São Paulo é uma cidade fascinante - aliás,
várias são as cidades que a compõem.
São Paulo, cidade de tantos rostos e que "não
pode parar", como já dizia o ditado (se bem que determinado prefeito disse que
ela tem que parar, o que não deixa de ser verdadeiro).
Não se pode descrever a cidade, entretanto, sem
lembrar que ela sempre teve vocação para lugar de trabalho e de negócios, desde
os tempos em que era um simples entreposto comercial e que D. Pedro I vinha aqui
resolver suas pendências com a Marquesa de Santos, na casinha que ele mantinha
por aqui e que hoje é a última vista que poderia ter, e que nos tempos
republicanos atende pelo agradável nome de Museu do Ipiranga, pertinho do
caminho para a praia.
...
Sobre o museu: certa vez quando criança me
desviei do grupo que estava na praça e fui parar dentro do mausoléu de D. Pedro
e de sua esposa - deu um medo ...
Nem quando ia à "cidade" (nome que os caipiras e
seus filhos dão ao centro velho) foi desse jeito: eu, perdido, e dois
esqueletos do meu lado, vixe!!!
...
O Centro, ah, o centro; de tantas histórias e
tantas andanças, e tantos perigos também ...
...
O Centro velho de São Paulo padece de um grave
problema: em poucos minutos se sai de uma região segura e se cai próximo do
mundo cão.
Não é uma coisa de se espantar, já que isso ocorre em todas as partes
da cidade - mas a população em geral (e a classe média em particular) não gosta
muito de ver suas feridas expostas a céu aberto, e tem profundo horror ao que
não seja adaptável às suas necessidades, motivo pelo qual tantos prédios
tombados jazem abandonados ao desuso, condenados à morte por um Condephaat bem
intencionado mas mal sintonizado com as necessidades do povo.
De tal forma que o Centro acaba se tornando a
verdadeira zorra total de dia e o deserto dos povos de noite dos gatos que não
são pardos, divididos pela influência das zonas em que circundam seus diversos
povos: camelôs e sacoleiras na 25 e na Sta. Ifigênia, gays no Largo do Arouche e
na Frei Caneca, as agências de turismo da São Luis e os japoneses das lojinhas
da Liberdade, estudantes do Mackenzie e da Anhembi Morumbi, funcionários
públicos pra tudo quanto é canto e gente, gente que corre de um lado pro outro,
sem que se saiba de onde vêm, nem para onde vão.
...
A periferia de São Paulo é marcada por certos
contrastes: bairros que se desenvolveram ao redor das indústrias vão evoluindo,
e os mais pobres seguem para mais longe, até o momento em que se tornam mais
ricos e os pobres seguem para mais longe; ocasionalmente bolhas de prosperidade
se formam em lugares afastados, mas é fácil saber onde se tem dinheiro e onde
não tem: basta ver se o vigia está lá, e pronto! aqui tem dinheiro.
É interessante notar que, nesse caso, os mares
de morros paulistanos acabam gerando uma cidade em que é difícil se locomover no
dia-a-dia sem ajuda de um carro, ou mesmo de ônibus, se for o caso: os maiores
entraves aos "dias sem carro" em São Paulo são justamente as ladeiras e subidas,
que forçam qualquer um que tente andar à pé na cidade continuamente a ter um bom
fôlego se quiser viver por aqui.
E o mais engraçado é que os de
posses correm nos parques, mas se saírem a 5 minutos de casa, vão precisar
do carro ...
Pode?
...
Pode, assim como pode você andar meia cidade só
para ir no barzinho da Vila Olímpia porque é chique e a Zona Leste é o fim do
mundo para os descolados de plantão.
Se bem que em Moema é que tem boate, não no
Anália Franco que é pertinho da minha casa (e viva Marlene Matheus, não sou do
Timão mas "zê ele" eu sou ...).
...
Flashes, imagens e paisagens que se
desenham - quem sabe eu escreva mais sobre isso, e por isso é que não deixo um
fim definido. Mas não me esqueço do que meu pai dizia, quando se falava que
apesar da melhor distribuição de renda regional a nossa Sampa tem ainda 33% da
renda nacional:
"É, meu filho, São Paulo é lugar pra se ganhar
dinheiro ...".
Pois é, pai, você é um sábio,
mesmo.
fps, 16/01/04, 11:24