28.10.12

É o dia-a-dia, estúpido!

Comecei a escrever essas linhas enquanto os resultados das eleições estavam sendo apurados, a “hora da verdade”, em que ficaram evidentes frutos das apostas dos partidos políticos para 2012.

Com uns chorando, outros rindo, outros tantos sérios em demasia.

E alguns, principalmente nas redações de certas revistas e jornais Brasil afora, se remoendo no próprio  ódio.

Talvez porque desejassem um milagre, a existência de um eleitor que, tomado de fúria patriótica, tivesse o “bom senso” e o “civismo” de expurgar os antiéticos e supostos corruptos do templo sagrado do Estado brasileiro. e iniciar um tempo em que o mínimo ético seria a base para todas as escolhas políticas do povo brasileiro, dali por diante.

Como se eleição, no frigir dos ovos, não fosse uma escolha entre modelos administrativos, que mexem com o cotidiano de uma população quee precisa de saúde, educação, segurança, serviços públicos de qualidade; e que determina suas escolhas baseadas, principalmente, na percepção de que suas vidas estão melhorando, ou não.

Não é por um mundo feito de hipóteses que as eleições se decidem, tampouco por pensamentos filosóficos que o cidadão médio dificilmente entende.

Mas por um fator que faz toda a diferença para o cidadão comum: a REALIDADE.

Que não pense o PT que Haddad venceu as eleições somente por seus méritos e os de sua excelente propaganda: deve-se colocar na conta a rejeição recorde de Serra e de seu pupilo Kassab, aquele que transformou São Paulo num laboratório do inferno, misturando o higienismo típico do janismo classe-média com boas práticas de urbanismo que “não foram bem entendidas” pelo eleitorado paulistano.

Serra levou sob si o fardo de Kassab, e pensou que somente com apelos à ética poderia levar o eleitorado a esquecer dos problemas da grande metrópole e votar no “mais preparado” simplesmente porque, do outro lado, a turma do mensalão estava lá.

E o mensalão, quem diria, tornou-se fardo pequeno, diante da sensação de caos instalada por um prefeito que quis ser mais um “gerentão” da cidade do que um administrador das demandas do povo de São Paulo

O Partido dos Trabalhadores tem um desafio, a partir de agora: mostrar que pode administrar São Paulo para todos, sem exceção, ainda que sob a saraivada de críticas que a classe média e a mídia conservadora, desde já, vão fazer contra o “ministro do ENEM” e a “curriola mensaleira”.

E isso não é fácil, pois todo mundo quer transformar essa cidade em laboratório de políticas que servem para uma realidade ideal, mas talvez não funcionem na maior cidade do hemisfério Sul, de tantas tribos urbanas, às vezes inconciliáveis, nos seus interesses e aspirações.

Como confirmam as diferenças de votação entre os Jardins (77,67% para Serra) e Parelheiros (83,49 para Haddad), que mostram as zonas de conflito com as quais o próximo prefeito terá que lidar.

Dará certo?

Não sei, é cedo para dizer.

Mas uma coisa é certa: o dia-a-dia, sempre ele, fará a diferença para o sucesso da mais nova, e talvez mais difícil, empreitada na qual o PT se meteu.

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