29.8.09

Prosa, do tempo em que eu refletia sobre a vida ...

O carinho

 

            As vezes, quando sento na frente de um computador qualquer para escrever esses textos, ou mesmo quando uso papel e caneta para descrever o que me vem à cabeça, fico me perguntando o que falta muitas vezes nas pessoas para que elas possam ser um pouco mais felizes. E, dependendo da situação, me pergunto porque depois de um determinado evento, situação, encontro ou data, ficamos realmente felizes, alimentados de sentimentos bons e puros e preparados para enfrentar os problemas que sempre nos assolam, dia após dia.

 

            Dizem os livros - e a sabedoria popular assim o confessa - que "o homem deve viver em sociedade", e que, portanto, qualquer atividade que for feita em conjunto com outras pessoas ajuda, e muito, na formação de nossa auto-estima. No entanto, o mais importante que posso afirmar é que de nada vale o homem - incluindo-se também a mulher, nesse caso - ficar procurando o convívio dos outros se ele não recebe algo em troca que faça valer a pena todos os esforços necessários para que ele possa estar de bem consigo mesmo. Isso acontece pela necessidade que temos, em nossos corações, de um conjunto de atitudes simples, de fácil execução, mas que, graças à correria de nossos tempos modernos, foi sendo deixado de lado, e esquecido com o tempo.

 

            Estou falando do carinho, que consiste na demonstração dos sentimentos que se tem por outras pessoas. Apesar de muitos acharem desnecessário, o carinho é importantíssimo para as pessoas, como prova concreta de um sentimento maior. Se está difícil para entender, vou lhes dar um exemplo fácil de entender.

 

            Embora um pai goste de seu filho, se ele não demonstrar seu amor para com ele, usando de palavras doces, abraçando-o e beijando-o, dificilmente a criança - ou mesmo o adulto - conseguirá ter certeza de que o pai realmente o ama, ou que pelo menos gosta dele. Outro caso: os namorados, quando entram em fases de louca paixão, dificilmente deixam de se beijar e de se abraçar e de demonstrar, de todas as formas possíveis, o amor que sentem um pelo outro, e de ficar juntos, para poderem aproveitar melhor estes momentos; no entanto, quando o amor se acaba, começam as brigas, desavenças e eles ficam cada vez mais longe, e mais longe, até o dia em que ambos dizem: "Chega!".

 

            Mesmo que fosse adivinho, não conseguiria descrever, sozinho, todos os sentimentos que levam alguém a ter um carinho imenso por esta ou aquela pessoa. No entanto, se eu fosse dar um conselho a qualquer um, hoje, diria o seguinte:

 

            "Quando você sentir que alguém tem necessidade de ser lembrado, dê uma palavra de afeto, ou uma demonstração de carinho. Quando você sentir a necessidade de ser lembrado, demonstre seu carinho a alguém, de qualquer forma, pois você receberá mais do que imagina. Mesmo que você não sinta essa necessidade, faça um carinho, ou sirva como ombro amigo a alguém, porque, em todo o mundo, não existe ninguém que não necessite de afeto ou amor, e somente o carinho pode nos dar a certeza de que este alguém está do nosso lado, e gosta de nós." 

 

 

 

fps, 06/11/95

28.8.09

Era para ser sobre TV, mas a Lei Geral das Religiões foi mais rápida e ...

Esse que vos escreve ia falar somente sobre um dos assuntos que mais me agradam, a saber, a televisão e o mundo dos reality shows que sempre acaba nos levando a pensar um pouco mais em como funciona a natureza humana nos tempos de hoje (lembrando que esse blog se chama TrashEtc! também porque, entre outras coisas, é um bom espaço para se escrever o que vem à telha).

No entanto, é preciso que se fale de um assunto mais controvertido antes disso: foi aprovada, em tempo recorde para o Congresso Nacional, a Lei Geral das Religiões, que disciplina assuntos de ordem jurídica na vida das Igrejas evangélicas e que é uma resposta ao Estatuto Jurídico da Igreja Católica, que foi negociado diretamente com a Santa Sé e que daria determinados privilégios à esta Igreja em relação à outras denominações no país.

No contexto jurídico, o Estatuto parece apenas regulamentar e reforçar os direitos de culto previstos na Constituição, e na sua origem ela garantia mecanismos para manter a salvo os direitos da Igreja Católica (e, agora, das demais Igrejas) sob sua doutrina, costumes, lugares de culto e outras características que lhe são peculiares; "copiá-lo" para a realidade das demais denominações pode ser extremamente útil, já que, em determinados casos, o direito à crença garante também que a denominação não faça o que é de sua vontade.

Um exemplo do que foi dito acima é a aplicação às Igrejas evangélicas da Lei da Homofobia: mesmo que a homofobia seja tratada como crime semelhante ao racismo e outros tipos de discriminação, com essa Lei em tese as Igrejas poderão dizer que não devem aceitar pastores gays ou qualquer outro tipo de comportamento que não seja de acordo com o que pregam; trata-se de uma virtude dessa "cópia", já que liberdade de crença, para os evangélicos, é como liberdade de expressão para os demais meios da sociedade.

Outro ponto que pode ser controvertido é a possibilidade de se permitir o visto permamente ou temporário para missionários, que facilitaria o trabalho de denominações internacionais no Brasil; no entanto deveria preocupar aos pastores a extinção de vínculo trabalhista com as instituições religiosas (que, se forem comandadas por gente séria, deverão tratar de forma digna seus sacerdotes para evitar que o ministério se torne um problema para eles).

Para aqueles, no entanto, que desejarem discutir e visualizar detalhes do Projeto que está nas mãos do Presidente Lula, cliquem aqui e vejam o conteúdo do mesmo.


...

Era para este que vos escreve NÃO falar sobre TV, mas a vontade falou mais alto porque tem a ver também com a sociedade e com as formas de participação na Internet e fora dela:

Enquanto na semana passada boa parte da mídia especializada em fofocas endeusava os participantes eliminados de "A Fazenda" em toda sua programação (um deles, inclusive, tem uma linda estória de vida para contar) uma silenciosa revolução se armava na Internet, forjada por blogs que vivem o dia-a-dia dos shows de realidade e que julgam não a estória de vida, mas o desempenho dos participantes no universo restrito que se forma naquela pequena biosfera.

Na semana seguinte, mesmo comportamento: da mesma forma que a mídia não conseguiu engolir até hoje as reeleições de Lula, a esfinge que a mídia quer devorar mas só o povo brasileiro decifra, boa parte dela se debruçou para tentar entender porque um bad boy como Dado Dolabela venceu "A Fazenda", e criticando bastante o resultado do programa.

Nenhum desses twitteiros, e blogueiros, e pseudopersonalidades, no entanto, ficou com tenossinovite nos dedos de tanto clicar ou mandar SMS ou telefonar para o número oficial do programa, e nem sabia que a tal Porteira de Voz era um dos números de telefone que poderia ser usado para devolver à obscuridade o polêmico ator um pouco mais pobre do que ele saiu do confinamento; como esperam então esses indivíduos que o reality show terminasse do jeito que eles queriam, com a "vitória do bonzinho" ou do "exemplo de superação", tão em moda na TV brasileira?

Por mágica?

...

Esses mesmos cidadãos que criticaram o resultado do programa deveriam se lembrar de que participação política, em qualquer lugar, deveria ser ativa, o que nos leva a falar sobre a participação política em nosso país, os #forasarney e os movimentos que servem para quase nada a não ser ocupar tempo e papel dos jornais, porque, de fato, não muda nada porque não é ATITUDE de verdade, é, pura e simplesmente, reclamação.

E, falemos a verdade: quem não entendeu a reeleição de Lula, com mensalão e tudo, não vai mesmo compreender os 83% de votos que levaram Dado à vitória no programa ...

26.8.09

Para explicar poeticamente porque o Suplicy dá aula de política ao Mercadante ...

O piado,
conciso e rápido,
explode.
 
O cartão,
vermelho qual fogo,
expõe.
 
A diferença?
 
O cartão não queima.
O "piado" sim ... tuit, tuit, tuit ...
 
fps, 26/08, 11:00

 
E, para refletir: o que "A Fazenda" tem a ver com o Senado e a política brasileiras? Resposta, em breve.

23.8.09

Poesia



De longe, de muito distante,
um velho nos fita, e a mente
me faz pensar quem ele é.



De perto, no entanto, o pedante
revela a verdade: é somente
figura, postada de pé.



fps, 23/08/09, 19:19

20.8.09

Prosa

O mundo animal

 

                Existe uma variada gama de animais que os zoólogos sempre procuram estudar, ávidos de informações sobre seu comportamento, reprodução, alimentação e hábitos de organização. Se agem em bandos ou sozinhos, se caçam, pescam ou comem frutos, se tem pelos ou penas, e por aí vai, demonstrando que o homem adora conhecer os bichos, e entender porque agem assim, ou como.

 

                Embora não seja zoólogo e o máximo que eu conheço de animais é chegar perto do cachorro do vizinho ou da gata da secretária, devo dizer que certos animais me fascinam muito, principalmente no campo dos répteis e anfíbios, que são, na minha humilde opinião, animais desprezados pela maioria das pessoas mas capazes de proezas fascinantes, e de métodos de organização e trabalho exuberantes, dependendo da forma como "pensam" e "sentem" o que está ao seu redor. Vejamos, agora, alguns destes injustiçados animais que a natureza humana renegou a um segundo plano, mas que valem muito para o equilíbrio de nossa natureza.

 

...

 

                Cobra: um animal de hábitos noturnos e solitários, tem seu maior poder nas presas, que destilam veneno mortal, capaz de matar em minutos. É capaz de ficar horas esperando sua presa, mas dá um bote rápido e destruidor, que garante seu sustento por muitos dias, e satisfaz suas condições até a chegada de outro infeliz que caia em suas garras, digo, bocas. Quando não tem veneno, mata por estrangulamento - caso da conhecida sucuri; no entanto, tem que arrastar-se para chegar ao seu "objetivo", e não é imune à obstáculos naturais, muito pelo contrário, pois não tem pernas para ultrapassá-los.

 

...

 

                Mangusto: animal ignóbil, um pouco menor que a cobra, se arrasta igualmente a procura de sua presa, não tendo forças suficientes para passar das primeiras barreiras em seu caminho. Tem, no entanto, uma característica interessante: é imune ao veneno das cobras, que se tornaram seu principal alimento ao redor dos tempos. No entanto, falta-lhes, muitas vezes, a característica de força que suas companheiras tem, condenando-os a ser relegados a segundo plano, mesmo tendo o poder de controlá-las pela força.

 

...

 

                Lagarto: caracterizado pela lentidão, é o único dos animais relacionados que possui facilidade para transpor obstáculos, graças à sua "força física" e às suas pernas, que são semelhantes às do companheiro jacaré, mas maiores e mais fortes. Ataca, geralmente, com força, podendo destruir até mesmo seres humanos, muito maiores do que ele. Tem contra si o fato de estar relacionado à péssima "inteligência", não sendo muito adequado para algo mais do que o uso da sua enorme energia.

 

...

 

                Camaleão: animal que tem a grande característica de mudar de cor para enganar o "inimigo", costuma alimentar-se de pequenos insetos, o que demonstra sua falta de força para algo mais do que isso. É, no entanto, difícil de "pegar-se", pelos seus conhecimentos de camuflagem e por sua pequena estatura. Considero-o interessante, em um posterior estudo, mas não mais do que isso.

 

...

 

                Tartaruga: animal que impressiona pela sua carapuça forte, e também por sua lentidão ao locomover-se. No entanto, é decidido em seu ritmo, e consegue as coisas pela persistência e determinação com que alcança seus objetivos, apesar de poucos. Fascinante - para quem gosta ...

 

...

 

                Sapo: ataca quando menos se espera, e possui veneno cegante - no caso das suas "co-irmãs" pererecas - e salta com agilidade. No entanto, é frágil tecnicamente quando atacado pelas cobras e lagartos que pulam em seu dia-a-dia, podendo ser abatido facilmente por um deles - quando o querem, é claro.

 

...

 

                Crocodilo: extremamente forte, embora não tão ágil, e temido por todos os outros, graças à sua enorme carapaça. Tem, no entanto, um problema: olhos muito sensíveis à luz, o que torna extremamente fácil sua captura e destruição - bolsas e malas que o digam, nas lojas chiques de Paris ...

 

...

 

                Todos esses animais tem características e forças especiais: agilidade, veneno, força física, proteção, imunidade. Também tem seus defeitos: fragilidade, fadigas, fraquezas que só podem ser vistas depois de muito tempo. Todos são fortes, mas também são fracos. Para vencer em sua vida, usam de muitos expedientes, e para escapar do inimigo, também. Aliar suas forças e minimizar suas fraquezas é muito mais do que um caminho para o "sucesso": é uma necessidade para eles, de vida e sobrevivência, para crescer ou escapar da morte, e para vencer.

 

                O mundo animal pode nos ensinar ainda muito mais; basta que observemos e sintamos tudo isso, como animais que somos.

 

                Sendo racionais ... ou não.

 


fps, 31/01/06, 07:20

15.8.09

Poesia

Declaração de amor de um coração indeciso

 

Não sei o que digo,

não sei o que penso,

não sei o que sinto

quando falo em ti.

 

Não sei se me explico,

não sei nem se posso

falar, ou pensar,

ou dizer-te, aqui.

 

É mui complicado

lidar com palavras,

sentir o que sinto,

em meu coração.

 

Na praticidade

eu sinto saudade

de todos os tempos

que um dia vivi.

 

Pois sinceramente,

bem mais já escrevi,

e, tenho certeza,

bem menos senti.

 

Mas hoje, contudo,

eu sinto uma coisa

que vem bem de dentro,

de dentro de mim.

 

Uma coisa estranha,

singela, profunda.

 

Que vem bem de dentro,

primeira estação.

 

E então eu sorrio,

em grande emoção.

 

De amor ... e paixão. 

 

 

 

 

fps, 15/08/09, 14:28

13.8.09

Quem se alimenta da mídia golpista?

Quem anda pelos blogs de política tem visto - e xingado - a atuação do que a esquerda convencionou chamar de PIG, o Partido da Imprensa Golpista que tem supostamente como objetivo detonar o governo Lula através de mentiras e calúnias, e que, para muitos, representa o maior dos males que vem afligindo a atual gestão presidencial e seu projeto para o país; a partir daí todos os erros dessa imprensa tem sido levantados de forma cada vez mais severa na internet brasileira, de tal forma que todo blog de esquerda tem alguma coisa a contar sobre os erros da "mídia maldita".

Entretanto, tal análise não contempla o fundamental: para quem escreve essa mídia.

O que chamamos de "PIG" não é, a princípio, um grupo coeso de pessoas, já que cada colunista político desse país tem uma postura a respeito de problemas estruturais e cada meio de comunicação possui seu comprometimento com a sociedade - que não se espere das TV´s, por exemplo, que seja tão severa com o governo que a mídia escrita, já que esta depende de concessões e propaganda para sua sobrevivência mais do que aquela; no entanto, pode-se perceber claramente que os jornais e revistas escolhem muito bem para quem escrevem, e o que vão escrever para elas.

Isso porque no Brasil, acima de tudo, a imprensa segue à risca um dos princípios que Mino Carta cansou de dizer em entrevistas, a saber: "não há liberdade de imprensa no Brasil, mas sim liberdade de empresa". Esse blogueiro poderia dizer mais: não há uma vírgula do que se escreve na mídia brasileira que não passou por uma análise comercial profunda antes de ter sido publicado, seja em mídia impressa, falada, televisionada ou mesmo na internet - tudo é feito e pensado para atingir as pessoas em cheio, para que elas comprem idéias nas quais já acreditam, e continuem comprando essas idéias até que não haja mais papel ou tinta para escrevê-las (e sempre haverá).

É por isso que se percebem claramente grupos dentro da mídia em geral, desde os que defendem o liberalismo puro, e glorificam o modelo americano de economia (não a atual, de Obama, mas sim a dos republicanos de Reagan e Bush) até os que defendem as experiências mais macabras possíveis com o objetivo de "brincar com os componentes econômicos", esquecendo-se de que o mercado não é um kit de Química ou um bonsai que se comprou na esquina para embelezar a casa (e que um bonsai deve ser cuidado do jeito certo para não se fazer uma crueldade com a plantinha).

No campo dos costumes também a "imprensa golpista" reflete as divisões de quem a lê: há os que defendem a globalização irrestrita mesmo sabendo que esta fracassou na economia, os que defendem arduamente o politicamente correto nas relações humanas mas que se negam a adotar ações concretas para realizá-lo (ex.: cotas de qualquer espécie para qualquer coisa), e, mais recentemente, os que defendem medidas autoritárias para implantar a ordem nas relações humanas (não é só a lei antifumo, mas toda lei que "civilize" a sociedade bárbara em que vivemos).

Todos esses meio, no entanto, tem duas coisas em comum, entre tantas que as caracterizam: são contra mecanismos de distribuição de renda mínima, como Bolsa Família e etc., propondo a "educação" como solução para todos os problemas do país, desde a falta de desenvolvimento até a língua presa do presidente Lula; e, principalmente, defendem a honestidade e a honra como medida fundamental para a melhoria das instituições e do país - esquecendo-se, no entanto, de que honestidade deveria valer para todos os cidadãos, sem exceção alguma, seja ela política, social ou humana.

Essas são apenas algumas das questões que poderiam ser levantadas nesse email, mas o fato é que não se pode falar em mídia golpista sem falar nos golpistas que a alimentam; aliás, foi por não entender isso que muitos tombaram para que a democracia voltasse ... ou não foi?

10.8.09

Prosa


Reminiscências das Gerais

Fazia muito tempo que não vinha à casa, casa de recordações e sonhos, dos meus pais e minha, onde guardava as lembranças de doces momentos vividos que se romperam bruscamente quando fui para a grande cidade.

Tempos de doces e compotas, de queijos, vacas pastando, dias claros e noites escuras, ruído de grilos, cocoricós e muuus em sintonia perfeita com o mato, que crescia e verdejava, da represa e dos peixes, e das comidas gostosas e saudáveis da mamãe.

Lembrava-se dos pais acordando cedinho, "com as galinhas", para cuidar de tudo - do cafezinho puro, dos pães de queijo e das quitandas, e sentia-se feliz.

Um dia a vida a levou para novos ares, da grande cidade com seus sonhos e ilusões, e suas perspectivas de grandeza; que se diga que a labuta do campo é severa, e cobra seu preço de todos, no embrutecimento do corpo e da alma, e nas ilusões perdidas entre sonhos de pequenos luxos e de uma vida melhor, qual seja ela.

Mas na hora em que reviu a casa, se viu novamente criança - e, de novo, desabrochou a saudade e a vontade de sentir, ainda que fosse por pouco tempo, os gostos e sentidos dos seus tempos de menina-moça, criança, provando que, em definitivo, todos nós sentimos mesmo é saudade de nós mesmos, e de um tempo, que um dia existiu.


Dedicado especialmente à ECCS, que eu chamo também de "minha doce e querida esposa".

FPS, 06/05/05, 16:27

9.8.09

Prosa

Jornal de domingo

Domingão para mim, além de ser uma tormenta habitual para acordar cedo, é dia de ler jornal, assim como a maioria dos brasileiros que mora nas grandes cidades e relembra a semana a partir do momento em que pega o calhamaço que se chama jornal de domingo para a leitura diária. Em outros dias, essa leitura se faz mais rápida, quase como uma reposição: no domingo, porém, tal fato se reveste de uma habitualidade tão grande que as vendas quase quadruplicam, sabe-se lá por quê (bem, houve um tempo em que se comprava o jornal e levava uns brindes p´ra casa, mas a prática foi abortada depois que passaram a cobrar por isso...).
 
O jornal de domingo, em Sampa, seja ele Folha ou Estadão, é sempre um calhamaço de dez a doze cadernos, com as matérias da semana, as notícias de diferentes níveis, não sei quantas partes de classificados (e, como sempre, com muito anúncio colorido e um "release" de conteúdos minúsculo, e que me perdoe o Aldo Rebelo por eu não ter achado melhor palavra em português para definir esse tipo de textos) e uma revista de variedades, além do jornal de TV que minha mãe insiste em chamar de folhinha e me obrigar a procurá-la para ler as colunas de novelas de sempre (era mais fácil eu separar a folha das novelas logo, assim pelo menos o resto eu lia, mas tudo bem, eu leio depois).
 
Lendo o jornal, paradas em determinados cadernos: os editoriais, e os comentários que vão de encontro ao que o depto. Comercial ... digo, o depto. Editorial dos periódicos pensa a respeito das notícias; as colunas de domingo, sempre diferentes; o caderno de esportes, o único que é atualizável no domingo (e o único que não parece notícia requentada); o caderno de economia, e os mesmos indicadores econômicos de sempre, etc. e tal. É engraçado dar uma parada, ainda, na revista dominical e nas colunas segmentadas, em que se não se sabe direito para que o "politicamente correto" serve; entretanto, é muito gostoso ver o tipo de conversa que pode surgir daí, e pensar se não há um desnível entre o que se pensa e o que se faz, de fato.
 
O tempo passa, já li o jornal todo e talvez uma releitura se faça necessária; entretanto, já é hora do almoço e minha mãe me chama. Antes, porém, tenho que reorganizar todo o jornal e pô-lo no canto, talvez tirar alguma coisa para ler mais tarde; entretanto, depois de lida toda aquela informação, me pergunto se esse ritual vale alguma coisa, se todos os fatos correspondem ao real ou são apenas a minha impressão dos fatos, enquanto discuto com meu pai os motivos da queda da bolsa e da subida nas pesquisas de certo político safado, e por aí vai ... até que o estômago e o cheiro do macarrão encerram as discussões, até o próximo domingo, quando tudo se repete de novo.
 
É, nada como o domingo de sempre.

 

Fábio Peres da Silva
23/10/00, 16:30

8.8.09

Poesia

O vazio

 

Pediram que eu escrevesse sobre o vazio.

 

Mas escrever o quê?

 

Nao há nada no vazio.

 

Há, sim,

a luz dos detalhes,

de cantos que mostram,

outros que se escondem;

a luz, ou sua falta,

e o que mais aparece

para nos mostrar

o profundo vazio

que existe na falta de algo.

 

Mas, se pudermos pensar,

e até refletir,

sobre o estúpido tema,

nao ha nada no vazio.

 

Apenas vazio,

vazio que dói,

angustia, atormenta,

vazio que cai,

cai sobre as pessoas,

vazio que teme,

afugenta, deprime,

vazio, enfim.

Não há nada no vazio.

 

 

E, se pudesse,

não haveria nada mesmo,

pois, já que não posso descrever o nada,

torna-se inútil falar no vazio

que existe em cada um de nós.

 

 

Pensando bem,

que texto mais vazio esse, não?

 

  

 

 

fps,12/01/1996 

7.8.09

Fretados, lei antifumo ... é o higienismo à solta em São Paulo ...

Sejamos francos: todos sabemos que São Paulo há muito tempo embarcou na visão neofascista de uma parcela significativa dos formadores de opinião de que medidas restritivas são a única forma de se manter a ordem diante do caos social, validando uma ditadura social no melhor estilo de "1984", desde que se convencionou por estas bandas que leis de cunho autoritário resolveriam todos os problemas do cidadão e trariam "ordem" a um mundo em frangalhos, representado pelo teatro de absurdos de Brasília e o caos inexplicável do Governo Federal.
 
Só isso explica porque tanto gosto do paulistano por medidas autoritárias como a Lei Antifumo, a proibição aos fretados e, mais no passado, a Lei Cidade Limpa - e, convenhamos: a grande maioria da população não fuma, e se fuma dificilmente será afetada por uma lei que deveria afetar o cotidiano normal do cidadão (fuma em casa, ou na rua, mas não no trabalho e nem vai a baladas ou barzinhos da moda); some-se aos "tabachatos" de plantão, aqueles que vibram com cada passo em direção à proibição do tabaco mas que não cuidam bem nem da própria saúde, ou da sua vida social ...
 
... e pronto; viva mais uma das barbaridades contra o direito individual, que faz com que, bem lá no fundo, os esclarecidos sintam um profundo desprezo por viver num trecho do Brasil no qual a "orrrrdem" virou pretexto para impor qualquer tipo de barbaridades e disfarçar as próprias incompetências de sua administração e a forma tacanha de ver o mundo, no que é chamado pelos cientistas sociais de higienismo e pelo cidadão comum de "jogar a sujeira para debaixo do tapete".
 
Para muitos é fácil, basta dizer "não é meu problema mesmo" ... mas e quando o problema realmente te afetar (isso é, se afetar, um dia?).
 
P. S.: E, a propósito, Kassab está recuando um pouco no Cidade Limpa - talvez porque está faltando $$$ para pagar as contas da "cidade perfeita" que ele inventou ...

2.8.09

Poesia

Loucura e matança

 

Muitos matam,

todos os dias,

por falta de dinheiro.

 

Muitos matam,

todos os dias,

por falta de esperança.

 

Muitos matam,

todos os dias,

por briguinhas pessoais.

 

Muitos até mesmo se matam,

por não suportar a si mesmos.

 

E como matam!

E muito matam!

 

Os hospícios estão cheios,

e vão lotar ainda mais,

mas outros loucos estão à solta.

 

Loucos que não babam,

não gritam,

não andam nus pelas ruas,

nem mesmo falam sozinhos

ou agem de maneira estranha.

 

Mesmo assim,

loucos estão,

e ninguém vê.

 

 

Depois ainda acham que o louco sou eu.

 

fps, 06/12/95

1.8.09

Gente que torna a internet brasileira insuportável

Existe um tipo de pessoa na Internet, que se diz "muito macho" e está disposto a fazer qualquer tipo de revolução desde que não tire a b... da cadeira ou que não precise sair às ruas num dia de frio intenso; essa espécie de babaca transgressor, seja ele de direita ou esquerda, povoa os comentários da blogosfera, preferindo fazer e falar besteira dos textos de qualquer blogueiro e tentando desqualificar a pessoa que está escrevendo (e não o que ela escreve).

Também há outro tipo de comentarista que me dá nojo, o autoritário de plantão que podemos detectá-la muito bem - são os imbecis que atacam os fretados e os fumantes de São Paulo e que citam a Lei Cidade Limpa para dizer que os deveres serão implementados sem direito a contestação, sem notar os efeitos da tal Lei na vida do cidadão que não acha o Centro de SP a oitava maravilha do mundo (no caso dos fretados, inclusive, essas pessoas brilharam à exaustão, fazendo com que os que não são paulistanos acreditem que o cidadão dessa terra vive apenas próximo à Paulista e Higienópolis).
Tem ainda as pessoas que inventaram o #forasarney e a maneira mais cômoda de expressar indignação, chamando o Ashton Kutcher para a briga e levando uma verdadeira lição de democracia do marido da Demi Moore, e os próprios blogueiros tipo Reinaldo Azevedo e sua retórica quase fascista da sociedade brasileira ...

... olha, a lista vai longe, mas eu prefiro ficar por aqui nessa retórica porque já estou percebendo que o texto ficou chato demais até mesmo para quem o escreveu.
...

E, para não dizer que só temos coisas ruins na vida, vai um pequeno colírio para alguns olhos cansados da vida, homenageando o Somos na Selva e outros blogs "injustiçados" por aí: