6.4.07

Poesia, bem antiga ...

O soldado

 

Compulsão e choro e estafa cansaço e sono.

Dureza da vida que pulsa com um novo dono.

Algo que nos traz fogo brando, de tal desamor.

Cauteriza a faca e afunda num ser ditador.

 

As ordens que me são mandadas eu faço eu cumpro.

Aquilo que me pedem digo procuro executo.

O que não sei peço que expliquem a mim com certeza.

Não valeu a tal longa espera por uma grandeza.

 

Me falta coragem e sobra cansaço no corpo.

Não tenho vivência de dor como a que agora eu sinto.

Não posso dizer que me iludo com tudo o que vejo.

Não posso porque já não vejo e p´ra mim é qu´eu minto.

 

Eu minto para minha vida achando que o belo

Se esconde por trás das pessoas que vejo e me calo.

Se esconde por trás dos bons sentimentos que carrego.

Se acalma e só então é que eu me sinto, me viro e então falo.

 

Eu quero sentir essa brisa perto do meu rosto.

Eu quero viver a emoção de ser melhor querido.

Eu quero sentir a bondade na vida que espero.

Eu quero com toda certeza ter mais de um amigo.

 

Eu seco espero a hora e o dia que vem

Onde eu certamente possa ser mais que um joão-ninguém.

Eu vejo na vida essa vida que espera e flutua

De um homem que desce, que corre, que ama, que sua.

 

Eu quero estar vivo para ver o tempo passar.

E só nessa hora verei coração sossegar.

 

Pois é na certeza de ter esse grande caminho

Que eu me levanto e posso então andar sozinho.

 

Final da história sentindo coração pulsar

O mundo está salvo - e eu posso então descansar.

 

Feliz é o homem que agora então pode me ouvir

E ver as verdades que a vida me fez bem sentir.

 

Espero o dia que chega, e o dia que vai

Para acabar com o sofrimento que em mim sempre cai.

 

Pois esta é a grande virtude no final da guerra:

poder assim, firme, encontrar ...

 

 

 

 

... a tal paz, bem sincera.

 

 

 

FPS, 18/10/1996, 13:24

27.3.07

A origem do símbolo '@' utilizado na Internet (EXTRAÍDO)

@ Você sabe qual é a origem do símbolo arroba ?
Na idade média os livros eram escritos pelos copistas à mão. Precursores da taquigrafia, os copistas simplificavam o trabalho substituindo letras, palavras e nomes próprios, por símbolos, sinais e abreviaturas.
Não era por economia de esforço nem para o trabalho ser mais rápido (tempo era o que não faltava naquele tempo).
O motivo era de ordem econômica: tinta e papel eram valiosíssimos.
Foi assim que surgiu o til (~), para substituir uma letra ( um "m" ou um "n") que nasalizava vogal anterior.
Um til é um enezinho sobre a letra, pode olhar.
O nome espanhol Francisco, que também era grafado "Phrancisco", ficou com a abreviatura "Phco." e "Pco".
Daí foi fácil Francisco ganhar em espanhol o apelido Paco.
Os santos, ao serem citados pelos copistas, eram identificados por um feito significativo em suas vidas. Assim, o nome de São José aparecia seguido de "Jesus Christi Pater Putativus", ou seja, o pai putativo (suposto) de Jesus Cristo. Mais tarde os copistas passaram a adotar a abreviatura "JHS PP" e depois "PP".
A pronúncia dessas letras em seqüência explica porque José em espanhol tem o apelido de Pepe.
Já para substituir a palavra latina et (e), os copistas criaram um símbolo que é o resultado do entrelaçamento dessas duas letras : &. Esse sinal é popularmente conhecido como "e comercial" e em inglês, tem o nome de ampersand, que vem do and (e em inglês) + per se (do latim por si) + and.
Com o mesmo recurso do entrelaçamento de suas letras, os copistas criaram o símbolo @ para substituir a preposição latina ad, que tinha, entre outros, o sentido de "casa de".
Veio a imprensa, foram-se os copistas, mas os símbolos @ e & continuaram a ser usados nos livros de contabilidade. O @ aparecia entre o número de unidades da mercadoria e o preço - por exemplo : o registro contábil 10@£3 significava "10 unidades ao preço de 3 libras cada uma".
Nessa época o símbolo @ já ficou conhecido como, em inglês como at (a ou em).
No século XIX, nos portos da Catalunha (nordeste da Espanha), o comércio e a indústria procuravam imitar práticas comerciais e contábeis dos ingleses.
Como os espanhóis desconheciam o sentido que os ingleses atribuíam ao símbolo @ (a ou em), acharam que o símbolo seria uma unidade de peso.
Para o entendimento contribuíram duas coincidências :
1 - a unidade de peso comum para os espanhóis na época era a arroba, cujo "a" inicial lembra a forma do símbolo;
2 - os carregamentos desembarcados vinham freqüentemente em fardos de uma arroba. Dessa forma, os espanhóis interpretavam aquele mesmo registro de"10@£3"assim : "dez arrobas custando 3 libras cada uma".
Então o símbolo @ passou a ser usado pelos espanhóis para significar arroba.
Arroba veio do árabe ar-ruba, que significa "a quarta parte": arroba ( 15kg em números redondos) correspondia a ¼ de outra medida de origem árabe (quintar), o quintal ( 58,75 kg ).
As máquinas de escrever, na sua forma definitiva, começaram a ser comercializadas em 1874, nos Estados Unidos (Mark Twain foi o primeiro autor a apresentar seus originais datilografados). O teclado tinha o símbolo "@", que sobreviveu nos teclados dos computadores.
Em 1972, ao desenvolver o primeiro programa de correio eletrônico (e-mail), Roy Tomlinson aproveitou o sentido "@" (at), disponível no teclado, e utilizou-o entre o nome do usuário e o nome do provedor. Assim, " Fulano@Provedor X" ficou significando "Fulano no provedor X".
Em diversos idiomas, o símbolo "@" ficou com o nome de alguma coisa parecida com sua forma, em italiano chiocciola (caracol), em sueco snabel (tromba de elefante), em holandês, apestaart (rabo de macaco); em outros idiomas, tem o nome de um doce em forma circular : shtrudel, em Israel; strudel, na Áustria; pretzel, em vários paises europeus.
(Retirado do livro: A Casa da Mãe Joana, de Reinaldo Pimenta).

21.3.07

Porque não valorizamos os verdadeiros heróis (ou porque é mais fácil ligar para o paredão do BBB que ajudar o UNICEF)?

Corre internet afora um arquivo pps comparando os "heróis" do BBB aos valorosos heróis de entidades conhecidas como o Repórteres sem Fronteiras e outras ONG´s de destaque, dando o devido reconhecimento a essas pessoas e entidades que tanto ajudam a melhorar esse mundo.

Entretanto faço um apelo às pessoas que elaboram esse tipo de pps: deixem a santa ingenuidade de lado e entendam de uma vez por todas que é muito mais fácil ligar a TV para assistir a final de uma Copa do Mundo ou de um SuperBowl que pedir a uma pessoa para olhar as mazelas humanas e fazer alguma coisa, até porque poucos são capazes de encarar as tragédias com a devida seriedade.

Falando francamente: a grande maioria dos indivíduos que liga para o paredão do BBB já viu ou ouviu muita coisa ruim em sua vida, e quer um pouco de pão e circo antes de acordar no dia seguinte e seguir para sua labuta diária - e é para essa gente comum que são feitos os programas de TV, com toda a magia perversa da qual eles fazem parte.

Logo, quando tem gente que pergunta porque é mais fácil ligar para o BBB que para o Criança Esperança (mas que não liga para o 0800 em época de campanha), é fácil responder; simplesmente gastamos no que nos diverte e faz sonhar, só isso.

Afinal de contas ninguém dorme apenas pensando na miséria humana, a não ser que seja sádico ou aspirante à Madre Teresa de Calcutá ...

5.3.07

Em breve: carros movidos a catavento que não andam nada ...

Deixe-me ver se entendi: quer dizer então que a Independent está alertando contra os riscos do etanol, falando sobre os dejetos industriais que não conseguem ser aproveitados facilmente (o nosso conhecido vinhoto)? Ou seja, nem o álcool etílico serve como combustível ecológico na opinião dos papas do capitalismo mundial?
 
Parece-me que o risco de um cartel da cana, aliado às pressões do Greenpeace e similiares, estão queimando as oportunidades para combustíveis menos poluentes e que sejam ao menos viáveis para substituir o velho e bom petróleo, que pode ser poluente mas ao menos é eficiente na hora de se transformar em energia desde que inventaram o motor a combustão.
 
Estranho como nessas horas alguém inventa de falar na energia solar ou na eólica, as únicas formas de se obter energia 100% renovável e 100% limpa; aliás, é engraçado que ninguém tenha citado isso ainda - talvez porque é extremamente caro e totalmente inviável gerar energia do Sol ou do vento para mover um carro, que ainda por cima terá a velocidade máxima de uns 40 km/h, impraticável no contexto da indústria automobilística (que é uma das que mais poluem, principalmente nos EUA).
 
Alguém ainda vai falar no assunto - até porque ecologista digno de nome tem sempre um carro elétrico, que, aliás, não usa, porque prefere o SUV(*) ultrapoluente que ele tira da garagem só para ir ao supermercado da esquina ...
 

 
SUV: de space-utility vehicle, é o jipe 4*4 que consome um litro de diesel a cada 3 km, convertendo-se no maior vilão urbano da poluição dos tempos atuais - e o preferido dos ecochatos que não saem para a floresta nem que o golfinho tenha coqueluche ...
 
 
 

Ele também vota?

Eleitor-fantasma

Em campanha para se reeleger à Câmara Municipal de Bauru, em 1992, o então vereador Edson Santos visitou uma residência na periferia da cidade paulista e pediu voto a um por um dos familiares. Na hora de deixar o local, parou na porta de um dos cômodos, que estava na penumbra, e acenou para o vulto que enxergou lá dentro:
-Boa noite!
Inconformado com o silêncio, Santos repetiu o cumprimento. Como de novo ficou sem resposta, o vereador, meio sem jeito, indagou ao dono da casa:
-É seu filho?
-Não, é só o boneco de Fofão-, respondeu o homem.
(Contraponto, Folha de São Paulo, 05/03/2007)

2.3.07

Poesia

liberdade
 
o livre pensar
é um martírio
 
o livre arbítrio
é pesado
 
o livre falar
é um perigo
 
o livre sonhar
é amargo
 
o livre amar
é sentido
 
mas livre é olhar
sem pecado
 
o livre viver
de um amigo
 
e livre querer
ser querido.
 
 
pensando bem, vou desfazer esse poema todo; é muita liberdade para um poema só ...

Leia - se tiver coragem

Que dor dói mais?
Maria Inês Nassif, em "O Valor" de 02/03/2007


João Hélio Fernandes tinha apenas seis anos de vida quando, no último dia 7, não conseguiu se livrar do cinto de segurança que o prendia ao banco de trás do carro antes que os assaltantes que renderam sua mãe arrancassem o veículo e o arrastassem por 15 minutos, 7 quilômetros, 14 ruas e 4 bairros. Ali terminava uma curta vida e iniciava, certamente, uma dor sem tamanho para a mãe, Rosa Maria Fernandes. E não deve existir dor pior do que a perda de um filho.

Delma Domingos de Carvalho, quase da idade de Rosa Maria Fernandes, oito filhos, chora também um filho morto que ainda não morreu. A. começou a construir a sua sepultura lá pela favela de Nhocuné, em São Paulo, com três anos a mais do que João Hélio. Continua lá, abrindo o buraco, pá por pá, até que a droga o jogue na sepultura. Foi internado pela primeira vez na Febem aos nove anos, outra aos 11 e a última aos 16. Depois "de maior", já amargou dezoito meses de presídio. Tem grandes chances de engrossar as estatísticas de morte entre jovens, principal indicador de violência. Não tem muito jeito. Lá no morro, se A. quiser voltar para a "farinha" encontra-a na esquina. As mães da favela não reclamam falta de escolas, mas se perguntam o que fazer com os filhos quando estão no trabalho e eles fora do ambiente escolar. Uma tranca os filhos em casa. A outra reza. Aquele pequeno exército de sandálias havaianas, no entanto, pode ser A. - ou um dos outros sete filhos de Delma que escaparam desse destino. Basta andar na rua.

Dona Delma é considerada a filósofa da favela. Enche cadernos e cadernos com pensamentos e poemas, a maior parte deles na tentativa de entender a diferença entre as pessoas - inclusive entre os próprios filhos -, o mundo em que vive e saber como ser feliz apertando-se com os filhos num pequeno barraco e vivendo da caridade alheia. Fez até o segundo ano primário, mas escreve com pouquíssimos erros. E é através das palavras que tenta construir ideais de felicidade que, sem dúvida, estão muito longe de seu alcance.

Dona Delma fez parte de um programa que arregimentava mães de internos para trabalhar na Febem. Esteve lá. Rezou pela primeira internação de A.. Achou que se o filho ficasse longe das ruas de Nhocuné teria mais chances de recuperar a infância perdida. No caderno, é perceptível o processo de reconhecimento que faz da instituição. Primeiro, a primeira impressão de que todos - funcionários, as mães faxineiras e a instituição - estavam no mesmo lado. Mas as desconfianças chegavam na forma de sombras. "O peso da noite tira o sossego. Pelos vitrôs entra a brisa, que não faz diferença nenhuma no clima tenso dali. A noite faz com que os corredores se tornem tumbas, mas com seres vivos andando como zumbis (...). Adolescentes infratores seguem seus condutores. Ouvem as ordens, obedecem ou se rebelam." O clima que impregna vem em outra parte: "Hoje na Febem/ Garotos enraivados/ Agentes irados/ O clima estava pesado/ E eu com meu balde e minha vassoura/ Me sentindo uma invasora". O balde e a vassoura lhe permitiram, aos poucos, ver que o clima era sólido como uma pedra. "Hoje meu coração está apertado. Porque na Febem, tive um fato revelado. Um adolescente machucado, pedindo pra ao ir banheiro ser acompanhado. O condutor demorou meia hora, que eu mesma, sem acreditar, marquei no relógio. O adolescente, sem escolha, teve que esperar. Então que eu percebi onde eu fui parar. No meio de desumanos, descendentes de Hitler. Sentem prazer em judiar, maltratar e prejudicar os garotos que, sem escolha, são instrumentos do bel prazer tenebroso no campo de concentração dos condutores da Febem."

Periferia fabrica bandidos e vítimas

É a mãe também que tenta entender, em seu sofrimento, a individualidade do filho. É a mesma mãe que tem medo da violência que toma conta do mundo à sua volta. É a mãe que, num poema quase ingênuo, conta que extraterrestres chegaram ao planeta mas resolvem ir embora. "É assim que vocês vivem uns com os outros? Iguais mas tão diferentes. O que houve com a sua gente?" Numa rima pobre, em outro poema, a outra dúvida - quem sabe foram os marcianos que a incutiram em Delma: "Brasil varonil/ quem foi que te feriu?"

E é a mãe que dói que está à espera do filho, que vai sair da Febem: "Te espero aqui na porta. Hoje ou quando tiver que ser. Não tenha pressa. Só quero o bem pra você (....). Acredito em você. Faça o seu lado do bem vencer".

O caderno de Delma é uma lição. Essa é apenas uma tentativa de dividi-la nesse momento em que, justamente, o país compartilha o sofrimento pela vida de um menino de seis anos e tenta medir a dor de uma mãe que perdeu um filho - e não deve ter padrão métrico que dê conta disso. Mas Delma, também, que pode enterrar o seu filho a qualquer momento, tem direito à mesma fita métrica. Nesse momento em que o tema sobre a redução da maioridade penal tem tudo para se tornar hegemônico, talvez se possa inverter o debate e ver como o país, principalmente nas suas periferias, constrói fábricas de menores infratores ou candidatos a celas de presídios. Ou, pior ainda, vítimas de bandidos e policiais que, de tão banalizados nas periferias, sequer comovem ou remetem a qualquer debate.

Ensina Delma, em outro poema: "Somos reféns dos astros, no palco da vida. A peça todos conhecemos: Polícia e Bandido, Dinheiro ou a Vida". Ou a recomendação justa, num texto intitulado "Não julgues": "A situação já é dolorosa, não coloque ninguém à prova. Nem diminua quem já está sofrendo. Não se sinta um poderoso, por sua profissão ser um pouco melhor que a dos outros. Pense que todos somos irmãos: ao invés do chicote, estenda a mão, ao invés da língua, use o coração."

Termino com um texto que Delma fez ao filho A., chamado "Desajustado": "Está aprendendo na vida, na base de muita porrada. Apronta, escapa! Faz a vida certa, faz a vida errada. Traz no corpo cicatrizes dos seus vários deslizes. Mas teima em ser feliz. Cuida do seu próprio nariz. Agora foi parar num dos piores lugares: na Febem do Brás, pra aprender a não andar para trás. Aos dezessete, na Febem. A partir dos dezoito.... Responder? Só a ele convém!!!"



20.2.07

Uma perfeita análise do caso João Hélio

Luis Nassif, sempre soberbo, analisa o caso João Hélio na profundidade que essa tragédia requer - aliás, vale a pena ler as análises DEPOIS da roda dos crimes ter girado, e que podemos pensar um pouco mais friamente sobre o que acontece no nosso cotidiano.

Clique no título ou no link abaixo para ver o comentário:

http://z001.ig.com.br/ig/04/39/946471/blig/luisnassif/2007_02.html#post_18775696

16.2.07

Agora eu gostei ...

Novo template, nova postagem ... o que mais devo fazer para que esse blog seja campeão de audiência? rs ...

A educação no Brasil vale realmente um C- ?

Passou batido, mas o resultado médio do ENEM, mais que um atestado preocupante da educação brasileira, é mais uma prova de como funciona a cultura brasileira, tão dada a jeitinhos quanto ao esforço mínimo para se fazer qualquer coisa da qual não se gosta.
 
O motivo é a média do exame - 4,7 em uma escala de 0 a 10. Essa é uma nota emblemática, considerando-se que:
  • a média mínima para passar na maioria das escolas públicas brasileiras é 5;
  • nas particulares, embora a média em geral seja maior (6 ou 7), essa é a nota mínima para a recuperação.
Um estudante que tira uma média de 4,7 num exame, portanto, estaria diante do difícil dilema - ele 'quase' passou de ano, ou 'quase' foi para a recuperação, ou 'quase' conseguiu o mínimo necessário para alcançar o objetivo final; esse aluno fatalmente vai chorar as pitangas para o professor, que, diante de uma avaliação subjetiva, vai dar um pequeno trabalho, realocar uma prova ou mesmo dar meio ou um ponto a mais, a fim de que o aluno consiga passar de ano.
 
Donde se conclui o seguinte: o estudante brasileiro só estuda mesmo é para passar, porque quem consegue 4,7 na escala de 0 a 10 apenas se preocupou em garantir o mínimo necessário para não perder o trabaho de um ano. Fosse em São Paulo esse 4,7 seria o 'cê menos' (C-), ou seja, a nota ideal para qualificar os um pouco abaixo da média necessária - ou seja, medíocre.
 
Entretanto, como o negativo do C some na hora de se fazer a média do bimestre, ficamos assim: o aluno brasileiro passa de ano, mas não se esforça; é medíocre, mas não merece perder o ano letivo; e, principalmente, não está nem aí quando vai fazer um exame como o ENEM, que só dá os pontos para vestibular, e mais nada.
 
Uma boa medida da cultura brasileira - e isso o Cristovam Buarque, certamente, não pensou.
 

 
Para se entender: em São Paulo se utilizava (não sei se ainda é assim) a escala ABCDE para medir o desempenho do aluno, na qual a média é C - 3 pontos numa escala de 1 a 5. Muitos professores, no entanto, utilizavam os positivos e negativos para refinar esse contexto, embora não fosse valer nada na média geral.
 
Donde se conclui que um 'C menos' é a nota ligeiramente inferior à média necessária, o 'quatro e meio' - ou o 'dá pra passar', se é que você me entende ...
 

15.2.07

Poesia

prisão inconsciente

às vezes
me meto nessa prisão,
inconscientemente,
esperando respostas da vida
que nunca vem.

são tempos
que vem de forma consciente
e vão de forma inconsequente.

são formas,
formatos de mulheres inimigas
e homens vazios,
de pessoas sem sentido,
de medos, de critérios.

sou uma pessoa
presa a um vazio
do que não sou.

na verdade,
apenas sou eu
que não sei ainda
quem serei no futuro.

futuro?

a deus, somente a glória.

FPS, 13/02/2007, 10:25

14.2.07

Polêmicas, polêmicas, polêmicas ...

... não custa nada recolocar um texto bem antigo que resume toda essa onda (com a diferença de que estamos cada vez mais agressivos, seja da turma de bem, seja da turma do bem):
 

 A roda dos crimes que abalam o país

Tudo começa numa nota de pé de página, num jornal de grande circulação, tipo "empresário é assassinado misteriosamente", ou "fulano se encontra desaparecido", ou "famoso encontrado morto na porta de sua casa"; nada de mais, apenas uma nota sobre uma suspeita de um crime ou um crime que, a princípio, pareceria corriqueiro.
 
Depois, as notícias que dão o choque: o empresário assassinado fora barbaramente torturado até a morte por traficantes de drogas adolescentes, ou o corpo de fulano é encontrado dilacerado por ordens do próprio filho, ou o famoso é morto por alguém que se desejava invejoso e firmara um pacto de morte com a própria mãe para executar o crime.
 
Mais notícias: o empresário era um senhor benevolente que dava emprego a cerca de 1000 funcionários e ajudava às famílias destes, o fulano era um pai exemplar que levava os filhos à praia toda semana e que se preocupava com os "maus elementos" amigos do mais velho, que planejou o crime, e o famoso era um ator promissor que recentemente se casara com uma apresentadora de TV e chamava a inveja do assassino.
 
Em três ou quatro dias, acontecem as mais diferentes respostas: editoriais dos jornais conservadores clamando por justiça e mudanças nas leis, editoriais dos jornais mais liberais lembrando que a coisa não é bem assim (e sendo atropelados pelo clamor popular), pais, filhos, netos, amigos e tudo o que mais clamando contra os absurdos dos "direitos humanos para bandidos" e querendo justiça; determinada apresentadora fazendo clamores pelo fim da baixaria e pela pancadaria, outro pedindo pau neles ... e por aí vai.
 
Em nove ou dez dias, tudo se acalmará de novo: notícias surgem a todo momento, e o povo precisa trabalhar, afinal de contas; os parentes das vítimas montarão associações pela justiça e pelo endurecimento da lei; políticos levarão projetos ao Congresso, e alguém se lembrará que o nosso país é signatário de tratados internacionais que prezam o respeito às liberdades individuais (lógico, porque para a ONU direitos são direitos, e não para poucos mas para todos); os projetos são arquivados ou entram em compasso eterno de espera; passeatas são montadas, e tudo fica por isso mesmo; se o assassino é morto na cadeia, ou se alguém comete uma loucura, as entidades de direitos humanos esperneiam, mas ninguém liga, porque "bandido bom é bandido morto", e tudo fica por isso mesmo.
 
Em quinze dias, ninguém mais se lembra dos nomes dos assassinos ou dos criminosos, a não ser em colunas que costumam tratar casos assim a fundo (e que quase ninguém lê).
 
Em trinta dias, tudo cai no esquecimento e a vida segue seu rumo.
 
Até que outra nota de pé de página comece tudo de novo ....

FPS, 20/11/03, 10:21
 
P. S.: Que quando a poeira baixar possamos discutir o assunto a sério.

13.2.07

João Hélio e - mais uma vez - a redução da maioridade penal

Mais um crime hediondo no país, e novamente a roda e a roda dos crimes que assolam nossas consciências se torna mais forte, e em cima de duas medidas, uma velha e uma nova, que são apontadas todos os dias para se resolver crimes que não tem muita solução.
 
A primeira, a da maioridade penal, vem a calhar para os que se identificam com os filhos das vítimas mas desconhecem que a Lei é para todos, sem exceção (ou deveria ser, pelo menos); a segunda, a da autonomia penal, é a novidade lançada pelos que desconhecem que não é só de Código Penal que se vive nesse país, mas também de Código Civil, Comercial, CLT e outras tantas - que, estranhamente, ninguém quer estadualizar para não dar ônus aos Estados da Federação.
 
Particularmente, sou favorável à redução da maioridade - não só da penal: afinal de contas, quem é que não quer dirigir, casar, trabalhar, prestar concurso e tantas outras coisas que só os maiores de idade poderiam ter? E quanto a autonomia, também sou a favor - mas não só da penal: porque não a autonomia completa dos Estados, que lhes daria o poder de fazer impostos e criar suas próprias Leis do Trabalho, da Previdência, administrativas e etc.?
 
Logo, porque não liberar geral? Seria ao menos mais fácil e menos hipócrita lidar com as consequências de nossa realidade insana.
 

 
Para pensar: se baixarem a maioridade penal e em dez anos manchetes de jornal falarem nos custos cada vez maiores de nosso sistema carcerário, alguém vai se sensibilizar com o imposto que está pagando para manter esse sistema? Ou vão pedir a pena de morte em massa, no modelo chinês, para 'resolver o problema'?
 

 
Finalmente: meus sentimentos à família do menino - uma morte estúpida, de um jeito estúpido, num mundo cada vez mais estúpido.