30.7.09

Uma pequena reflexão ...

A brevidade da vida

Nada é tão bom quanto a primeira vez em que se faz alguma coisa.

É engraçado, mas a verdade é que, com o tempo, tudo aquilo que nos acostumamos a fazer torna-se banal e triste, como as aves negras que cruzam os céus do Nordeste, à procura de pão.

No entanto, tudo aquilo que acontece de novo em nossas vidas é encarado como um prenúncio de coisas que poderão acontecer de melhor, e as novidades podem ser, no fundo, exatamente as mesmas coisas, só que com um toque pessoal a mais, um certo tempero, uma certa dose de aventura e leveza, um certo quê de diferença, uma certa ... novidade, digamos assim - e isso é só o começo.

Tomemos a escola, por exemplo. Quando iniciamos as aulas, vendo companheiros com quem não tinhamos o prazer de estar até pouco tempo atrás, aprendendo novas estórias que nos são passadas dia após dia, hora após hora, tornamo-nos pessoas mais maleáveis, e aquilo que deve ser nossa obrigação é encarado como um grande prazer, que é vivido intensamente ...

... até o momento em que, de tanto ouvir as mesmas coisas todo santo dia, e ver as responsabilidades pesando, nos tornamos pessoas chatas, cansadas e deprimidas, com vontade de jogar tudo p´ro alto e ir embora, e perder de vista o que tivemos antes ali.

São coisas da vida, fazer o quê.

No entanto, tudo passa, assim como tudo volta, dia após dia, em cada tempo que tivemos, em nós mesmos. São as vontades que temos de que tudo se renove, e que, a cada dia, mais e mais, possamos estar juntos, eu, você que me lê e todos nós, dia após dia, hora após hora, em cada momento, em nossos corações.

Porque tudo, meus amigos, resume-se no fato de que, um dia, não haverá novidades para nós - e que, nesse dia, todos teremos que encarar a última novidade, o último fato, o fim da vida ... ... e o começo de outra, não importa o que façamos, ou tentemos fazer, para encarar tudo isso.

E por isso esse texto é tão breve como as folhas que caem, ou as aves que voam, e por isso é que falamos tanto nesse grande assunto que é a brevidade da vida.

fps, 26/02/96, 10:35

25.7.09

Poesia

F. D. P.

 

Força de presença,

feito de pancada,

foi de pensamento,

falta de potência,

feito doido pouco,

feliz de paixão,

fruto de "pinóia",

fonte de pavor.

Falta dedo pelo,

faz-se dentre poucos,

forja-se de piolhos,

faz desse presságio,

filho de princípios,

feito da tristeza,

foi de prostituta

(falha do produto).

 

 

És filho, és dela.

Nada se há por fazer.

 

 

 

fps, 28/10/1996

24.7.09

Pincelada rápida: Sarney e o nosso reflexo no espelho

José Sarney é o inimigo perfeito para a mídia conservadora (vulgo PIG) e para quem garante seu ganha-pão: é o último dos grandes oligarcas nordestinos (sim, porque a partir daí só teremos dinastias sem rosto governando os Estados) e já se livrou de tantas encrencas por sua proximidade com o poder que atrairia com certeza o ódio da opinião publicada, aquela dos formadores de opinião que já não formam tanta opinião assim (se é que formaram).
 
No entanto, vale a pena perguntar: será que o patrimonialismo é exclusividade da presidência do Senado, ou estamos falando de uma situação enfrentada no dia-a-dia, quando, por exemplo, alguém pede o apoio do amigo de longa data para obter um emprego para o filho, ou sobrinho, ou namorado da neta (como essa última denúncia)? Será que é só no Senado que existe esse tipo de atitude, ou estamos diante de uma situação que existe desde que Pero Vaz de Caminha pediu ao imperador um favor para seu filho, em 1500?
 
A se pensar ...

20.7.09

Juliana, Xuxa, Samambaia: vale a pena mudar de imagem no tapa?

Tem muita coisa da qual gostaria de falar sobre o Senado brasileiro, mas um assunto me parece mais interessante agora (e com atraso, como sempre): o processo movido por Juliana Paes contra José Simão e a Folha por causa da brincadeira contra a castidade, e que pode ser explicado por um motivo bem simplista: a atriz está em um processo de depuração da imagem, querendo a todo custo se livrar da imagem de mulher-objeto para assumir uma carreira mais séria, da qual faz parte a mudança dos papéis envolvendo sensualidade para os deprimentes, tipo "mocinha de novela", que ela está fazendo hoje.
 
Tal estratégia não deveria ser novidade, já que a Xuxa, por exemplo, é especialista nesse tipo de mudança - e a estratégia, inclusive, envolve os processos que impedem que o passado negro venha à tona; ou seja, qualquer coisa que lembre a "vida passada" daquela que um dia foi recordista em vendas da Playboy deve ser combatida para a criação de uma nova vida; é, tipo assim, a pessoa que deixa de vender cerveja para promover tequila ou lingerie, por exemplo.
 
Nada contra, mudar de ares e de imagem na carreira é direito de uma pessoa e não estamos aqui para julgar isso; o mal dessa estratégia ocorre, no entanto, quando uma assessoria jurídica estúpida pensa em combater a liberdade de expressão de uma imprensa tendenciosa e, principalmente, orgulhosa de um poder que julga ter sobre a população em geral, o entitulado "quarto poder" que é motivo de orgulho e discussão pelas redações de jornais e revistas mundo afora. Quando esse poder é contestado o artista pode até vencer na Justiça, mas transforma-se em refém de uma estrutura que só aceita puxasacos (ou puxa-sacos) acompanhando seus passos o tempo todo - e isso pode até transformar carreiras, mas não traz respeito nem matérias realmente sinceras sobre a pessoa, muito menos na grande mídia (que, como toda grande entidade ou conjunto de entidades que se preza, é corporativista até a medula).
 
Em suma: calar a mídia por processo até é bom no curto prazo, mas e quando você precisar dela, será que a imprensa estará à mão?
 
...
 
Juliana, Xuxa ... o leitor desse blog deve estar se perguntando: onde entra a Mulher-Samambaia nessa história?
 
Entra com a franqueza de Danielle Souza, a que entrou na Fazenda da Record para, além do milhão pretendido, tentar mudar a imagem de mulher que só serve de objeto para embelezar o ambiente - ao ser confrontada por outra participante do reality show, que disse que ela não mudaria sua imagem se continuasse mostrando a b... daquele jeito, ela não teve reação a princípio (o que, aliás, seria natural).
 
Depois, porém, caiu no choro sozinha e saiu-se com esse questionamento, entre um soluço e outro: "Vocês acham que eu entrei aqui por quê, pela minha inteligência?"
 
Pode-se questionar as atitudes da moça, sua beleza ou mesmo o que faz ou deixa de fazer para ganhar a vida - mas ela ao menos foi sincera, qualidade que falta, e muito, a quem deseja calar as opiniões do mundo ou esconder seu passado na base do tapa; bom para se pensar até que ponto se pode jogar o passado no lixo ou esquecer que ele existe.

17.7.09

Poesia

Sexta
 
Noite, de um dia de outono,
comida farta na mesa,
depois do jantar, sobremesa;
 
Descanso, logo vem o sono,
e o acordar tarde, certeza
de que não se irá à empresa.
 
Sejam bemvindos à sexta-feira,
de validos e vencidos,
do início da gandaia,
da preparação para o sábado,
de trabalho para alguns,
de expectativa para outros,
dia sagrado dos judeus,
dos vendedores a espera,
e, para muitos, descanso,
expectativa de sono,
justo, gostoso e tranquilo,
do povo que chega às onze
enquanto outros vão às baladas
e não voltarão tão cedo.
 
(isso se voltarem)
 
Mas o fato é que ... uaaah ... é sexta-feira.
 
 Noite, de um dia de outono,
a comida é farta na mesa;
depois do jantar, sobremesa.
 
Descanso, logo vem o sono,
e uma certeza:
 
Amanhã, não se irá à empresa.

fps, 17/07/2009, 18:26
 
 
 
 

15.7.09

Dia Internacional do Homem: eu dispenso !!!

15 de julho, hoje, é o Dia Internacional do Homem - e quando digo homem quero dizer os seres do sexo masculino que povoam este planeta, já que homem também é sinônimo de "humanidade" ou "conjunto de pessoas" e essas como um todo também deve ter seu dia (talvez o dos Direitos Humanos, quem sabe).
 
Mas tudo bem: hoje é o Dia em que você, homem que lê esse blog, deveria comemorar o fato de ter um cromossomo Y e as características que tornam ser um homem especial ... para começar a lamentar logo em seguida, pois:
  • graças ao feminismo da década de 60 e seus sucessores ser do sexo masculino, principalmente entre os 30 e 40 anos, está cada vez mais sendo considerado coisa retrógrada;
  • justamente em consequência dessa condição o "homem feminino" vem tomando espaço, e tentar compreender o jeito de ser mulher virou moda, ao menos entre os descolados;
  • por causa dos dois fatos acima, ou até em conjunto, todos nos tornamos trogloditas até prova em contrário - e, finalmente: mesmo que você tente se tornar o homem perfeito ainda vai ter mulher que diz que falta homem de verdade por aí !!!
É ou não é motivo para dispensar essa data, em que nem nos dão um singelo presentinho? (snif!)

12.7.09

Prosa

 Carla

 

            Carla era pudica. Tímida, a princípio, me entreolhava com aqueles olhos cor de caju de um brilho tão estranho que não podia imaginar. Depois, mais solta, falava-me da vida, dos amores, daqueles que deixara escapar por entre seus dedos, tão doces como os de uma menina, e tão fortes como só uma mulher daquelas poderia ter.

 

            Ah, Carla, como me lembro dos dias, das horas queridas, dos tempos tranquilos em que tua doce voz me tornava mais calmo, tranquilo e sereno, ajudando meu corpo a desejar-te mais, me dando um motivo para então querer-te, sonhar-te, sofrer-te, amar-te, sorrir-te, sentir-te, bem junto, juntinho de mim.

 

            Oh, Carla, quão doces eram os instantes de amor, em que teu jeito simples, de moça pudica, se revestia em tudo - a forma menina de despir-se ao vento, o jeito acanhado de encarar o que fazia, a tal timidez de uma moça que sonha, a grande vontade de amar-se e querer-se, querendo um homem bem junto de si, mas abominando aquilo que via, e o que sentia, e o que fazia, e o que amava, e o que sonhava, já que ela queria - e, realmente, queria, apesar de ser pura demais para ver isso.

 

            Ah, Carla, minha doce Carla ...

 

            Faz algum tempo a revi. E ela parecia distante. Tinha casado, a garota, fazia dois anos. Tornara-se, mais do que nunca, mulher. Amadurecera, aprendendo com seus erros, e perdera o olhar ingênuo que conheci, substituido então por um olhar bem mais forte, mais bravo, sereno - mas com o mesmo brilho de antes, singelo e autêntico, como se o efeito do sofrimento humano tivesse tornado aquele olhar mais forte, sublime ... e capaz.

 

            Aquela não era a mesma Carla que tinha na memória. Mas, ainda assim, não a esqueci, pois, apesar de tudo aquilo que eu via, e sentia daquela menina que os anos e as dores transformaram em mulher feita, e dura consigo, a emoção de encontrá-la ainda era a mesma, e no fundo, no fundo eu sabia que, mesmo com tudo o que lhe acontecera, ela ainda era a doce garota que um dia eu vi, e quis como amiga, e como mulher, para sempre e sempre, até o fim dos meus dias - e esses sentimentos, eu também sabia, nem mesmo a dureza da vida que eu já vivi tiraria de mim.

 

 

fps, 24/06/1996, 14:45

11.7.09

Para descontrair um pouco

Regras do futebol de rua
1. A BOLA
A bola pode ser qualquer coisa remotamente esférica. Até uma bola de futebol serve. No desespero, usa-se qualquer coisa que role, como uma pedra, uma lata vazia ou a merendeira do irmão menor.

2. O GOL
O gol pode ser feito com o que estiver à mão: tijolos, paralelepípedos, camisas emboladas, chinelos, os livros da escola e até o seu irmão menor.

3. O CAMPO
O campo pode ser só até o fio da calçada, calçada e rua, rua e a calçada do outro lado e, nos clássicos, o quarteirão inteiro.

4. DURAÇÃO DO JOGO
O jogo normalmente vira 5 e termina 10, pode durar até a mãe do dono da bola chamar ou escurecer. Nos jogos noturnos, até alguém da vizinhança ameaçar chamar a polícia.

5. FORMAÇÃO DOS TIMES
Varia de 3 a 70 jogadores de cada lado. Ruim vai para o gol. Perneta joga na ponta, esquerda ou a direita, dependendo da perna que faltar. De óculos é meia-armador, para evitar os choques. Gordo é beque.

6. O JUIZ
Não tem juiz.

7. AS INTERRUPÇÕES
No futebol de rua, a partida só pode ser paralisada em 3 eventualidades:

a) Se a bola entrar por uma janela. Neste caso os jogadores devem esperar 10 minutos pela devolução voluntária da bola. Se isso não ocorrer, os jogadores devem designar voluntários para bater na porta da casa e solicitar a devolução, primeiro com bons modos e depois com ameaças de depredação.
b) Quando passar na rua qualquer garota gostosa.
c) Quando passarem veículos pesados. De ônibus para cima. Bicicletas e Fusquinhas podem ser chutados junto com a bola e, se entrar, é Gol.

8. AS SUBSTITUIÇÕES
São permitidas substituições no caso de um jogador ser carregado para casa pela orelha para fazer lição ou em caso de atropelamento.

9. AS PENALIDADES
A única falta prevista nas regras do futebol de rua é atirar o adversário dentro do bueiro.

10. A JUSTIÇA ESPORTIVA
Os casos de litígio serão resolvidos na porrada.
 
(por email)

Poesia

Vale a pena? Sim ...
 
Se não fosse
pra valer a pena
porque estaria eu aqui?
 
Vale a pena? Sim ...
 
Se não fosse
pra ser diferente
que faria eu de fato?
 
Vale a pena? Sim ...
 
Se tudo
de nada valesse,
e nada
fosse diferente,
o que é que
seria do mundo?
 
Vale a pena? Sim ...
 
Se só fossem
vãos os esforços
e nada desse certo
se fosse
fora do "script",
o que valeria?
 
Vale a pena? Sim ...
 
Vale,
vale a pena,
vale a pena amar,
sonhar,
vale a pena sorrir,
cantar,
vale a pena chorar,
tirar fotos,
mirar
no horizonte,
viver,
amar,
sofrer,
suar,
TENTAR !!!!! ...
 
Vale a pena?
 
Claro,
que vale a pena, sim !!! ...

fps, 20/11/2003, 15:47

8.7.09

Ditabrandas e ditamoles

Já cheguei a postar no Olho Clínico, meu outro blog, mas com muito atraso falo da "ditabranda", forma pela qual a Folha de São Paulo se referiu ao regime militar de 64; seria desnecessário que escrevêssemos mais sobre o assunto, já que muito se escreveu sobre ele, mas como nunca é tarde para defendermos o óbvio e fatos como o pseudo-golpe em Honduras (que não deixa de ser um golpe, ainda que não haja "impeachment" naquele país), não deixa de ser interessante escrever novamente sobre esses fatos negros da História da América.

Aliás, não é de todo absurdo que ainda existam muitos que pensam na ditadura como uma coisa boa, afinal de contas o fato é que:
  • toda ditadura é branda para os que concordam com as atitudes do ditador;
  • toda ditadura é branda para os que se beneficiam dela;
  • toda ditadura é branda para os puxa-sacos, de quaisquer espécie;
  • toda ditadura é branda se não se tem uma mentalidade contestadora;
  • toda ditadura é branda quando não se viveu aquele período histórico de fato, ou quando a pessoa em questão não conviveu ou perdeu parentes pela liberdade (é o argumento dos combatentes dos direitos humanos, só que ao contrário).
Entretanto, vale lembrar o seguinte: toda ditadura é ditadura, sanguinária, violenta e patética, e a nossa só não foi sentida como ditadura porque os militares a disfarçaram muito, porque o Brasil é muito grande e porque o brasileiro é, acima de tudo, um pragmático - e pragmáticos em geral usam a teoria do Quico para resolver seus problemas mais complicados.

A teoria do Quico? Ora, é simples: "qui co tenho a ver com isso" ...

9 de julho

Guerra pela democracia ou separatismo? Luta de oligarquias ou defesa de um ideal?
Difícil dizer, mas nunca passou pela cabeça de muitos brasileiros porque São Paulo não tem uma "Avenida Getúlio Vargas", assim como a maioria das capitais, nem entende porque tanta coisa nessa enorme cidade se chama "9 de Julho", ou porque a principal via de acesso à Zona Sul se chama "23 de Maio", ou porque há uma enorme pedra no Parque do Ibirapuera com os dizeres MMDC?
O assunto é longo, mas vale a pena discutir e lembrar, para não esquecer, do último grande movimento armado no Brasil, a guerra civil que marcou o fim da República Velha - e que começou num 9 de julho, de 1932, o da famosa Revolução Constitucionalista, e terminou em 2 de outubro do mesmo ano, com um Estado de joelhos e um país cada vez mais unificado sob as sombras do regime getulista, que se consolidou de fato com a Constituição de 37 e o início do Estado Novo getulista.

No final das contas, até que as coisas não terminaram tão mal: o Mato Grosso do Sul enfim apareceu para o Brasil (foram os únicos que apoiaram os paulistas de fato) e a Constituição de 34 foi a base de muitas leis que se seguiram, mesmo não tendo sido promulgada; mas o mais engraçado é ver que, depois de tanto tempo, tantos foram os imigrantes nessa terra da garoa que ninguém sequer consegue dizer porque esse feriado existe.

O que, no final, não deixa de ser uma vitória do Brasil como um todo; bom feriado, a todos que aqui nos visitam.



A propósito: para saber o que foi o dia 23 de maio, clique no título dessa matéria; e deixe a sua opinião aí embaixo, o dono desse pequeno espaço agradece a preferência ...

4.7.09

Pequenos conselhos ...


Vale a pena lembrar alguns desses conselhos para a vida.
Aliás, tem muitos outros ainda, alguém sabe quais são?