30.3.10

Porque ainda vale a pena assistir ao BBB

O autor desse blog se prometeu não comentar ou ler ou me interessar por Big Brother Brasil desde o ano passado, e por isso não teve muitos detallhes sobre a briga entre os lados A e B e a vitória do casal Maxine contra a Ana Carolina Madeira no BBB9.

Motivos?

Boninho e a condução desastrosa da 5ª edição, a que resultou na vitória de Jean Wyllis e no último caso escancarado de vazamento de informações para dentro da casa; as edições pares, que vem sendo fracas em comparação com as ímpares; e a vida, enfim, que exigia desse que vos escreve um pouco menos de cuidado com coisas bizarras e que achasse coisa melhor para fazer do que se ocupar com, digamos, o nada.

Nada encarnado na briga de vários participantes pelo milhão e 15 minutos de fama.

O que mudou então, para que o BBB voltasse à minha vida?

Duas palavras explicam tudo: Isabella Nardoni.

O caso Isabella mostrou o quanto a realidade pode ser bizarra, em todos os aspectos: tropas alucinadas de populares na frente do fórum, esperando pelo pai e pela madrasta da coitada, exigindo justiça contra os assassinos do “anjinho”, idolatrando o promotor justiceiro e apedrejando o advogado de defesa, contratado para uma redução de danos (que pode até dar certo, considerando-se a loucura na qual esse caso se tornou).

Do outro lado, uma internet absolutamente maluca, com gente querendo a morte de Alexandre Nardoni e Ana Carolina Jatobá na fogueira das inquisições e uma surpreendente quantidade de pessoas questionando a acusação.

Estas últimas, inclusive, disparavam contra tudo: a perícia, que não é nenhum CSI mas achou um caminho que permitiu esclarecer o crime; a acusação, que esquentava as turbas enfurecidas pela morte em família; e até mesmo o Tribunal do Juri, recurso há séculos utilizado justamente para dar ao clamor popular uma satisfação contra crimes como esse.

Ou seja, uma tremenda zona.

Em nenhum momento, no entanto, as pessoas que discutiram a esmo pararam para pensar num detalhe: alguns minutos antes da morte de Isabella, quando chegavam ao supermercado para comprar sei lá o quê, pai, madrasta, filhos e enteada, pareciam uma família normal, cuidando de coisas comuns e voltando de um evento em família.

Não só pareciam – eram uma família normal, que só se tornou em um bando de monstros porque uma tragédia, de proporções inimagináveis, aconteceu pouco tempo depois.

E que, surpreendentemente, poderia acontecer com qualquer um que perdesse a cabeça, seja ele um homem, ou uma mulher.

Ou ainda, uma criança.

O BBB pode ser uma verdadeira porcaria, um jogo no qual milhões torcem e retorcem a visão dos fatos e discutem um monte de besteiras e sua relação com a realidade.

Mas, ainda assim, é um jogo.

E, como um jogo, não é real.

E por isso mesmo é bem melhor do que qualquer crime bizarro que aparece na TV.

P. S.: No jogo das diversidades do BBB10, Dourado foi o único que soube agir e se comportar como uma pessoa comum – e por isso venceu, com todos os méritos.

P. S. II: E, em tempo: com mais votos que Serra, Dilma, Lula e Marina terão em outubro, pode?

25.3.10

Para pensar (ou discutir, sei lá)

“Quem nunca pirateou que atire o primeiro disco… que eu atiro uma cópia de volta!”
Frase lida num fórum de discussão sobre pirataria e P2P

24.3.10

Confissões de um menor de rua

menorderua

 

Eu não gosto de esperar,

pois dá medo.

Nessas ruas falta vida,

sentimento.

Eu não quero mais parar,

dá receio.

Eu não tenho nada mais

que um tormento.

Eu não posso ver o mundo,

pois não sinto.

Se eu digo: ´Tô feliz,

eu só minto.

Não entra comigo na rua,

é “mancada”.

Já me viram cá contigo,

na “quebrada”.

Fica aqui, moço, comigo,

fica agora.

Pois eles vem me pegar,

sem demora.

Eu não gosto de esperar,

nada tenho.

O meu mundo é uma droga,

falta empenho.

Eu não tenho muito, moço,

nessa estrada.

Para mim, eu sou só hoje

quase nada.

Eu só quero uma coisa,

seu “dotô”;

Morrer muito ligeirinho,

sem a dor.

Dor de morrer com bala

na cabeça.

De viver tendo só

uma sentença.

Me dá um trocado, moço,

por favor.

P´ra eu não morrer de fome,

meu senhor.

P´ra eu não morrer de sede,

sem valor.

P´ra eu não morrer de frio,

sem calor.

P´ra eu não morrer na guerra,

sem amor.

 

Moço, dá um trocado pr´eu comer ...

 

fps, 27/09/96

23.3.10

Especialmente para quem vai chegar …

… uma homenagem muito especial, de quem está distante, mas sempre perto.


bebe1

Torcer

Mesmo antes de nascer já tinha alguém torcendo por você
Tinha gente que torcia para você ser menino.
Outros torciam para você ser menina.
Torciam para você puxar a beleza da mãe, o bom humor do pai.
Estavam torcendo para você nascer perfeito.

Daí continuaram torcendo...
Torceram pelo seu primeiro sorriso,
pela primeira palavra, pelo primeiro passo.
O seu primeiro dia de escola
foi a maior torcida.
E de tanto torcerem por você,
você aprendeu a torcer
E o primeiro gol, então?

Começou a torcer para ganhar muitos presentes
e flagrar Papai Noel.
Torcia o nariz para o quiabo e a escarola.
Mas torcia por hambúrguer e refrigerante.
Começou a torcer para um time.
Provavelmente, nesse dia, você descobriu
que tem gente que torce diferente de você.

Seus pais torciam para você comer de boca fechada,
tomar banho, escovar os dentes, estudar inglês e piano.
Eles só estavam torcendo para você ser uma pessoa bacana.
Seus amigos torciam para você usar brinco, cabular aula,
falar palavrão.
Eles também estavam torcendo para você ser bacana.

Nessas horas, você só torcia para não ter nascido.
E por não saber pelo que você torcia, torcia torcido.
Torceu para seus irmãos se ferrarem, torceu para o mundo explodir.

E quando os hormônios começaram a torcer,
torceu pelo primeiro beijo, pelo primeiro amasso.
Depois começou a torcer pela sua liberdade.
Torcia para viajar com a turma, ficar até tarde na rua.

Sua mãe só torcia para você chegar vivo em casa.
Passou a torcer o nariz para as roupas de sua irmã,
para as idéias dos professores
e para qualquer opinião dos seus pais.

Todo mundo queria era torcer o seu pescoço.
Foi quando até você começou a torcer pelo seu futuro.
Torceu para ser médico, músico, advogado.
Na dúvida, torceu para ser físico nuclear ou jogador de futebol.

Seus pais torciam para passar logo essa fase.
No dia do vestibular, uma grande torcida se formou.
Pais, avôs, vizinhos, namoradas
e todos os santos torceram por você.

Na faculdade, então, era torcida pra todo lado.
Para a direita, esquerda,contra a corrupção,
a fome na Albânia e o preço da coxinha na cantina.
E, de torcida em torcida, um dia teve um torcicolo
de tanto olhar para ela.
Primeiro, torceu para ela não ter outro.
Torceu para ela não te achar muito baixo, muito alto,
muito gordo, muito magro.

Descobriu que ela torcia igual a você.
E de repente vocês estavam torcendo
para não acordar desse sonho.
Torceram para ganhar a geladeira, o microondas
e a grana para a viagem da lua-de-mel.

E dai pra frente você entendeu que a vida é uma grande torcida.
Porque, mesmo antes do seu filho nascer,
já tinha muita gente torcendo por ele.
Mesmo com toda essa torcida, pode ser que você ainda
não tenha conquistado algumas coisas.

Mais muita gente ainda torce por você!


Carlos Drummond de Andrade


22.3.10

4 anos se passaram e …

Em 2006, esse blogueiro publicaria neste blog o seguinte sobre José Serra, então candidato a candidato (e que “perdeu” para o Alckmin a indicação):

Sendo mais direto, quem será o vencedor da eleição de 2006: 
- Serra bonzinho, atrelado à imagem do ''low profile'' Geraldo Alckmin que está fazendo de tudo para não aparecer mais que o necessário na Prefeitura de São Paulo (a não ser realizando sonhos da classe média, como abrir a Paulista em final de Brasileirão ou mandar o Pearl Jam para a cama mais cedo nos shows do Pacaembu),
- ou o Serra malvadão que estraçalhou Roseana Sarney, Ciro e espalhou a onda do caos e do medo em 2002, dormindo e acordando com o pensamento de ser Presidente da República sendo oposição ao próprio governo do qual fazia parte?

Pois bem, 4 anos se passaram – Lula deixou de ser o pato manco do final do primeiro mandato para se tornar o mito indestrutível que pode levar Dilma à vitória só por dizer “ela sou eu lá”, Alckmin destruiu-se politicamente e pode protagonizar um milagre político justificado somente por São Paulo ser um feudo do tucanato, tendo uma segunda chance quando outros não teriam nada.

Só José Serra não mudou nada.


Serra continua o mesmo de 2006 e de 2002, não dizendo a que veio ou que banda toca; tem medo de se candidatar à Presidência antes de seguir as datas marcadas, mas só sinaliza o que quer fazer quando apertado pela banda tucana; e, principalmente, age como se quisesse ser governador quando na verdade desejava ardentemente ser candidato e estar na rua.

Uma pessoa que não é governador, nem candidato – só, talvez, tuiteiro; esquece-se, porém, de que não se governa um Estado olhando só para a tela de um micro, como Lula, aliás, provou.


E refaço a pergunta: quem será Serra como presidente? 

O Ministro do Desenvolvimento, que brigava com todo mundo no governo FHC a favor do progresso?

O Ministro da Saúde, campeão dos genéricos e das frases de efeito, em 2002?


Ou o prefeito e governador, mais conhecido por sua fixação na Presidência e pelas três horas diárias que passa lendo jornais e anotando suas críticas do que pelos (quase nulos) êxitos de seu governo?


E que, aliás, é mais conhecido pelo fracasso do seu sucessor na cidade de São Paulo?




Em suma: quem serás como presidente, José Chirico Serra?

20.3.10

Curiosidade sobre o Big Brother

Falamos de BBB no passado aqui, então segue uma curiosidade rápida:
 
O Big Brother como conhecemos foi inspirado no famoso livro "1984", de George Orwell, onde o Grande Irmão vigiava a tudo e todos para impor um comportamento único à sociedade; segundo o conceito, "brother" não é o participante, mas sim o cidadão que vê e decide entre os participantes quem fica ou quem sai.

Mas como brasileiro tem mania de avacalhar tudo o que toca, daí inventaram essa de que os participantes são os "brotheres" (argh!) e "sisteres" (urgh!) do jogo - sem falar nas frescuras de big gods e big sei-lá-o-quê inventados por Boninho e cia. ltda.

Coisas de Brasil ...

19.3.10

Prosa: A família na Idade do Vil Metal

Fala-se muito, nos dias de hoje, que o dinheiro está tomando conta das relações no mundo.

Cada vez mais percebe-se que valores morais e tradicionais estão perdendo forças para situações sociais mais impessoais, em que o que importa é manter uma certa “distância” em termos de conhecimento de vida e uma aproximação de valores ditados por uma sociedade consumista e altamente centralizada nos valores monetários.

Embora muitos digam que o dinheiro sempre foi um bem importante, na base do “dinheiro não traz felicidade - manda comprar”, nem sempre as coisas foram assim.

No início, o homem mantinha relações familiares muito fortes, totalmente subordinado a uma ordem patriarcal excessivamente forte, puritana e hipócrita, que mantinha homens em posição de destaque, subordinados hierarquicamente pela proximidade do mais forte - o “chefe da casa”, que mandava e desmandava dentro das quatro paredes da sagrada instituição conhecida como seu lar.

Mulheres e crianças eram excluidas dos processos de decisão, e para os mais jovens restava a oportunidade de criar novas famílias da época, onde o homem mandava e a mulher usava de artifícios para “convencê-lo” de certos argumentos a seu favor.

Embora muitos achem que essa família era extremamente ditatorial, o fato é que existia uma certa “distribuição de poder”, com o marido tomando as decisões, a mulher influenciando e os filhos seguindo-as, usando geralmente de sua influência filial junto à própria mãe (o filho influencia a mãe, que influencia o pai), tornando essa sociedade um tanto quanto justa.

Hoje, no entanto, a distribuição de forças de uma família é praticamente igual para todos os lados.

Mulheres que trabalham querem reconhecimento de seus papéis na sociedade, desejando independência sem quebra de sua feminilidade.

Os filhos procuram trabalhar, para ter um respaldo junto a seus pais, e também certa dose de poder na queda-de-braço que se tornou a família atual.

Os homens, por sua vez, se tornam mais “presidentes” de casa do que “chefes”, assumindo a responsabilidade de manter o equilíbrio do conjunto e tomando para si responsabilidades que a sociedade ainda exige deles, como a de auxiliar os mais velhos e tomar a frente dos negócios - embora nem isso mais seja proibido hoje às mulheres ...

Voltando ao assunto, embora muitos achem que a família esteja fadada a um fracasso, e seja instituição morta, existe um grande consenso de que essa organização ainda sobreviverá, por muito tempo.

Muitas mulheres, se não querem um marido do lado, querem filhos para se realizar como mães.

Muitas coisas na sociedade ainda são exigidas para os homens, e a grande maioria da população ainda tem uma mentalidade patriarcal, embora seja impossível pensar nisso agora.

Tudo isso é possível porque, quando vemos mulheres querendo manter sua feminilidade sem perder a independência, e querendo ter uma família - apesar de tudo - e homens assumindo responsabilidades em casa sem perder a noção de que devem assumir responsabilidades reais junto com aquilo que a sociedade exige, estamos certos de que a família ficará sempre sendo uma instituição importante, e vital para a continuidade da sociedade, não importe quanto o vil metal e o pensamento de hoje tentem mudá-la.

Ajustes existem, e eles serão feitos, mas a família sobreviverá, com certeza.

fps, 22/01/96

P. S.: O autor desses textos só tem a agradecer a quem tem vindo ao trashetc semanalmente procurando por informação, cultura trash, opinião e tudo o mais que poderia sair da cabeça de um pensador que apenas vaga por aí, escrevendo seus textos a torto e a direito esperando ter agradado a quem o lê (ou, pelo menos, plantado polêmicas no coração daqueles que passam por aqui).

Obrigado, muitíssimo obrigado, por ter-se permitido dar um tempo para ficar por aqui.

14.3.10

Oração nº 7

Senhor,

dai-me forças

para poder me amparar

e querer segurar

esse choro incontido

que tenho dentro de mim.

Senhor,

dai-me a sã consciência

de poder refletir

e de poder saber

o que faço, Senhor,

nessa vida.

Senhor,

dai-me a força suprema

de poder resistir

às humilhações da vida.

Senhor,

dai-me força, coragem,

dai-me forças, Senhor,

para poder orar,

para poder viver,

para poder sentir,

para poder crescer.

Só tu, Senhor,

tens sabido do meu sofrimento,

da minha desilusão,

do meu grave tormento,

dessa grande tristeza

que abala essa vida

no meu coração.

Só tu, Senhor,

tens me dado a verdadeira paz

para lutar por mim mesmo

e chegar onde cheguei.

Peço-te, ó Deus,

que estejas do meu lado,

que não me desampares nunca,

que estejas junto comigo,

que me ajudes a superar

essa dor que me destrói.

Peço-te a paz que almejo

em todos os tempos da minha vida.

Peço-te o amor,

peço-te forças,

presença, e luta,

e a sabedoria, ó Pai,

pois não sou digno de tudo o que me faz.

Mas, ainda assim, necessito de ti, pela graça de teu filho Jesus,

Amem

12.3.10

Cotas, Cuba e chateação

Cuba, sempre livre; cotas, sempre injustas.

Quando vemos ou lemos coisas como o texto de Demetrio Magnoli na Folha, apoiando a estratégia absurda anti-cotas promovida pelo DEM, ou a discussão absurda gerada pelo apoio ou não aos presos políticos em Cuba, dá vontade de descer um pouco e parar para consertar o casco duro da esquerda militante, já bem ferido por denúncias diversas e que ainda insiste em manter-se forte, apesar da pancadaria.

Comecemos pelas cotas e pela matéria do Magnoli, um primor de horrores só pelo fato de justificar o injustificável, a escravidão realizada pelos brancos, e com o impensável, dizer que negros escravizaram negros e que por isso não haveria culpa no processo – essa desculpa é tão esfarrapada que nem merece crédito, já que a escravidão por guerra era bem diferente da “coisificação” do negro existente na América colonial (e que, inclusive, era justificada do ponto de vista cristão da época).

Uma coleção de asneiras sem tamanho – mas de asneiras que dão resultado.

Isso porque o leitor dos jornalecos e revistas da mídia conservadora julga extremamente desagradável a questão de facilitar o acesso à benefícios que ele ou seus pais "tiveram que ralar duro" para conseguir, e simplesmente não aceita que outros “tenham de mão beijada” o que veio com sacrifício para ele e sua família.

O remediado (ou classe média), assim, se torna o "grande aliado” da “mídia golpista”, na medida em que ela fala justamente o que ele pensa, e reflete o pensamento de quem não quer pensar no outro lado, nem raciocinar ou pensar a respeito do que lê.

Motivo maior para dizer que não existe mídia golpista ou PIG, mas sim um grupo de eleitores conservadores que garantem o sustento de seus (e)leitores.

Argumentos semelhantes podem ser vistos no caso dos presos cubanos, em que Lula, fez novamente o jogo de cena que agrada em cheio ao petismo e à esquerda militante e falou mais uma daquelas frases que, retiradas de seu contexto original, são prato cheio para os amantes do conservadorismo e da retórica barata de “direita”.

Lula não acredita em greve de fome, sob qualquer pretexto, oras, e daí?

Lula, como chefe de Estado de um país, não pode meter o bedelho em assuntos internos de um país, mesmo que este seja uma ditadura cada vez mais sem sentido existencial como Cuba – e que poderia ser muito mais do que é não fosse o lobby dos cubanoamericanos de Miami, que mais atrapalha do que ajuda essa questão.

Pode-se condenar o presidente pelo gesto de ir a uma ditadura, até mesmo de ir a uma ditadura no momento em que presos políticos se tornam pequenos mártires – mas jamais criticar a figura do presidente por optar pelo conveniente, ao invés do certo.

Coisa que, aliás, os EUA sempre fazem com a China (apesar de darem uma bola dentro de vez em quando).

P. S.: Para os que citaram Honduras como contradição da política brasileira, lembrem-se: gato escaldado tem muito, mas muito medo mesmo, de água fria.

P. S. II: O NPTO tem uma postura bem diferente nesse caso, que vale a pena ser lida clicando aqui; e na qual está a melhor definição sobre Cuba em relação à esquerda brasleira: “Israel do PT”.

P. S. III: Glauco foi a maior chateação do dia – e a prova de que os anos 80 ficam cada vez mais longe; acompanhe as homenagens a ele clicando nesse link aqui.

11.3.10

Prosa

Terceira Carta

“São Paulo, 23 de setembro de 1.995

Amigo, lhe escrevi porque hoje não consegui dormir, e agora vou lhe dizer por que.

Às vezes, não consigo me entender comigo mesmo.

Tudo parece sem sentido, forma, razão ou conteúdo.

Não tenho vida, não sinto nada, não sei dizer porque isso acontece.

Parece que tudo ao meu redor perde-se na razão complicada dos dias de hoje, no turbilhão de sentimentos que caracteriza meu ser interior.

Como resolver isso?

Não sei, meu caro, não sei.

Tudo o que sei é que meu interior sofre, sabendo que alguém pode estar tão longe, apesar de senti-lo tão perto.

A única coisa que sei é que esta é a vida que escolhi, amado, e esses sentimentos estão longe de passar, apesar de tudo o que já aconteceu comigo.

Sabe, às vezes me sinto como uma flor enterrada na areia, tendo dificuldades para crescer. A semente foi plantada, e regada, sabe-se lá como.

Apesar de tudo, ela cresce, frutifica, torna-se forte, e flexível, como o bambu que não se quebra, mesmo diante da pior tempestade.

No deserto das minhas emoções, querido, encontro-me comigo mesma. Sorrio, choro, luto, sofro ... e procuro aquilo que é meu por direito - a felicidade.

Sei que fui destruida por aqueles a quem tanto amei, mas prometo me reerguer para que o amor volte, puro e sincero, firme e forte.

Como acredito nisso?

Talvez, porque eu seja idealista o bastante, para poder ter certeza de que, lutando por mim, estarei lutando por todos os que me cercam, e por todos os que me querem bem.

Até breve, querido, pois em breve iremos nos encontrar, com certeza.

Com amor.

7.3.10

Mulheres no ministério evangélico: o último refúgio do machismo?

Dia Internacional da Mulher é uma época interessante para, além de homenagear as mulheres de nossas vidas e dar lucros estupendos aos vendedores de rosas, falarmos das conquistas crescentes que o sexo feminino obteve no último século – e uma das mais importantes, sem dúvida, é a idéia .

Entretanto, características do preconceito e do machismo persistem – e muito – na sociedade, e uma delas é das mais fortes e presentes na sociedade: a ordenação feminina aos cargos de comando nas Igrejas em geral.

No caso da Igreja Católica, a discussão é até mais branda pois é permitido às mulheres a consagração como freiras, embora a questão entre os romanistas passe também por outros aspectos, como a permissão para que os padres se casem, por exemplo.

Contudo, o ministério feminino nas Igrejas evangélicas tradicionais é um assunto considerado tabu no contexto protestante, a tal ponto que dizer que mulheres são “iguais aos homens, porém diferentes nas funções sociais” se tornou obrigatório para muitas delas – principalmente entre as denominações reformadas, das quais a Igreja Presbiteriana do Brasil é a maior, e que estão entre mais contrárias a ordenação de mulheres ao comando de uma Igreja.

Sempre que alguém questiona essas questões, costuma rolar um quebra-pau danado entre as diversas tendências (veja aqui um ótimo exemplo), com direito à duas aberrações que só existem no meio evangélico: homens feministas, que defendem a igualdade de funções, e mulheres machistas, que, na prática, dizem que mulher pode fazer de tudo no mundo, mas que, dentro da Igreja, devem ficar em silêncio.

Como “convém, aliás, a uma mulher cristã” (rs … brincadeira …).

De fato, a frase acima foi uma brincadeira, mas que é levada a sério por muitas igrejas por aí, talvez porque seja extremamente cômodo viver sob a tutela da família tradicional, composta por pai, mãe e filhos, e na qual o pai manda, a mãe e os filhos obedecem cegamente e que é celebrada em verso e prosa a cada almoço de domingo depois da Escola Bíblica Dominical.

O problema é que cada vez mais essa família é peça de museu, a tal ponto que nem mesmo aqueles que combatem o ministério feminino conseguem impor em sua casa o comportamento patriarcal que exigem na Igreja – sim, porque a organização das Igrejas é reflexo da organização familiar, que está em constante processo de mudanças e que cada vez mais se afasta desse modelo de “homem manda, mulher obedece”.

E que se reflete no meio espiritual, pois como a mulher pode ser subordinada a um homem na Igreja se não aceita ser “comandada” daquele jeito em sua própria casa?

Para terminar, uma hipótese possível: suponhamos que Dilma Rousseff seja eleita Presidente da República e que vá a um culto de aniversário da IPB - como o dos 150 anos, em que Lula, inclusive, discursou ...

… a Igreja Presbiteriana negaria um lugar no púlpito à uma Presidente do Brasil?

P. S.: Às mulheres do Brasil, parabéns (antecipados) pelo seu dia.

3.3.10

"Somos el mundo", o "We are the World" latino

Esse blog já mostrou por aqui a nova versão de "We Are the World", que está sendo usada para ajudar o Haiti e que mostra o quanto o mundo mudou em 25 anos; comparar a versão antiga com a nova é mais ou menos como comparar o casamento de um pai como o do seu próprio filho - é tudo a mesma coisa, mas o que era moda nos anos 80 não tem nada a ver com o século XXI.


Mas e quando os mesmos autores resolvem fazer uma versão latina da música? Dá num recorde de downloads no iTunes, e numa agradabilíssima surpresa para quem imaginava apenas uma cópia da música.

E cujas vozes dizem tudo - com vocês, "Somos el mundo".




Atualizado às 23:00: o link oficial da música está aqui.

1.3.10

Poesia

porque longe estava?

não estava longe,
nem tanto, não;

apenas não podia
falar como devia;

ou como queria.

porque longe estava?

não estava longe,
nem tanto,
nem tanto.

mas como queria,
como precisava,
como desejava ...

ESCREVER !!!

fps, 27/11/09, 20:56