28.9.05

Aviso aos navegantes - de novo !!!

Esse blog tem trabalhado até agora com diferentes tipos de posts: de textos literários à comentários sobre TV, passando por situações do cotidiano e até comentários sobre política - mas penso em dividí-lo em outros pedaços, para poder fazer uma propaganda melhor e evitar expulsões por spams, comentários do tipo "não entendi" e coisas do gênero.
 
O que acham os nossos amigos? Comentem, respondam, dêem seu alô, por favor ...

De olho na TV: Golias e o "estereótipo do paulistano"

Morreu Ronald Golias, e este blog, sempre atrasado mas em tempo, fala sobre essa passagem, das mais sentidas dentro da TV ultimamente - e de forma proporcional à importância que o humorista teve na telinha brasileira, principalmente na época da lenha e que se vê até hoje presente, quando imaginamos que Silvio Santos, Hebe Camargo e outros já viraram patrimônios da cultura brasileira de massas, muito estudada mas pouco compreendida, pela falta de empenho em se conhecê-la.
 
Golias era o único humorista que conheço que conseguia fazer um trabalho dos mais difíceis, o de estereotipar o habitante de São Paulo, com seus defeitos, virtudes e incorreções, e os tipos humanos que sobrevivem e que são gerados na terra paulistana; e, convenhamos, está para nascer quem consiga fazer um tipo paulistano de humor melhor do que ele.
 
Carlo Bronco, por exemplo, é a melhor definição do que seria um malandro paulistano - quer dizer, é aquele que sobrevive às custas da família de posses e que bagunça todo e qualquer conceito vinculado ao conservadorismo da classe média paulistana, à medida em que arranja um jeito de sobreviver e garantir seus pequenos prazeres de cada dia. Pacífico é o aluno da escola de bairro, o que não aprende nada mas se mostra criativo e inventa uma maneira de se salvar da escola disciplinadora; Bartholomeu Guimarães, o professor perdido no tempo e nas lembranças de sabe-se lá quando, nos mostra a falta total de nexo dos que envelhecem presos aos velhos valores - quantos existem que são mais velhos do que aquele velhinho que caia no sono e era acordado pelo Carlos Alberto volta e meia na Praça ...
 
Eu sei, eu sei, parece papo de botequim esse post - ou papo do Profeta, que era o personagem ideal da conversa de botequim; mas, se é para falar e prestar homenagens, que se preste antes que o bolo esteja mofado; vai fazer falta esse tipo de humor, e quem se habilita a fazer piada do paulistano agora, hein?
 
Candidatos?

26.9.05

De olho em várias coisas: minha nova-velha habilitação e o Dia sem Carro

Sexta-feira, finalmente, consegui novamente o direito de dirigir.
 
Antes, porém, aviso aos navegantes: não sou mau motorista, não dirijo de forma rude nem fiquei alguns meses com a carta suspensa - só tive o azar, ou sorte, de ter nascido em 6 de setembro, um dia depois de entrar em vigor em São Paulo a regra dos cursos de renovação de carteira do Novo Código de Trânsito. Por essa nova exigência, passei o final das minhas férias assistindo às 15 horas de curso meio que obrigatórias que o DETRAN prescreve aos que expiraram a carteira e aprenderam a dirigir antes de 1998, época em que ainda não existiam suspensões de carteira, cursos de reciclagem e pontuações para as barbeiragens - e em que novos motoristas não eram obrigados a passar 30 horas aprendendo primeiros socorros, mecânica e as formas possíveis de direção defensiva, sem falar nas 15 aulas de volante e na carteira provisória de 1 ano.
 
Aprendi, com essa experiência, muitas coisas - a saber: que é extremamente cansativo voltar ao início de sua vida, em qualquer momento que seja; que mesmo as coisas pequenas, como a permissão para dirigir, tem seu valor quando corremos o risco de perdê-las; que somos maus motoristas não só porque não sabemos, mas porque não queremos mudar velhos costumes; e, principalmente, que filho feio não costuma ter pai mesmo.
 
Ou alguém sabe quem foram os responsáveis pela aprovação do Código de Trânsito? Nem você, muito menos eu ...

E, falando nisso, alguém lembrou que quinta-feira foi o Dia sem Carro?
 
Esse blog se declara favorável a que todos deixem seu carro em casa, ainda que seja só por um dia - tanto é que o dono deste Olho Clínico, antenado com as prioridades públicas, mora perto de metrô justamente porque sabe que os jericos que influenciam nossas leis querem que você deixe o carro em casa ainda que seja vendedor ou taxista.
 
Esse blog também acredita que deveriam reservar uma faixa para ciclistas na Radial Leste e na 23 de Maio, em São Paulo; e nas linhas Vermelha e Amarela, no Rio de Janeiro, com as devidas paradas com vestiários em todo o circuito e banheiros, para que se tome banho e enfrente a catinga antes de entrar no serviço.
 
Este blog também é favorável a que se institua pedágio urbano nas grandes cidades, com todo o dinheiro revertido para novas linhas de Metrô ou para o conserto dos buracos que nos afligem; também acreditamos que deveriam derrubar o Minhocão e construir um grande boulevard embaixo destas áreas; também achamos, eu e meu anjo-da-guarda, que cada dono de casa em São Paulo deveria cumprir a lei de muito tempo e fazer um pequeno jardim para facilitar o escoamento de água antes das enchentes, e também acredita que tudo isso será feito, um dia.
 
Ah, esse blog também acredita em Mula-sem-cabeça, Coelhinho da Páscoa e Papai-Noel - e não, não somos parentes da Velhinha de Taubaté ... ^_^ ...

De olho no passado: Casados e Solteiros, leiam, please

Casados X Solteiros

Em todo lugar que vivemos (seja o trabalho, a escola, a rua e outras "associações" de que fazemos parte no nosso dia-a-dia) sempre surge uma oportunidade para se praticar aquele que é o esporte-paixão-nacional do Brasil, ou seja, o nosso amado futebolzinho de cada dia. E, quando se vai "jogar bola", sempre existem as combinações mais loucas possíveis, do tipo: "homens contra mulheres", "meninos contra ‘meninas’" (os do outro lado vestidos de mulher), "setor A contra setor B", "rua de baixo contra rua de cima" e - geralmente em empresas, com muitas pessoas de diferentes idades - o clássico dos clássicos das "peladas" de campo, que é simplesmente o conhecido, difamado e propagado "casados X solteiros".

Digo isso porque a escalação das equipes é a única que não obedece a critérios sociais, ou políticos, ou econômicos, ou mesmo no trato como a bola, mas a um simples critério pessoal: quem escolheu viver o lado sério da vida, comprometendo-se com as amarguras, dissabores, alegrias e tristezas de uma vida de casado está de um lado do campo, e quem ainda está na época das inconsequências e loucuras da vida de solteiro, ainda que esteja pensando em "tornar-se sério", está do lado dos solteiros - mas não se descartam mudanças de ambos os lados, as mais absurdas possíveis:

- Como, mas você se separou ?

- Casou durante as férias?

- Meu Deus, como estamos !...

Antes do jogo, convém dar uma olhada nos dois lados e ver a "escalação" das "seleções". Os solteiros, geralmente mais jovens, são "cheios de vida", geralmente estão sempre em forma física e quase todos - exceto os acompanhados de suas "futuras", óbvio - fazem gracinhas a qualquer mulher que passe na sua frente, como se a única coisa na sua vida fosse atacar e atacar, como um touro bravio. Sempre existe um "velhão" que optou pela "castidade de compromisso", e outros parecem sérios - afinal, as "futuras mulheres" podem aparecer, e aí ... já sabe, né ?

- Acabou, descarado, entendeu ? Acabou!

- Oba, ainda não perdemos esse !...

Já os casados - alguns deles mais novos, outros mais velhos - são um caso a parte. Perderam o respeito por seu corpo, e alguns ostentam barriguinhas, desaconselháveis para sua idade. Sempre tem um que se acha "muito feliz" - e parece realmente sê-lo - mas a maioria ainda carrega o peso das batalhas, e se não carrega, é porque vai carregar um dia - afinal de contas, quem mandou casar? Geralmente o jogo é um instante de alento em suas vidas, porque depois eles voltam à sua grande "vidinha" de sempre, e a rotina que escolheram - bem ou mal, é isso aí, certo ?

Mas comecemos o jogo, que o tempo é curto - e uma hora a mais no campo custa caro...

Bola de um lado, jogada do outro, o ludopédio sendo massacrado por um bando de pernas de pau, um golzinho aqui, outro ali, um lateral dos solteiros quase arrancando a perna de um casado (a propósito, era o chefe dele), um outro, casado, se arrastando em campo, o bando de solteiros atacando, a torcida de mulheres dos casados fazendo barulho (bem ingênuo, por sinal), até que, meia hora de quase sopapos, uma briga entre dois solteiros por causa da namorada de um deles (promtamente apartada pelo grupo) e boas defesas do goleiro dos casados (recém-casado, diga-se de passagem), o resultado final: 4 a 2 para os solteiros, com um gol lindo do atacante dos casados (aquele que dizia que "não jogava nem para o gasto"...).

Fim de jogo, cada um para um lado, alguns vão tomar uma cervejinha, outros vão embora p´ra casa. E o juiz (que preferiu não entrar nem de um lado ou do outro, por ser noivo), sentiu uma coisa estranha: os sentimentos que casados e solteiros tiveram durante o jogo eram totalmente diferentes daquilo que viviam na sua vida real. Parecia que os casados sentiam saudade daquele tempo em que nada lhes era negado, e tudo permitido. Alguns solteiros, por sua vez, pareciam mais felizes do que outros - talvez porque suas namoradas estivessem lá, a incentivá-los e dar-lhes o beijo final (mesmo que o cara nem tivesse tocado na bola). Para resumir, ele sentia como se os casados e os solteiros fossem duas partes de uma mesma vida, e como se um mesmo destino os unisse: solteiros tornam-se casados, que ficam solteiros, para casar de novo - ou então ficam casados, e continuam casados, até que o desastre os traz de volta aos solteiros (sim, porque viúvo, apesar de tudo, não é casado - já foi). Tudo era estado de espírito, e ele via bem aquelas coisas, sabe-se lá por quê.

Tentou pensar em mais alguma coisa, mas a "mulher" o chamou:

- "Morê", vem comer, que o churrasco ´tá bom!

- Churrasco ? ´Peraí, que já ´tô indo ...

Porque, apesar de tudo, cerveja e churrasco, depois da "bola", ainda é o melhor programa para um jogo de futebol - ainda que seja o jogo de dois estados de espírito, de dois estados da alma, de dois tempos da vida, e de dois tipos de homem que, no fundo, no fundo, são iguais - sejam eles casados, sejam eles solteiros.

Omar O. Sirep

22/06/2002

Descobertas

Descobertas
(por Fábio Peres)

 
- Foi bom pra você, não foi?
 
- Foi ... mas o que é que foi mesmo?
 
- Sei lá, só sei que é assim que ele falou.
 
- Mas foi bom, o quê?
 
- Eu não sei, não sou eu quem disse isso, foi ele quem disse pra ela ...
 
- É, mas o que é que ela disse?
 
- Nada.
 
- Nada?
 
- É, nada.
 
- Nada mesmo?
 
- É ... só chegou assim, do lado dele, foi estranho ...
 
- Estranho?
 
- É, estranho ... até porque ela ´tava gemendo um pouco antes.
 
- Gemendo? Me explica esse negócio direito ...
 
- Como assim?
 
- É ... não sei, não dá pra explicar ... eu não vi nada, ´tava fora do quarto ...
 
- Então você não viu?
 
- É, não vi ...
 
- E como é que vai saber se foi bom ou não?
 
- Eu não sei ...
 
- Ah, você não sabe nada, mesmo!
 
- Você é que não sabe!
 
- Você é que não!
 
- Eu é que vou te mostrar o que é que ele fez  ...
 
- Ah, não, não vai mostrar nada não hmmmmmmfffffffff....
 
- ...
 
- ...
 
- Foi bom pra você?
 
- Não sei, preciso conferir uma coisa.
 
- Que coihmmmmmmm ...
 

12/11/03, 10:31
 
 

24.9.05

Sabor de ti

O suor confunde os corpos,
e faz com que o pecado tenha o sabor
de uma maçã da qual a gente mesmo faz o gosto.
Este sabor,
azedo, mas doce,
como os fluidos que saem das maçãs envenenadas pela serpente;
e, sobretudo,
gostoso como percorrer teu corpo,
sentir o constante sabor de tua pele,
teu ritmo acelerado e todo o contexto
do restante de suas entradas,
suas saídas, seus gritos, seus gostos;
este sabor,
penetrante e profundo,
ele é que me compensa,
pelo sofrimento,
dissabores, correrias, medos,
pelas noites mal-dormidas e dias mal-passados,
pela vida e pela falta dela -
por tudo, enfim.
O suor,
o sabor,
o colorido de uma vida -
ah, meu Deus;
esse é o sabor que compensa tudo,
o sabor,
minha doce sapoti ...
Sabor de ti.

FPS, 24/09/2005, 14:58

20.9.05

Samba do NedStat I

Tive um sonho doido, muito doido.
 
Sonhei que vinte noivas de cinta-liga tomavam banho junto comigo, mas sem tirar a calcinha. Uma delas, percebendo que eu não a olhava no olho, foi atrás de mim e me falou que na terra dela, nos Países Baixos, não se fazia isso, mas que nos Emirados Árabes se fazia sim, e em Porkópolis também.
 
Acordei quando minha esposa me chamou, esperando-me com uma vitamina de banana-prata.

Esse texto contém palavras retiradas das estatísticas deste blog;
graças à combinações como estas é que alguns de vocês chegaram aqui.

19.9.05

Uma reflexão sobre os bons conselhos




Não te aconselhes com aquele que te arma um laço.
Esconde tuas intenções àqueles que te têm inveja.
Todo conselheiro dá sua opinião,
mas há conselheiros que só têm em vista o próprio interesse.
Estejas prevenido quando tratar-se de um conselheiro;
informa-te primeiro quais são os seus interesses,
pois ele pensa em si mesmo antes de tudo.
Teme que ele plante uma estaca no solo e te diga:
Estás no bom caminho,
enquanto se põe defronte para ver o que te acontecerá.
Vai consultar
um homem sem religião sobre as coisas santas;
um injusto sobre a justiça;
uma mulher sobre sua rival;
um tímido sobre a guerra;
um mercador sobre o negócio;
um comprador sobre uma coisa para vender;
um invejoso sobre a gratidão;
um ímpio sobre a piedade;
um homem desonrado sobre a honestidade;
um lavrador sobre o seu trabalho;
um operário, contratado por um ano, sobre o término de seu contrato;
um criado preguiçoso sobre uma grande tarefa!
Não confies neles e em nenhum de seus conselhos.
Sê, porém, assíduo junto a um santo homem,
quando conheceres um que seja fiel ao temor de Deus,
cuja alma se irmana à tua,
e que compartilhará da tua dor quando titubeares nas trevas.

Eclesiástico 37, 7-16
(extraído da Bíblia Católica, no www.catolicanet.com.br)

17.9.05

Retornando de viagem

E com um texto antigo, mas de grande valor:

Reminiscências das Gerais
 
Fazia muito tempo que não vinha à casa, casa de recordações e sonhos, dos meus pais e minha, onde guardava as lembranças de doces momentos vividos que se romperam bruscamente quando fui para a grande cidade.
 
Tempos de doces e compotas, de queijos, vacas pastando, dias claros e noites escuras, ruído de grilos, cocoricós e muuus em sintonia perfeita com o mato, que crescia e verdejava, da represa e dos peixes, e das comidas gostosas e saudáveis da mamãe.
 
Lembrava-se dos pais acordando cedinho, "com as galinhas", para cuidar de tudo - do cafezinho puro, dos pães de queijo e das quitandas, e sentia-se feliz.
 
Um dia a vida a levou para novos ares, da grande cidade com seus sonhos e ilusões, e suas perspectivas de grandeza; que se diga que a labuta do campo é severa, e cobra seu preço de todos, no embrutecimento do corpo e da alma, e nas ilusões perdidas entre sonhos de pequenos luxos e de uma vida melhor, qual seja ela.
 
Mas na hora em que reviu a casa, se viu novamente criança - e, de novo, desabrochou a saudade e a vontade de sentir, ainda que fosse por pouco tempo, os gostos e sentidos dos seus tempos de menina-moça, criança, provando que, em definitivo, todos nós sentimos mesmo é saudade de nós mesmos, e de um tempo, que um dia existiu.

Dedicado especialmente à Elaine Cristina Carneiro da Silva,
que eu chamo de "minha doce e querida esposa".

FPS, 06/05/05, 16:27

14.9.05

Aviso aos navegantes

Estarei de viagem nos próximos dias - e, em breve, terei novos posts para mostrar; mas não estranhem uma edição extraordinária, diretamente de uma lan-house nas terras onde manam bastante leite e estórias pra contar.
 
Informou o Olho Clínico, em edição extraordinária (mais ordinária que extra) ...

12.9.05

De olho no referendo: porque voto NULO

Não sou o tipo de pessoa que votaria nulo em uma eleição: se é para exercer um dever cívico, que o seja de forma decente. E, antes que alguém venha com a balela dos comerciais da Justiça Eleitoral: sim, porque podemos abrir mão do direito mas votar é uma atitude que temos que fazer sob pena de perder salário, no caso do funcionalismo público, passaporte e novos documentos, sem falar nos transtornos para justificar o voto e outras anomalias do nosso sistema eleitoral brasileiro (das quais voltarei a escrever em outras oportunidades, senão esse texto perde completamente o rumo).
Mas o fato é que, pela primeira vez em 14 anos de experiências de voto democrático que esse cidadão já passou em nosso país - e que começaram justamente em uma experiência semelhante, a do plebiscito sobre sistema de governo em 1993 - eu penso seriamente em anular meu voto nesse referendo, se é que isso vai valer alguma coisa na formulação dessa lei.
Para explicar do que se trata: não está aparecendo muito, mas em outubro, provavelmente no último domingo do mês, os habitantes da Terra Brasilis habilitados a exercer o dever do voto serão chamados a escolher se querem ou não manter o comércio de armas e munição em nosso país. Simples e fácil: ao aparecer a pergunta na tela da urna eletrônica, digite 1 se você se entitula da "turma do bem" e deseja que nenhum cidadão tenha direito a porte de arma se não for segurança especializado ou policial; se você, no entanto, faz parte do grupo que acha que contra bandido o problema se resolve na bala mesmo não sabendo o que diferencia um calibre 38 de um 45, digite 2 e diga não ao Estatuto.
Pois bem, vamos aos argumentos.
Particularmente eu não acho que resolve-se o problema da violência simplesmente tirando as armas da frente da população - ao menos três quartos das armas no Brasil são ilegais, o que significa que o impacto será pouco ou nenhum se não houver boa vontade das pessoas em entregar suas armas; isso me parece um extremo do politicamente correto, que não faz meu estilo desde que os americanos começaram com cartilhas e processos a granel.
No entanto, não é difícil ver que os argumentos da Frente do Não são igualmente toscos e sem substância: armas não são "kit anti-estupro", nem o Brasil vai virar uma ditadura se não houver o direito ao porte (tanto é que passamos 20 anos sob regime militar e posse de armas, e nem por isso todos se armaram para o reestabelecimento da democracia); sem falar que é nojento estar do lado de gente como Bolsonaro e Fleury, o dos 111 do Carandiru.
Se de um lado eu só vejo o insosso politicamente correto e do outro a nojeira dos argumentos fáceis e mentirosos, voto nulo - ao menos vou em paz com minha consciência; mas se você deseja saber mais sobre esse assunto, visite os sites abaixo:
http://www.referendosim.com.br - site da Frente por um Brasil sem Armas.
http://www.votonao.com.br - site da Frente Parlamentar pela Legítima Defesa.

10.9.05

Na volta da padaria


 
- Onde é que cê tava, Adamastor?
 
- Ué, 'tava na rua.
 
- Fazendo o quê?
 
- Nada, oras, só fui lá na esquina comprar pão e tomar uma cervejinha ...
 
- Cervejinha, sei ... pensa que eu não vi?
 
- Não vi o quê?
 
- O jeito que cê olhava pra gostosa lá da frente?
 
- Qual frente?
 
- A da padaria, oras! Aquela, que tem o carro ...
 
- Ah, sei, o "pejô" ...
 
- É, aquela de shortinho curto ...
 
- É, agora que cê disse, ela num tava de shortinho não, tava de vestido e num tava tão curto assim ...
 
- Viu? Cê tava vendo, num tava?
 
- Eu? Quéisso, aquela mulher é casada - já viu o marido dela?
 
- É aquele cara, grandão, parecido com o galã da novela que tá lá na frente?
 
- É, o tremendo do armário ... ei, peraí, quando é que ocê viu ele?
 
- ...
 
- Tava de olho, né?
 
- Quéisso, 'morzinho - não era nada disso. É que ele sempre lava o carro na frente, e estava sem camisa; e era forte, cê precisava ver ...
 
- Mas é ciumento, ciumento que só ...
 
- Ué ... comé qui cê sabe?
 
- Ele foi lá no bar; eu tava tomando uma pinguinha por lá e a muié dele saiu, toda toda qui só; aí ele pegou e virou prum cara que tava de olho: "quié qui cê tá olhando?" e o outro falou: "nada, e olhar num tira pedaço não"; aí foi feio, quase rolou tapa, e foi por isso que vim mais cedo, comprei o pão rapidinho e vimbora pra cá ...
 
- Tá, tá bom então ...
 
Um tempo, dois, e então no três:
 
- MAS O MÉDICO NÃO DISSE QUE ERA PROCÊ NÃO TOMAR MAIS ESSA "PINGUINHA", ADAMASTOR, QUE TEU "FIGO" TÁ RUIM E TEU "ESTROMBO" TAMBÉM TÁ?
 
- ...

31/10/03, 11:09
 

6.9.05

De olho no passado: Centro, velharia eterna?

No blog do Ricardo Noblat (http://noblat.blig.ig.com.br ou http://noblat.ultimosegundo.com.br), entre tantas notícias severinas, informações sobre o estado claudicante do nosso governo e ataques de parte a parte entre simpatizantes do time petista e do time tucano, alguns pequenos comentários sobre a reforma iminente do aeroporto Santos Dumont me fazem pensar se realmente gostamos de nossa História e de nossa gente.
 
Seguem trechos dos dois textos, de Hideberto Aleluia e de Chico Bueno - os primeiros são sobre o Santos Dumont:
 
Quem vê os aeroportos de Congonhas, Recife, Salvador, Brasília, sabe que o Santos Dumont vai virar um caixote de concreto, a consumir energia elétrica e ar condicionado 24 e não se surpreenda, no verão com a ausência do ar, tão comum nos outros aeroportos do país.
 
Em nenhum deles a arquitetura contempla a luz do sol, a vista e os fatores climáticos tropicais. Em todos, a gaiola de concreto transmite ao passageiro a impressão de estar desembarcando num país frio, gélido.
 
Já no segundo texto se fala mais da sangria de outros monumentos cariocas:
 
'O Palácio Monroe, onde funcionou o Senado Federal, foi demolido em nome do progresso. Os técnicos do metro poderiam fazer um outro traçado, mas preferiram, com a conivência dos políticos, demolir uma obra de arte.

Outro crime foi à demolição do Mercado da Praça Quinze, com seus prédios construídos em ferro fundido, uma verdadeira jóia arquitetônica. Na Europa os mercados de alimentos são tratados com relíquias. São modernizados sem perder o charme arquitetônico. Aliás, no Rio, fizeram isso com o prédio do Amarelinho, na Cinelândia.

Outro dia, pretenderam implodir o Maracanã, ao invés de revitalizá-lo e modernizá-lo como fizeram agora os  alemães para a Copa do Mundo de 2006 e os espanhóis com os estádios do Real Madri e do Barcelona.

Não deixa de ser um assombro, realmente, que a História viva exposta nos centros das grandes cidades brasileiras seja, por assim dizer, abandonada em nome de um suposto progresso. No entanto, vale lembrar o seguinte: nem quando o governo exige eles são preservados como deveriam - e isso porque, infelizmente, não temos o gosto de preservar velharias, principalmente a classe média que compra duplex como se fosse loft, transformando um conceito (a adaptação de pontos comerciais para habitação) em um produto (uma nova maneira de vender o conjugado espaçoso, só que mais caro).

Para reformarmos os velhos Centros, deveríamos reformar nossa vida - mas quem precisa disso quando temos os shoppings à nossa disposição, substitutos das compras de rua que atiçavam nossa infância? Os nostálgicos estão cada vez mais sós ou é impressão de um recém-trintão esperançoso de dias melhores?

E que, diga se de passagem, gostaria de saber como ficaria São Paulo se não tivessem tirado o bonde ...


FPS, 06/09/2005, 15:59

(que nasceu na Maternidade São Paulo, às 10:35, exatos 30 anos atrás - mas isso é outra estória ...)

 
 

5.9.05

A lenda do mata-sem-vergonha


A lenda do mata-sem-vergonha

Da viela,
de onde não sai nada,
de repente,
um vulto sai.
É parrudo,
forte, botinudo,
um homem que vai.
Mas atrás
desse vulto forçudo
sai um cheiro também.
É enxofre,
beirando a estrume,
que não me cai bem.
E o gosto,
na boca, de sangue,
desliza, num ai.
É o vinho,
vinho do demônio,
que atiça, e atrai.
E o homem,
vulto tão forçado,
some no matão.
E na noite
o grito renasce:
morreu um varão.

"Em uma casa o pranto é total,
e em outra os perdidos riem de espanto;
mais uma vez ataca o mata-sem-vergonha,
aquele que vinga os perdidos e assalta os hipócritas,
rouba dos puritanos para dar aos mendigos,
ladrão sem direção, à procura da própria alma,
que o zebedeu roubou.
Cuidado, você pode ser a próxima vítima
do mata-sem-vergonha ..."

FPS, 05/09/05, 18:12

O tempo e o mundo


O tempo, esse bandido, é senhor das horas do meu, do seu, do nosso destino.
E aquela pracinha, no meio do nada, era a melhor testemunha do que eu estava falando: simples, calma, como sempre são as praças do interior do meu país, poucas vezes abalada por ruídos mais fortes que o das crianças brincando e o dos velhos jogando dominó todos os dias, vendo a vida passar lentamente, como num sussurro.
O tempo, ah, o tempo, senhor dos meus destinos e de todos nós; tempo esse que nos mata, à medida em que passa - matamos o tempo e e ele vai nos tirando as forças lentamente, não era isso que o maldito dizia com outras palavras há três séculos atrás?
E o tempo, passando, nos leva, para os sonhos distantes; sonhos das faculdades dos garotos, das vacas pastando, dos casamentos e festas em sítios, dos bate-pernas por todos os lados, das roças e dos touros que servem de alimento e de sustento:
- Vende ou não vende? Arre, que já vai tarde!
E o tempo, esse tempo que me leva para longe, para cidades distantes onde ele não pára; onde os sussurros se tornam vendavais, tormentas que nos assombram mas que são no fundo a soma dos tempos, e dos ventos, que nos assolam.
Sonhos ... esses sonhos que nos movem, nos consomem e tomam o lugar do passado - e que nos impedem de voltar, selando nosso destino e futuro; sonhos estes que nos levam para lugares distantes, sem nunca ter-nos separado de onde nascemos de fato, e do que somos, e sempre fomos, afinal.
E o tempo - ah, o tempo ... esse nós consumimos, lentamente.
Bem lentamente.

FPS, 05/09/2005, 17:45
(a um dia dos 30 anos, sentindo o tempo passar ...)