30.10.09

Poesia

Sobre a natureza da vida

Caríssima,
às vezes é duro
olhar para as voltas que o mundo dá.

Impressiona
sentir que a vida
em todos os cantos tem algo a mostrar.

A mostrar
que em todas as horas
sempre haverá algo que descrever.

Descrever
o sentido da vida
em poucas palavras, não dá p´ra entender.

Entender
que a vida é insana
e ingrata, e dá forças para conservar.

Conservar
a beleza da vida
que, apesar de ingrata, é boa também.

Pois eu sei
que, sonho ou pesadelo,
a gente melhora, pensando mui bem.

Não se iluda,
que o tempo não muda
os caminhos onde eu irei passar.

Já que sei
que, por vida ingrata,
num repente muda, como mudará.

Mudará,
para um tempo escondido,
onde toda tristeza haverá de cessar.

E onde a alegria sempre reinará.




fps

29.10.09

Procurando carro para a família?

Quer um carro espaçoso, confortável e no qual caiba tudo o que você precisa? Não sei qual é o carro que você compraria no Brasil, mas se estivesse no Japão eu compraria este aqui do vídeo:



Eu não entendi nada do que eles disseram, mas se o Ultraman e a sua família garantem que ele é bom, quem sou eu pra duvidar disso? (rs)

Criança Esperança vs Teleton: a "concorrência do bem" que dá certo

É estranho chegarmos atrasados à festa, quando o Teleton bate recordes de arrecadação e vai construir uma nova unidade em Poços de Caldas, sem falar na que será "ganha" na Zona Sul de São Paulo (da qual falaremos abaixo) - mas não deixa de ser maravilhoso que esteja ocorrendo uma espécie de concorrência entre as principais redes de televisão brasileiras para alavancar sua imagem e, o mais importante, garantir que entidades sérias recebam recursos para realizar suas obras assistenciais e divulgá-las Brasil afora.


Poderíamos dizer que seria até melhor se as emissoras realmente se unissem em pools de transmissão para ajudar alguém, mas a realidade nos mostra que é melhor que todos na televisão trabalhem nos seus "pequenos mundos", pois os esquemas comerciais impedem que uma emissora coopere com a outra pelo bem comum. Entretanto tal situação tem seu lado bom, pois força a segmentação de estratégias das várias campanhas: enquanto o Criança Esperança trabalha mais na divulgação da imagem do Unicef e dos direitos da criança, tão negligenciados no cotidiano, o Teleton trabalha mais com o concreto, ajudando a transformar a AACD num centro de referência quando o assunto é deficiência física.


E, no final das contas, o que importa é a meta atingida, seja qual ela for - por isso, que seja bemvinda a concorrência das correntes do bem.


...


O Teleton foi espetacular, mas apenas um fato deveria ser lamentado: quando o Kassab e o Serra apareceram para anunciar a parceria na construção de dois novos centros de reabilitação na Zona Sul de São Paulo. Lamentável, na verdade, porque quem cuida da AACD e de eventos sociais deveria saber que obras desse tipo são apolíticas e deveriam continuar sendo apolíticas, assim como também deveria ser discreta a participação de doação dos artistas (o próprio Silvio Santos declarou, durante o evento, que estavam descumprindo regras dos donos do programa).


Será que vale a pena transformar eventos que servem para arrecadar dinheiro para caridade em propaganda, seja política, institucional ou mesmo pessoal? Eu sei, eu sei, é para caridade, mas ... será que a Globo faria isso com o Criança Esperança?


Ou melhor: será que o Unicef permitiria que a Globo usasse sua imagem da forma que a AACD permitiu nesse Teleton?

28.10.09

Conversa com Deus


Senhor, acho que eu nem deveria estar escrevendo esse texto. 


Sabe, muitos até achariam que isso é uma doce bobagem - coisa de criança, sabe, coisa de pessoa fraca, que não sabe o que pensa, nem o que acha da vida, muito jovem para saber os desígnios que se esperam em todo canto, a cada momento, em cada coração. 


Não sei, realmente, se poderia pensar de maneira distinta - afinal, tu, o onipotente e onisciente que comanda as nossas vidas, bem o sabes, e muito mais do que eu. 


No entanto, eu, infinitamente mortal como sou, me digno a fazer o que ninguém faria, ou costumaria fazer - sim, pois muitas vezes ainda nos esquecemos de que, além de Senhor das vidas que perambulam por esse mundo, estejam elas aqui ou não, sejam elas ligadas a ti ou desconhecedoras de tua graça e bondade, Tu és Pai, Pai de todos, o grandioso ser que criou o homem à sua imagem e semelhança, e que teve tanto amor por esse mundo que mandou à Terra seu próprio Filho para que ele saísse do caos em que estava e tivesse o direito de estar junto a Ti.


Sabe, Pai, às vezes tenho pensado como deve ser difícil a vida de Ti. 


Todo-Poderoso e sublime, detentor das forças, és o portador de todo o Bem que existe sob a face da Terra. Tu permitiste muitas coisas, no decorrer dos tempos - e ainda haverás de permitir, já que muito há de acontecer até que o Juízo chegue, e nós, reles mortais, seres ignóbeis perante tua presença, tenhamos que pedir perdão pelos nossos atos, que são muitos, e esperar a humilde clemência que muitos de nós não terão.


Creio, Senhor, que deve ser difícil e muito além do nosso conhecimento mortal saber o quanto Tu sofres com a perda de um filho seu, o quanto Tu sofres com as pessoas que não te reconhecem, o quanto Tu ficas intranqüilo com a capacidade de muitos de enganar e falar em teu nome, como se fossem dignos e capazes de pronunciar o nome "Deus" com o respeito e a admiração que realmente esse nome precisa ter. 


Não estamos nos antigos tempos onde nem seu nome podíamos falar sem nos prostrarmos - no entanto, mesmo naqueles tempos, muitos falavam de Ti com escárnio, e muitos, na vida e na História, usaram teu nome para coisas absurdas e inimagináveis a quem se diz digno de ser teu filho.


Pai, não tenho o direito de pedir-te para ser teu filho. 


Na verdade, Pai, nem mesmo esse direito teria, se Tu não me desses a força e o dom de poder estar junto de Ti. 


No entanto, meu Pai, eu somente lhe peço que possa lutar pela vida, e fazer de cada dia, e de cada momento, alegria ou tristeza, uma prova de amor, de esperança e de fé, e de toda a certeza de que um dia, enfim, poderei olhar para os lados, e dizer-te, como o desabafo de quem já fez tudo o que pode nessa vida ingrata, e enfim venceu: "Senhor, me leva daqui!".


Sei que sou falho, pecador, inútil e infiel. Mas também sou teu Filho, e quero mudar. Quero melhorar aquilo em que sempre fui bom, corrigir meu erros, apurar minhas falhas e fazer de minha vida um reflexo daquilo que há de bom no mundo. Prometo lutar, e confiar em Ti, pois não tenho força suficiente para transformar-me sem tua unção e teu infinito saber.


Que eu possa mudar o mundo e ser digno de estar aqui.


Que eu possa ser a força para os fracos que encontrarei.


Que eu possa encontrar apoio, e auxílio na vida que estou.
 

Que eu possa honrar o amor, e encontrá-lo, bem dentro de mim.


E, finalmente, que o que eu escrevo possa ser para todos um alívio, uma certeza, uma vontade, uma verdade, um apoio, uma bênção, uma alegria, uma força - e que, nesses textos, eu possa mostrar o mundo como ele é - e, acima de tudo, como ele deveria ser, mas não o é.


E assim, Exaltado Senhor, eu termino essa carta. Enquanto escrevo, oro e peço para que estejas conosco, e deixo essa carta nas mãos de teu Filho Jesus para que a entregue, com meus sinceros votos de que perdões e guardes, por todos os dias das nossas vidas, pelos séculos dos séculos, até que o final da vida nos leve, e venhamos morar contigo eternamente, em paz.


E que assim seja.



fps

27.10.09

Poesia


Tentando acordar

Toca o sinal do rádio-relógio.
 
Levanta,
gira,
deita,
descansa.
 
Gira,
sonha,
descansa,
acorda.
 
Sonha,
desperta,
acorda,
se prepara.
 
Desperta,
deita,
se prepara,
adormece ...
 
Toca o sinal do rádio-relógio.

03/11/03, 12:40

24.10.09

Prosa


Quanto te amo

- Te amo.
- Também te amo.
- Te amo muito.
- Mas quanto?
- Quanto?
- É, quanto?
- Muito, oras.
- Muito mas quanto?
- Muito mais.
- Muito mais que quanto?
- Quanto como?
- De que tamanho, oras!
- Do tamanho ... do tamanho ...
- Do tamanho ...
- Do mundo!
- Do mundo?
- E, do mundo todo!
- Do mundo todo?
- Só?
- Só?!
- Tem que ser mais.
- Então tá: te amo.
- Mas quanto?
 
- Do tamanho do mundo e muito, muito, muito, muito mais ...

fps, 18/11/03, 15:10
 

21.10.09

Poesia

Mesa de boteco I
 
Da conversa
acalorada
em mesa de bar
sobra sempre
uma conclusão
 
depois
de muito falar
e muito beber,
nem sempre
alguém tem razão.

fps, 21/10/2009, 11:25
 

19.10.09

Prosa

Descobertas

 
- Foi bom pra você, não foi?
 
- Foi ... mas o que é que foi mesmo?
 
- Sei lá, só sei que é assim que ele falou.
 
- Mas foi bom, o quê?
 
- Eu não sei, não sou eu quem disse isso, foi ele quem disse pra ela ...
 
- É, mas o que é que ela disse?
 
- Nada.
 
- Nada?
 
- É, nada.
 
- Nada mesmo?
 
- É ... só chegou assim, do lado dele, foi estranho ...
 
- Estranho?
 
- É, estranho ... até porque ela ´tava gemendo um pouco antes.
 
- Gemendo? Me explica esse negócio direito ...
 
- Como assim?
 
- É ... não sei, não dá pra explicar ... eu não vi nada, ´tava fora do quarto ...
 
- Então você não viu?
 
- É, não vi ...
 
- E como é que vai saber se foi bom ou não?
 
- Eu não sei ...
 
- Ah, você não sabe nada, mesmo!
 
- Você é que não sabe!
 
- Você é que não!
 
- Eu é que vou te mostrar o que é que ele fez  ...
 
- Ah, não, não vai mostrar nada não hmmmmmmfffffffff....
 
- ...
 
- ...
 
- Foi bom pra você?
 
- Não sei, preciso conferir uma coisa.
 
- Que coihmmmmmmm ...
 

 fps ,12/11/03, 10:31

10.10.09

Prosa

Segunda carta

"São Paulo, 16 de maio de 1.995

Querido amigo, quantas saudades !

Não sei se sua vida vai indo tão bem, mas quanto a mim, vou indo nesse mar de ansiedades que sempre me persegue.

Estou lhe escrevendo, como sempre, por causa dele.

Ah, meu amigo, como estou insegura! Não sei realmente o que ele pode vir a pensar de mim, não entendo nada do que acontece, não sei o que posso fazer ... na verdade, não sei nada, e tudo o que sei ainda é muito pouco para que possa ter segurança de alguma coisa, qualquer que seja.

Socorro, meu Deus!

O que faço para resolver tudo isso ?

Pode ser a simples insegurança de uma doce menina ingênua, mas tudo isso me causa dor ... muita dor.

É bom falar sobre isso com você. Você, tão calmo e seguro, poderia me dar uma grande ajuda.

Mas você esta longe, tão longe de mim, como se um oceano nos separasse.

E, quem sabe, está muito mais feliz do que eu.

Posso estar criando meus próprios problemas, podem ser coisas de moça imatura, como você mesmo diz, mas assim mesmo estou preocupada, como se me faltasse alguma coisa para melhorar um pouco ...

Bem ... a vida é assim mesmo, e espero que dê tudo certo.

Obrigada pela atenção que você me dá, querido.

Assim me sinto um pouco melhor para encarar a vida, essa grande caixa de onde saem as surpresas que nós temos que encarar todo dia.


Beijos."

6.10.09

Prosa

Ressaca

Durante o dia, sonhos estranhos vagueiam a vida dos homens e mulheres que vivem de noite, a cruzar o espaço de um mundo sombrio. São sonhos malditos, compostos de nuvens escuras, brilhos fortes, claros como o sol, grandiosas combinações de delírios e vontades, vidas vividas, coisas não ditas, palavras escuras, e muita emoção.

E, com ele, não seria diferente.

Havia passado a noite em claro, vagabundeando feliz e sorridente por entre os becos escuros da noite da cidade - noite esta que guarda a emoção do sorriso fácil, do grande cinismo, da vida feliz que se procura nos cantos, sem encontrá-la, sem nem ao menos achar algo que o fizesse esquecer os dias chatos que sempre vivia.

Que grande noite havia sido aquela ! Bebera, comera, de mulheres se fartara, até mesmo enfastiado estava, tanto havia aprontado, tanto havia vivido. E, ao mesmo tempo, tão só se sentia, como se lhe faltasse alguma coisa que o fizesse sentir bem consigo mesmo.

Valera a pena tudo aquilo ? Quer dizer, será que tinha sido bom ?

Olhava, dentro de si mesmo, para aquilo que era. Sentia-se vazio, apesar de tranquilo. Relaxado, talvez, seria a melhor palavra para definir seu estado de espírito, naqueles breves momentos que antecediam o raiar do sol.

A que horas teria voltado à sua casa ? Três, quatro, quatro e meia ? Não se lembrava, também não importava muito - teria que acordar, mais cedo ou mais tarde, para viver o real, o trabalho sofrido, as chagas do dia, a dureza do sol, sol que ele odiava, mas que também temia, e que o fazia sentir a necessidade de acordar.

Valera a pena ?

P´ra ele, valeu.

Pois para ele, viver era estar assim, intensamente, tentando fazer da vida uma grande loucura nas brincadeiras do destino.
   
Valeu, sim.

Outra hora, faremos de novo, e de novo, de novo, de novo, até o fim, quando tudo perder-se, e a vida se tornar, para ele, uma vaga lembrança daquilo que ele foi.

E do que teria sido, ou do que realmente foi.






fps, 04/01/96 (reescrito)

2.10.09

Poesia

Vida e morte de um pronome pessoal

Eu.

Eu.

Eu.

Eu.

Eu, eu, eu, eu, eu.

Eu.

Eu.

Eu.

Ela.

Eu.

Eu.

Eu.

Ela.

Ela?

Eu.

Eu.

Eu.

Ela.

Ela.

Ela.

Ela.

Ela.

Nós.

Nós?

Ela.

Ela.

Ela?

Ela?

Eu.

Eu?

Eu!

Eu.

Eu.

Ela.

Eu.

Ela.

Eu.

Ela? Eu? Ela? Eu?

Nós!

Nós!

Nós.

Nós, nós, nós, nós, nós.

Nós.

Nós.

Nós.

Ela ...

Eu.

Eu.

Eu.

Eu.

Eu ...
.

fps, 07/12/05