o corpo de fulano é encontrado dilacerado por ordens do próprio filho, ou o famoso é morto por alguém que se desejava invejoso e firmara um pacto de morte com a própria mãe para executar o crime.
 
Mais notícias: o empresário era um senhor benevolente que dava emprego a cerca de 1000 funcionários e ajudava às famílias destes, o fulano era um pai exemplar que levava os filhos à praia toda semana e que se preocupava com os "maus elementos" amigos do mais velho, que planejou o crime, e o famoso era um ator promissor que recentemente se casara com uma apresentadora de TV e chamava a inveja do assassino.
 
Em três ou quatro dias, acontecem as mais diferentes respostas: editoriais dos jornais conservadores clamando por justiça e mudanças nas leis, editoriais dos jornais mais liberais lembrando que a coisa não é bem assim (e sendo atropelados pelo clamor popular), pais, filhos, netos, amigos e tudo o que mais clamando contra os absurdos dos "direitos humanos para bandidos" e querendo justiça; determinada apresentadora fazendo clamores pelo fim da baixaria e pela pancadaria, outro pedindo pau neles ... e por aí vai.
 
Em nove ou dez dias, tudo se acalmará de novo: notícias surgem a todo momento, e o povo precisa trabalhar, afinal de contas; os parentes das vítimas montarão associações pela justiça e pelo endurecimento da lei; políticos levarão projetos ao Congresso, e alguém se lembrará que o nosso país é signatário de tratados internacionais que prezam o respeito às liberdades individuais (lógico, porque para a ONU direitos são direitos, e não para poucos mas para todos); os projetos são arquivados ou entram em compasso eterno de espera; passeatas são montadas, e tudo fica por isso mesmo; se o assassino é morto na cadeia, ou se alguém comete uma loucura, as entidades de direitos humanos esperneiam, mas ninguém liga, porque "bandido bom é bandido morto", e tudo fica por isso mesmo.
 
Em quinze dias, ninguém mais se lembra dos nomes dos assassinos ou dos criminosos, a não ser em colunas que costumam tratar casos assim a fundo (e que quase ninguém lê).
 
Em trinta dias, tudo cai no esquecimento e a vida segue seu rumo.
 
Até que outra nota de pé de página comece tudo de novo ....

FPS, 20/11/03, 10:21
 
P. S.: Que quando a poeira baixar possamos discutir o assunto a sério.

13.2.07

João Hélio e - mais uma vez - a redução da maioridade penal

Mais um crime hediondo no país, e novamente a roda e a roda dos crimes que assolam nossas consciências se torna mais forte, e em cima de duas medidas, uma velha e uma nova, que são apontadas todos os dias para se resolver crimes que não tem muita solução.
 
A primeira, a da maioridade penal, vem a calhar para os que se identificam com os filhos das vítimas mas desconhecem que a Lei é para todos, sem exceção (ou deveria ser, pelo menos); a segunda, a da autonomia penal, é a novidade lançada pelos que desconhecem que não é só de Código Penal que se vive nesse país, mas também de Código Civil, Comercial, CLT e outras tantas - que, estranhamente, ninguém quer estadualizar para não dar ônus aos Estados da Federação.
 
Particularmente, sou favorável à redução da maioridade - não só da penal: afinal de contas, quem é que não quer dirigir, casar, trabalhar, prestar concurso e tantas outras coisas que só os maiores de idade poderiam ter? E quanto a autonomia, também sou a favor - mas não só da penal: porque não a autonomia completa dos Estados, que lhes daria o poder de fazer impostos e criar suas próprias Leis do Trabalho, da Previdência, administrativas e etc.?
 
Logo, porque não liberar geral? Seria ao menos mais fácil e menos hipócrita lidar com as consequências de nossa realidade insana.
 

 
Para pensar: se baixarem a maioridade penal e em dez anos manchetes de jornal falarem nos custos cada vez maiores de nosso sistema carcerário, alguém vai se sensibilizar com o imposto que está pagando para manter esse sistema? Ou vão pedir a pena de morte em massa, no modelo chinês, para 'resolver o problema'?
 

 
Finalmente: meus sentimentos à família do menino - uma morte estúpida, de um jeito estúpido, num mundo cada vez mais estúpido.