23.12.12

A carta final


São Paulo, um dia qualquer de um mês qualquer

(muito tempo depois de todos os fatos que já aconteceram comigo)

Querido, amado, como vai você?

Pequenas são as palavras para dizer como estou me sentindo, depois de nossa correspondência tão cheia de sonhos, estórias e vida, tão cheia de caminhos e desatinos, tão importantes e tão fúteis quanto eram meus sonhos de menina.

Talvez você não lembre de mim. Eu era aquela, que te importunava com meus pensamentos de menina-moça, oriundos do vento de meus sentimentos e de meus sonhos, e que desentranhava meus medos, quase me despindo diante de tua pretensa lucidez, tuas disfarçadas vontades e teus sentidos de homem, ora te desejando em segredo, ora simplesmente deixando passar, me tornando tua amiga, tua confessora, tua quase-amante, no meio dessas idéias e sonhos, que eu tinha.

Sabe, ainda tenho sonhos, meu querido, muitos, muitos mesmo - mas agora sou outra; talvez porque cresci, talvez porque agora sinto que sou alguém, com força e com vontade, talvez, talvez só por isso, te digo que fostes útil, talvez porque isso me seja importante, é que decidi o óbvio, o que mais precisava para minha vida, e para a sua também.

Sim, querido - estou querendo parar, parar com tudo isso.

O porquê? Não sei ...

Talvez porque me seja importante, talvez porque não dê mais para me esconder, talvez porque percebo que não preciso ser mais forte ou fraca ... mas talvez porque não me envergonhe mais de ser o que eu sou, possessa, firme, sincera, atuante, feliz, o que for; talvez por isso, devo encerrar esses sonhos, e procurar ser eu mesma, agora e sempre, como deveria ser, mas não é.

Talvez isso nem seja importante para você, não é mesmo? E por isso, te digo: de agora em diante, procurarei minha vida, sem dúvida.

E é o que eu quero.

Até mais,

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